sábado, 13 de outubro de 2012

NA BAIXA LUTA-SE PARA EVITAR O SEU DEFINHAMENTO


 No próximo dia 17, pelas 21h30, deste mês de Outubro, o Café Santa Cruz, o ícone da esperança desta zona velha e onde a idade é um exemplo de luta pela regeneração, vai iniciar um encontro, com outros que se seguirão, sob a temática “Encontros na Baixa em Coimbra”. Esta iniciativa, numa colaboração da Orquestra Clássica do Centro e aquele reputado estabelecimento de hotelaria, pretende, com regularidade, convidar personalidades marcantes da cidade em diversas áreas de actividade e conhecimento. Segundo Vitor Marques, um dos sócios do café e entusiasta de empurrar a Baixa para a frente, “pretendemos que estes “Encontros” sejam vivos e esclarecedores sobre problemas de interesse desta cidade, naturalmente sempre marcados por uma envolvente musical, procurando proporcionar experiências interessantes e diferentes num ambiente tão próprio e histórico como é o Café Santa Cruz.
Este primeiro encontro terá como convidados João Paulo Craveiro, Laborinho Lúcio e Gonçalo Quadros. A música, sob a égide da Orquestra Clássica do Centro (OCC), estará a cargo do Quarteto de Cordas da OCC e da soprano Ana Barros.

E OS OUTROS ENCONTROS?

O segundo encontro será no dia 26 de Outubro, pelas 18h00. Os convidados especiais, vindos de Bruxelas, serão Filipe e Miguel Raposo.
O terceiro será no dia 14 de Novembro, ainda com convidados a anunciar.

SANTA CRUZ, QUÊ?


“O Café Santa Cruz é uma referência, não só na Baixa, mas em toda a cidade de Coimbra. Situado em plena Praça 8 de Maio, integra todos os roteiros internacionais e é ponto de passagem obrigatório para todos os que visitam a cidade. Desde 1923, altura em que foi fundado, que alimenta a sua mística das 7 às 2 horas da manhã.
O edifício construído de raiz em 1530 para servir de igreja paroquial, conheceu outras funções após a sua dessacralização: um armazém de ferragens, uma esquadra de polícia, armazém de canalizações e até uma estação de bombeiros.
Após muita e demorada controvérsia acerca da instalação de um café-restaurante de estilo neomanuelino, junto da Igreja de Santa Cruz, tudo se resolve com a alteração do projecto da fachada da autoria do arquitecto Jaime Inácio dos Santos.
Em termos formais, o edifício sofreu várias alterações desde a sua fundação, sendo a mais significativa em 1923, quando foi adaptado às funções de café-restaurante.
O edifício está classificado, desde Outubro de 1921, como Monumento Nacional.”

E MAIS? E MAIS?

Também no próximo dia 19, deste Outubro, sexta-feira, pelas 21h00, o Lions Clube de Coimbra, após as férias de Verão, reinicia o seu “ciclo de tertúlias de Outono na Baixa de Coimbra” e sobre o lema “Vamos falar sobre a Coimbra actual”. Depois de passar por vários espaços emblemáticos desta zona de antanho, desta vez, e com o generoso apoio da gerência desta casa, será no Café Santa Cruz. O convidado será António Arnaut e o tema será “Luís Gois –o homem, o poeta, o cantor”. Nesta tertúlia pretende-se, acima de tudo, fazer uma “homenagem singela, através das palavras, da poesia e do canto, a um dos expoentes máximos da Canção de Coimbra, mas também ao médico e cidadão que exaltou e defendeu de forma brilhante, a cidade onde nasceu.
Os artistas convidados para esta sessão serão Carlos Carranca com António Toscano e o Grupo de Fados de Coimbra Pardalitos do Mondego. Intervenção alargada aos participantes.”

E NÃO SE PASSA MAIS NADA NA BAIXA?



Esta zona histórica é como a mulher do meu vizinho. Para ele é um naco velho, para mim, é um pudim flan, um “mulherão” de “cota”. Passando esta metáfora, para a Baixa é o mesmo. Para quem cá está, “é uma miséria, está cada vez pior! Não tem gente a passar nas ruas. Não se vê ninguém. Estamos cada vez mais a cair pelo cano. É muito insegura!”
 Para quem vem de fora esta zona é um espectáculo. Dizem-me amiúde, “tanta gente na rua! Olhe que lá na minha terra não se vê nem metade dos transeuntes que se avistam aqui a passar. Fantástico! Estou impressionado. Comparando com a minha cidade esta zona é muito segura. Não há grandes problemas.”
Vamos a dois exemplos. Há duas semanas, no espaço do desaparecido “Sonhos Selvagens”, na Rua Eduardo Coelho, abriu uma bonita loja de um casal de brasileiros já com alguma idade e que destinaram o espaço para trabalho de duas filhas. Em conversa com o homem, dizia-me ele: “esta zona é uma maravilha, meu amigo. Você tem a certeza de que conhece mesmo o tesouro que tem entre mãos?”
Hoje mesmo, nesta mesma Rua de Eduardo Coelho e com frente para o Largo da Freiria, abriu a sapataria “Veludo Carmin”. Esta loja, espectacularmente bem decorada, é uma aposta em Coimbra de um fabricante de calçado de S. João da Madeira, o senhor Domingos Couto. Dizia-me ele ainda há bocado que apostou aqui nesta cidade porque acredita. É uma urbe viva, fervilha de gente. Está impressionado com todo este movimento. “Bem sei que o momento não é para arriscarmos, mas também é nesta altura que devemos mostrar o que valemos. É ou não é?” –interroga-me em desafio cheio de esperança.

MAS A BAIXA TEM PROCURA DE ESPAÇOS COMERCIAIS?


Pois aqui é que bate. De facto existe uma grande procura. Ainda esta semana uma senhora me perguntou se eu conhecia uma loja para arrendar. Apesar de as rendas serem absolutamente abusivas, a verdade é que a procura excede a oferta. Muitos espaços encerrados continuam porque os seus proprietários ou não lhes querem dar a utilidade para que estão vocacionados ou pedem valores incomportáveis de renda. Já escrevi muito sobre este assunto. É preciso uma lei que crie um mecanismo de limitação de prazo para um estabelecimento poder estar encerrado. Apesar de as autarquias terem, por exemplo, sobrecarregado o IMI, Imposto Municipal sobre Imóveis, até agora não deram resultados práticos. É preciso uma norma que ponha cobro a este abuso de confiança –no sentido de que toda a propriedade deve ser um centro de mais-valia social e, no seu meio, deve contribuir para o desenvolvimento e modernidade de uma cidade.

E TURISMO, A BAIXA TEM?

Fosse lá pela candidatura a Património Mundial da UNESCO ou não, a verdade é que no último ano assiste-se a um aumento exponencial de turismo na cidade. Não tenho valores em percentagem, mas o índice comparativo deve ser muito elevado. Por exemplo, hoje Sábado, verifica-se um afluxo enorme de dezenas ou centenas de espanhóis. O que me parece é que quem por cá ganha a vida, ou tem responsabilidade social, comporta-se como se não tivesse nada a ver com o turismo. Refiro concretamente os comerciantes que às 13h00 encerraram portas e foram à vidinha e pouco quiseram saber se “nuestros hermanos” precisam de comprar um “recuerdo”. As igrejas da Baixa a mesma coisa, por mais que se alerte para que façam parte da sua revitalização, da Diocese, mesmo agora com o novo Bispo, D. Virgílio Antunes, nem um clamor de luz do Espírito Santo.

E A NOITE? COMO É QUE É?


Exceptuando estas alturas de festas académicas –que pelo barulho nas ruas e até excessos até às tantas da matina- esta parte do Centro Histórico não tem pessoas. O Curioso é que se nota um esforço grande por parte dos empresários de hotelaria em chamarem clientes, com fado –quase todas as noites, há Canção de Coimbra no Café Santa Cruz; no “À Capela”, no Largo da Vitória; no “Be fado”, no antigo Saul Morgado, na Rua Adelino Veiga; numa pequena tasca na Rua das Azeiteiras e que abriu recentemente; no “Be Coimbra”, na Rua do Corvo, onde todas as quintas-feiras a magnífica voz cristalina da Inês faz chorar as pedras da calçada; e a “Diligência”, na Rua do Moreno, onde todos os dias se canta fado vadio.
Perante este esforço dos empresários creio que a autarquia, em parceria com a hotelaria e comércio, através de medidas de discriminação positiva, deveria envolver-se num projecto para alterar este situacionismo decadente e que, se não houver cuidado, vai fazer desistir os resistentes.

E O LIXO? COMO É QUE É?



A maioria de residentes e comerciantes continuam a tratar a Baixa como uma reles prostituta. Servem-se dela para os seus interesses e, quando cessa o que lhes convém, abandonam-na à sua sorte. Hoje, Sábado, cerca das 14h00, na Rua do Corvo, junto à Praça 8 de Maio, podia ver-se um enorme monte de caixas de papelão. Também na Rua Eduardo Coelho a essa mesma hora os sacos estavam espalhados ao longo da artéria. Provavelmente, na Rua do Corvo, um lojista próximo, como se tivesse encerrado às 13h00, não esteve com meias medidas: colocou os seus excedentes na calçada. Pouco lhe importou que ao lado esteja um restaurante aberto, ou uma bonita loja que também vende produtos alimentares, a “Coisas e Sabores”. Para este comerciante que colocou os dejectos na rua a Baixa só lhe pertence no horário comercial. Depois de encerrar as portas quem cá ficar que se lixe.
Se estas pessoas não têm respeito por ninguém é preciso ensiná-los, não? A quem cabe esta responsabilidade? A Polícia Municipal não deveria interferir? A Junta de freguesia de São Bartolomeu não deveria sensibilizar os moradores, um a um?

E A INSEGURANÇA? A BAIXA É SEGURA?

Tenho um colega comerciante que afirma que há um movimento em marcha, constituído por jornalistas à cabeça, apostado em denegrir a Baixa e mostrar que é muito insegura. Desde sempre rebati este argumento. Sempre achei, e sempre lhe disse, que jornalistas e comerciantes estão em campos opostos. Os primeiros, os jornalistas, desde que façam um trabalho sério em notícia não se lhes podem apontar nada. Estes profissionais de informação vivem da notícia. Os segundos, os comerciantes, naturalmente que apostam na sonegação de anúncios de ocorrências delituosas, que, em princípio, podem afastar clientes. Mas está de ver que não pode ser assim. Há apenas que respeitar o labor de cada uma das partes. O problema começa quando este trabalho não é sério. Vou exemplificar com um caso, há poucas semanas, em que levei nas “trombas” na minha argumentação. Vou contar.
No dia da última “noite branca”, promovida pela APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, andou por aqui uma jornalista do “Correio da Manhã” a entrevistar pessoas sobre a segurança na cidade. Eu fui um dos visados em depoimento. Como tenho acompanhado de perto este eclodir de violência sobre pessoas e bens, e tenho tudo documentado aqui no blogue, contei-lhe o que aconteceu entre 2007 e 2008, em que chegaram a ser várias estabelecimentos assaltados na mesma noite, e em que um grupo de comerciantes foi à edilidade exigir medidas de prevenção e daí, talvez por influência, viria a surgir a implantação das 17 câmaras de videovigilância -12 com recurso a gravação e 5 apenas para controlo de tráfego. Disse-lhe também que nessa altura entre 2007 e 2008, aquando do pico máximo de atentados contra a propriedade, fui assaltado três vezes. Tive o cuidado, e sublinhei, de lhe dizer que após a implantação da videovigilância as ocorrências caíram a pique. E que a Baixa, salvo pequenos casos pontuais, actualmente é muito segura. Embora tivesse havido casos ocasionais, como os assaltos à Ourivesaria Costa, perfumaria Balvera e perfumaria Pétala. Disse também que a localização das máquinas de captação de imagens, provavelmente, não estará implantada nos melhores locais, até porque só visionam as entradas e não o interior do miolo da Baixa. Foi uma conversa de mais de 15 minutos. Ora o que veio publicado no “Correio da Manhã”, do dia 5 deste mês de Outubro, com assinatura de Paula Gonçalves? Com o título “Mapa do crime Coimbra”, vinha um trabalho com números estatísticos nos diversos pontos da cidade e com argumentos de várias pessoas. No tocante às minhas declarações, dizia apenas isto: “Fui assaltado três vezes. A situação melhorou com a instalação na Baixa de videovigilância, em 2009. Mas o sistema perde eficácia porque as câmaras só estão instaladas em locais periféricos.”
Ora, para mim que também escrevo todos os dias, afirmo que ao serem publicadas apenas declarações cirúrgicas, sem o envolvimento que lhe deu forma, deturpa completamente o contexto. Ou seja, para melhor se entender, a jornalista ao escrever que fui assaltado três vezes, sem apresentar o tempo dessas ocorrências –foi em 2007 e 2008-, está a faltar à verdade a que está obrigada pelo seu código deontológico. Isto porque escrever apenas que fui assaltado sem dizer quando deixa o leitor na ideia de que foi recentemente, quando não é verdade. Para mim, que escrevo, embora não sendo jornalista mas sei como fazer o tratamento das palavras ditas em depoimento, chamo a isto, a este mau trabalho, processo de intenção. Acontece assim quando alguém já com um pensamento formado “a priori”, com uma intenção interesseira, apenas retira de uma entrevista o que lhe convém e vem de encontro ao que tinha antecipadamente pré-formado.
Em resumo, é preciso que todos sejamos sérios na descrição de factos. Por exemplo, mesmo até aqui em blogues, só porque se constou que houve um assalto de esticão na “rua do volta atrás” não se pode escrever sem saber o que aconteceu. É preciso o LEAD da notícia: "onde", "quando" e "quem". Por outras palavras, onde aconteceu, quando aconteceu –cá está a data precisa no tempo- e a quem aconteceu. Quem é a pessoa? A sua identidade? Se não houver identidade da vítima, obrigatoriamente terá de haver de alguém que viu a ocorrência. Sem este facto não pode haver notícia. É um boato. E um blogue ao dar-lhe repercussão está a fazer um mau serviço público, no sentido em que está a ampliar um “diz que disse” que pode nem sequer existir. Todos somos mensageiros. Do bem e do mal. Não há mal nenhum em ser de um ou do outro, desde que sejamos sérios. Todos ficamos a ganhar.

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