sexta-feira, 28 de junho de 2013

INTERROGAÇÃO DE COMERCIANTE





 À hora do almoço caminhava em passo largo numa destas ruas estreitas. De repente: “psssttt… pssssttt… psssttt!”. Olhei para trás, era uma colega comerciante: “ó senhor….nhem…nhem… Ai, como é que você se chama?”
(Conhece-me há mais de 20 anos, nunca memorizou o meu nome. Aliás, estou convencido que só terá gravado na memória aqueles apelidos que lhe tragam um imediato interesse) Continuou ela: “espere um bocadito. Tenho uma coisa para lhe perguntar. Afinal, você parece ser tão solidário com todos e juntamente com os músicos de rua, que têm canções tão bonitas, tocam sempre nas ruas largas de lá de cima. Porquê? Estas ruas apertadas não merecem ter música?”
Como já conheço a peça de ginjeira, respondi: é assim, penso que sabe, os músicos de rua só ganham se as pessoas colocarem moedas no cesto. O que derem é inteiramente para eles. Eu não ganho nada. Tocamos nas ruas largas simplesmente porque lá passa mais gente. Nestas estreitas, como sabe, infelizmente circulam menos pessoas. Mas podemos remediar isso facilmente, a senhora dá uma nota de 10 euros para eles e nós, na próxima quarta-feira, viemos tocar para a sua porta. Aceita?
Primeiro retraiu-se como se fosse picada por uma vespa, depois contra-atacou: “o quê? Homessa! Porque vou pagar? Eu não sou todo o mundo. Só falei porque você defende tanto estas ruas no que escreve. Acho que deveria olhar mais por nós, não é só escrever….”

1 comentário:

Joana Vargas disse...

Sr. Luís as pessoas verdadeiramente interessadas em ouvir, e repito interessadas em ouvir, certamente sabem que o brilhante sexteto de rua atua quartas e sextas à mesma hora ao cimo da escadaria da igreja de são tiago e no largo da portagem respetivamente, onde quem conhece sabe que por lá passa muita gente.
Aproveito para dizer aos interessados que não passem para deixar uma moeda como se pensassem que fizeram a vossa parte... Parem e ouçam!