segunda-feira, 29 de julho de 2013

COIMBRA: POR QUE ME TRAMASTE, CANTANHEDE?



Tudo começa logo à entrada, nas centenas e centenas, senão milhares, de automóveis parados. Depois, à procura de um lugar, constatamos a imensa área disponível para estacionamento. Lá encontramos um lugar e, a penates, seguimos em direcção ao recinto da EXPOFACIC. Afinal foi para isso mesmo que fomos lá. Enquanto caminhamos a pé, mais uma vez, percorremos com o olhar a extensa área destinada a parqueamento de automóveis. Vamos reparando que o chão, nalguns casos de terra batida, está bem cuidado. O seu estado não gera implicância com os nossos sapatos. Continuamos a andar e verificamos que está tudo relativamente bem pensado, até um riacho que corre ao longo do terreno está com resguardos em madeira.
Compramos o bilhete de 3 euros, que, no caso, dará acesso a um concerto de Tony Carreira, e entramos dentro do recinto da feira. É então que, perante tantos standes de venda e aquele molhe humano que, como pedras rolantes, quase se atropela, da nossa boca sai uma imprecação: “C’um raio! De onde é que veio tanta gente?”
Prosseguindo na minha especulação, continuamos a interrogar. Se Cantanhede conseguiu todo este sucesso, por qual a razão de Coimbra, com a sua CIC, Feira Industrial e Comercial, nem por sombras andou lá perto?
E aqui, em vez de interrogações, passamos a dar respostas em forma de constatação.
A feira de Cantanhede é uma realização do seu município. Ou seja, anualmente a autarquia, metendo as mãos na massa, candidata este certame ao QREN, Quadro de Referência Estratégico, e a outros programas de incentivos, e o resultado está à vista.
E em Coimbra o que aconteceu? Aqui, a meu ver, todos temos culpa no empobrecimento da nossa CIC. Como se sabe foi sempre uma realização da ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra –que se, por um lado, nunca largou mão da exclusividade da sua realização, por outro, a Câmara Municipal também nunca se quis envolver activamente. A edilidade limitava-se a contemplar a associação com uma verba à volta de 100 mil euros –foi o último subsídio cabimentado- e nada mais. Ora este “não me toques que me desafinas”, nesta centralização por parte da ACIC e na medida em que a de Cantanhede crescia e a de Coimbra minguava, foi fatal para a nossa Feira Industrial e Comercial.
Depois também na época, na subsequência, aconteceram momentos peculiares e fatídicos. Peculiares, porque os nossos empresários desde que a CIC saiu da Praça Heróis de Ultramar nunca mais acreditaram nesta feira. Conseguir a sua inscrição de participação era mais difícil que ir a Fátima a pé –saliento que o sucesso da CIC até 1978, na praça agora ocupada próximo do Dolce Vita, tinha directamente a ver com o momento que se vivia em Portugal e, sobretudo, por haver meia dúzia de certames no país. Fatídicos, porque as poucas unidades industriais que existiam na cidade foram desaparecendo progressivamente e ficando sem representatividade.
A queda da CIC, no meu entender, não tem rigorosamente nada a ver com a sua deslocalização mas antes pela forte concorrência de outras realizações na zona centro, como Figueira da Foz, Leiria, Batalha, Lousã e Cantanhede, naturalmente.
Quando digo em cima que todos temos culpa, refiro também o cidadão comum, que, habitualmente, não participa muito no que se faz na Lusa Atenas. Num certo ostracismo, prefere ir apreciar o que se edifica nas redondezas. Em resultado do que escrevi até aqui, a CIC está morta e muito bem enterrada. Estando Cantanhede a pouco mais de uma dezena de quilómetros não fará qualquer sentido a cidade dos estudantes ter uma feira, apenas porque tem de parecer concorrente, nem que seja de fantasia, do melhor que se faz à sua volta. Cada vez mais se deve encarar a Região Centro como policêntrica, ainda que com as suas diferenças, mas a convergir para o enriquecimento de todos.
Culpar a ACIC, a Câmara Municipal, culpar os empresários, culpar os visitantes, acho que também será uma perda escusada de recursos. Todos tivemos culpa no cartório. O tempo, no seu caminhar em busca da luz, se encarrega de fazer emergir a verdade. Ponto final e parágrafo.

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