quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

UMA SERENATA À MARIAZINHA


 Ontem contei aqui que um grupo de comerciantes da Rua das Padeiras, clientes da maior botica da Baixa, cuja pomada milagrosa, só comparável ao melhor placebo do mundo, trata do corpo e da alma de todos os enfermos desta vida, fizeram uma surpresa à directora técnica, mais conhecida por “Mariazinha”. É claro que a maioria não sabe mas por estas ruelas, becos e largos há muitos invejositos cobiçosos. Vai daí, um gajo do Largo da Freiria, comerciante também, que por acaso conheço mal mas não quero conhecer melhor, que tem a mania que é poeta, escritor, músico, actor e outras aldrabices que lhe alimentam o ego, para não ficar atrás dos vizinhos, hoje de manhã, na companhia de outros loucos como ele, sem ofensa para os ensandecidos, deu em ir fazer uma serenata à aniversariante. Fogo! Estes tipos devem ser mesmos maluquinhos! E se de repente chovessem tachos e panelas arremessados pelo Jacinto, o marido da feiticeira alquimista que compõe as receitas de estalo na Rua do Almoxarife? E se houvesse feridos? Ou mortos, sei lá? O que posso dizer é que a Celeste Correia, que foi a gaiteira que cantou a canção, o Paolo Vasil, o acordeonista, o Luís Cortês, na flauta de beiços, e o fulano da viola, que por acaso até me parece familiar, estou a ver se me relembro do nome dele… mas não sei, não consigo recordar.

Fica aqui então a letra da canção original trauteada em frente à “Tasca da Mariazinha” e que, no poema fala do seu reputado estabelecimento:

HINO À CIDADE PERDIDA

“Olhem, tenham dó”,
gritava a cigana,
“tenho dez filhos e “mi home, entrevadinho”,
está na cama, coitadinho, e não pode trabalhar;
Davam uma moeda,
tinham compaixão,
na outra esquina um ceguinho repetia a lengalenga
trauteada em oração;
No largo em frente
jogavam à moeda,
e entre um copo e uma sardinha na tasca da Mariazinha
se depuravam as mágoas;
ESTA CIDADE JÁ NÃO EXISTE
SÓ NA MEMÓRIA É QUE PERSISTE
O tempo passou
e tudo mudou,
e a minha rua que era luz, agora é triste, tem uma cruz
p’ra lembrar que pereceu;
Já nem um pregão,
um gato a miar,
só o silêncio modorrão invadiu seu coração
e de quem teima em ficar;
ESTA CIDADE NÃO TEM VIVER
JÁ NÃO TEM VIDA, ESTÁ A MORRER




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