sábado, 5 de janeiro de 2013

A BAIXA CADA VEZ MAIS EM BAIXO



 Segundo o Diário de Coimbra (DC) de hoje, em título de primeira página, “Toxicodependentes perderam gabinete de apoio na Baixa”. Em subtítulo “por falta de financiamento, Cáritas de Coimbra encerrou serviço no Terreiro da Erva que mensalmente apoiava 430 utentes e onde trabalhavam nove técnicos.”
Aquilo que se temia aconteceu. O encerramento deste posto de atendimento para a Baixa é de uma gravidade incomensurável. Já em Agosto, do ano passado, Luís Costa, Presidente do Conselho de Administração da Cáritas Diocesana de Coimbra, no DC, afirmava o seguinte: “facilmente poderemos imaginar como seriam as ruas, os cantos da Baixa de Coimbra se coexistissem com 277.613 unidades de seringas usadas”. Acrescentava ainda: “que aquele é o local que faz sentido, porque é ali que estão os consumidores de estupefacientes”. E deixava uma pergunta aos comerciantes: “se a estrutura não existisse ali, seria melhor (para a Baixa)?”.
Nessa altura, em apoio ao presidente da Cáritas local, escrevi um texto para o DC, com o título “A erva e o pó do terreiro”, chamando a atenção para o pensamento recorrente de uma grande maioria de comerciantes que teimavam, e continuam, em culpar aquela estrutura de ajuda às vítimas do tempo hodierno. Como se a Cáritas fosse a causadora de haver tantos toxicodependentes.
Agora, de aqui para a frente, quando assistirmos a pessoas caídas e abandonadas em tudo quanto é canto e seringas provavelmente infectadas pelo chão talvez cada um passe a dar mais valor ao trabalho desenvolvido por aquela instituição. É também muito provável que o crime, nomeadamente assaltos, aumente em flecha. É muito possível que muito em breve os críticos, mudando de posição, comecem a verter lágrimas de crocodilo de saudade pelo gabinete de atendimento. Queriam assim? Pois assim têm. Mas nesta insensibilidade toda –que vindo de uma classe extremamente egoísta até nem admira- como é que fica a Câmara Municipal? Qual é a sua posição no meio disto tudo? Não terá nada a dizer? Em face da gravidade que se adivinha, este problema da falta de financiamento não deveria ter sido elegível e ter sido já discutido no executivo?
Neste princípio de novo ano encerraram nesta zona antiga alguns estabelecimentos, que a seu tempo falarei deles. Nesta altura, nesta zona cada vez mais decrépita e desertificada, acontecer uma coisa destas pode ser uma verdadeira tragédia para quem aqui mora e trabalha. Ou seja, a Baixa está cada vez mais entregue à sua sorte.



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2 comentários:

Carlos disse...

Felizmente, foi apenas um encerramento temporário:

«Cáritas de Coimbra reabre gabinete de apoio a toxicodependentes

A Cáritas Diocesana de Coimbra reabriu hoje o gabinete de apoio a toxicodependentes (GAT) da Baixa de Coimbra, encerrado na sexta-feira, tendo a instituição conseguido uma "solução transitória" de financiamento.
(...)» DN

Anónimo disse...

Pena nem todos os técnicos terem ficado. Se cada vez existem mais utentes a necessitarem dos cuidados e apoio deste tipo de Gabinetes, as novas medidas parecem paradoxais...