segunda-feira, 28 de outubro de 2013

ROSTOS NOSSOS (DES)CONHECIDOS




O VERDADEIRO BORDA D'ÁGUA


 Há anos e anos –se calhar, décadas, séculos, sei lá!- que passo por ele ali na Rua da Sofia, quase sempre no mesmo sítio, ora a plastificar documentos ora a vender o Borda D’Água. Tem 60 anos e dá pelo nome de Rui Jorge Pereira Almeida. Desde que saiu da tropa que está ali, junto à Pastelaria Palmeira, na Rua dos Colégios, a plastificar cartões e há cerca de 25 anos que vende o Borda D’Água. Tem noção de que a sua profissão está ameaçada. No tocante aos plastificados, qualquer dia já ninguém passa cartão a ninguém. No referente à popular cartilha do agricultor, se por um lado agora é tudo científico e em grande escala, por outro os romenos, a venderem gato por lebre como quem diz fotocópias, rebentam-lhe com o negócio. “Antigamente vendia 10 exemplares do Borda D’Água por dia, agora menos de cinco. E é quando é! Quando recebo a encomenda da Editorial Minerva –a empresa que edita o pequeno jornal de agricultura- lá vem o apelo para denunciarmos às autoridades qualquer facto anómalo que detectemos. Ai eu é que vou substituir a polícia? Eles não vêem? Se acaso o fizesse quem garantia a minha integridade no caso de haver represálias? Nunca vi a PSP ou outro qualquer ramo de polícia civil preocupar-se com isto. Sinto-me muito prejudicado. É com estas vendas que vivo. Ou melhor sobrevivo, porque os pobres não vivem; convivem arrastando-se por aí. Estou reformado por invalidez e recebo à volta de 250 €. É certo que estou numa casa camarária e pago apenas 5 euros mas, mesmo assim, só posso comer uma refeição de jeito diariamente. Vou almoçar à Liga dos Combatentes e pago 4 €. Ao jantar contento-me com uma sandes porque não dá para mais. O dinheiro não estica.
Não ligo à política. Tanto me faz! Não voto há mais de 30 anos. Estou profundamente desiludido com esta gente que promete tudo e depois desgraça os sem esperança. À minha custa não vão para lá. Não fazem nada por mim! Também é verdade que, pelos menos até agora, nunca me chatearam mas sei lá o dia de amanhã?!?”



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