domingo, 2 de dezembro de 2012

TOMAR O PULSO À RUA





 Vivemos todos presos a estereótipos, a apriorismos, a frases que apanhamos nos outros e as tomamos como verdadeiras, nossas, sem pensar.
Ontem foi inaugurado o som musical nas ruas da Baixa. Trata-se de uma feliz iniciativa da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, no sentido de tornar as artérias mais alegres, uma vez que, por vários motivos e sobretudo a crise, se encontram tão tristonhas e desertificadas. O que eu não imaginava é que a propagação sonora em todo o quarteirão formado pelo Largo da Portagem, Ferreira Borges, Visconde da Luz, Sofia e demais ruas e becos estreitos, poderia ser fatal para uma actividade: a dos músicos que tocam na via pública. 
Logo a seguir, e ainda ontem, o Paolo Vasil, acordeonista romeno, e o Lourenço Pina, tocador de viola e cantante Cabo-verdiano, ambos músicos da recente formada “Orquestra de músicos de Rua de Coimbra”, vieram ter comigo muito preocupados e a suplicar: “ó senhor Luís, a música nas colunas está muito alta. Assim não podemos tocar. Como é que vamos ganhar a vida? Se o senhor pudesse falar com quem manda nisto para baixar um bocadinho do volume…”. A seguir o Lourenço disse uma coisa que me colocou em choque: “ó senhor Luís, na segunda-feira eu preciso de ganhar 2,50 euros para ir comer à Cozinha Económica. Assim, com o som tão alto, não posso tocar e também não posso comer…”
Sem entrar em grandes tiradas reflexivas, gostava de chamar a atenção para este caso. Este homem, diariamente, aufere na rua o seu sustento. Mais: bastam-lhe dois euros e meio para aguentar esta vida nesta terra tão desgraçada para tantos e prometida para ele. Era bom que todos pensássemos nisto quando nos lamentamos porque não temos isto e aquilo.
Felizmente, falei com o Armindo Gaspar, presidente da APBC, e, numa compreensão digna de louvar, o som foi baixado para o mínimo. Penso que amanhã já todos os músicos de rua, naquelas artérias, estarão mais felizes com um simples gesto de rodar um botão.
São tantas as vezes que pensamos que estas pessoas ganham fortunas diariamente –e acredito que haverá quem ganhe de facto muito- que até nos esquecemos daqueles que pouco auferem. Talvez valha a pena pensar nisto.


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