quarta-feira, 3 de outubro de 2012

LEIA O DESPERTAR



LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Para além  do texto "A ACIC VIROU ASSOCIAÇÃO VINÍCOLA?", deixo também as crónicas "ROSTOS NOSSOS DESCONHECIDOS - O IRAQUIANO"; "COIMBRA MUNDIAL É NOSSA! DE TODOS!"; e "REFLEXÃO: AS MONTRAS DA DISCÓRDIA".


A ACIC VIROU ASSOCIAÇÃO VINÍCOLA?

 S egundo o Diário de Coimbra (DC) do último domingo, em título de primeira página, “ACIC premeia os melhores vinhos –concurso nacional”. No interior do jornal, em subtítulo, “Entregues 12 medalhas de ouro e 17 de prata a produtores de todo o país.”
Continuando a citar o matutino, “mais de uma centena de vinhos de todo o país esteve este ano a lutar por uma medalha no Concurso de Vinhos ACIC – Cidade de Coimbra. Ontem, na Escola de Hotelaria e turismo de Coimbra, foram conhecidos os vencedores e entregues os galardões: 12 medalhas de ouro e 17 de prata. (…) Às vezes a preocupação sobrepõe-se ao interesse, afirmou Luís Teixeira, da ACIC, para demonstrar que os produtores estão a preocupar-se muito em escoar o seu produto e menos em dá-lo a conhecer, quando a promoção e a publicidade são instrumentos importantes para o sucesso dos vinhos. (…) O presidente da ACIC, Paulo Mendes, também salientou as dificuldades económicas para sublinhar que a retoma de um país tem de ser feita “baseada nas suas capacidades produtivas” e o vinho é uma delas.”
Para quem não souber a ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra, é uma instituição consagrada com a Declaração de Entidade de Interesse Público e o seu objeto, tal como o logótipo enuncia, é representar e defender os interesses dos seus associados constituídos na sua essência por industriais e comerciantes. Acontece que, não olhando mais para trás e pelo menos, nos últimos dois anos e já depois das últimas eleições em novembro de 2010, nem uma voz saiu em defesa do pequeno comércio da sua sede, na Avenida Sá da Bandeira. Mais ainda, depois de serem públicas as dificuldades financeiras desta vetusta associação e de um colaborador ameaçar suicídio por falta de pagamento salarial, veio a atual direção a rescindir com vários funcionários e comprometendo-se a pagar mensalmente e em data certa as indemnizações acordadas. Segundo as declarações de um destes membros, agora passado para o quadro de desempregado, e que pediu o anonimato, “a direção da ACIC não tem vergonha na cara. Deixam muito a desejar como pessoas de bem. Não tem o mínimo de preocupação com os seus ex-funcionários. Eu e mais alguns, este mês, não recebemos o que tínhamos direito no prazo acordado. E, sendo assim, então andam a fazer jantaradas e a atribuir medalhas? Isto é um ato de uma insensibilidade total. Ou melhor, é um despautério!”


ROSTOS NOSSOS DESCONHECIDOS

“O IRAQUIANO”

 Já tantas vezes nos cruzámos com ele nesta zona histórica que até pensamos que este homem, passageiro diário das pedras da calçada já calcorreada por milhões, faz parte do edificado histórico. Escrevo sobre o nosso mais internacional residente: Faisal Abadi.
Nasceu em Bagdad, no Iraque, há 54 anos, em 1958. A sua história, bem explorada, dava um romance extenso e intrincado. Nascido numa família da classe média do país ditatorial do xá Reza Pahlevi, deposto em 1979 pela revolução iraniana chefiada pelo Aitolá Khomeini, de mãe doméstica e pai funcionário público, pela imposição do regime, o futuro de Faisal estava escrito nas amenas areias do deserto mas contrariado pelos ventos ciclópicos. Quando terminou o 9º ano de escolaridade queria estudar música mas o sistema não deixou; acabou o 12º ano e optou por literatura inglesa mas o seu caminho vocacional foi truncado. Um docente da sua escola queria obrigá-lo a seguir outro rumo, colocando-lhe um documento para ratificar, mas Abadi, teimoso como um camelo, não assinou. 


Seu pai, perante a sua rebeldia, compreendendo a sua motivação de seguir as estrelas, aconselhou-o a fugir do país para, mais tarde, não vir a ser condenado à morte. Em 1980, no clamor da revolução, com visto turístico, seguiu para Itália, onde tinha um irmão a estudar. Durante três anos esteve nesta península Itálica clandestinamente. A seguir seguiu para a Suíça. Na fronteira foi apanhado com o visto caducado. Como tinha conhecimento da Convenção de Genebra, pediu asilo político. Foi-lhe concedido e por lá ficou até 1988. Perdeu-se de amores por uma portuguesa, que também estava ilegal no país dos Alpes, e nasceu o primeiro filho. As autoridades helvéticas descobriram e expulsaram a mulher. Vieram os três recambiados para Bragança, no Norte de Portugal. Em 1994, já então com dois filhos, divorciaram-se. Tentando fugir a um passado recente de memória lancinante, entrou num autocarro e, colocando-se nas mãos do destino, desembarcou em Coimbra. Nestes entrementes, já passou pela Holanda, mas a Lusa Atenas é o amor do seu coração. Assume que está apaixonado pela urbe. Não a trocava pela maior riqueza do planeta. Aqui, nesta terra pacífica e de sonho, quer acabar os seus dias. Por cá já trabalhou na hotelaria e foi “pau para toda a colher”. Neste momento está desempregado, mas o seu rosto sereno diz-nos que não há problema. Vive um dia de cada vez. Não recebe nada do Estado, faz uns biscates, toca, canta e encanta com a sua simpatia nas ruas da Baixa. Fora disso, ainda é voluntário no Banco Alimentar contra a Fome. O futuro não lhe mete medo. Dá graças a Deus por estar vivo. Não pensa voltar ao Iraque. Já nada o liga ao Médio Oriente. O seu maior sonho é haver concórdia no mundo inteiro. Despede-se de mim com um efusivo abraço e a recomendação: “Muita paz, meu irmão!”

P.S.-Quem estiver com atenção ao texto verifica uma troca entre o Irão e o Iraque. Coisas de quem escreve a correr e confia na memória. As minhas desculpas ao Faisal.


COIMBRA MUNDIAL É NOSSA! DE TODOS!

 Como tem sido amplamente divulgado nos jornais locais, está a decorrer a candidatura da Alta, com a Universidade, e da Baixa, com a Rua da Sofia, a Património Mundial da UNESCO.
Porém, seja por a imprensa escrita em papel ocupar cada vez menos os nossos hábitos diários ou por um certo alheamento dos munícipes sobre as questões fulcrais da cidade, a verdade é que esta candidatura, fundamental para o turismo, está a passar ao lado do cidadão comum. É certo que, salvo excepções pontuais, a urbe nunca se uniu em torno de projetos importantes e fundamentais para o seu desenvolvimento, mas, de qualquer modo, é inexplicável este distanciamento. É como se cada um, embrenhado nas suas preocupações e esquecendo que todos vivemos imbricados uns nos outros, estivesse apenas focado no seu quintal. No entanto, se acaso surgir uma qualquer celeuma de “lana-caprina”, uma minudência que não interessa ao Menino Jesus, lá saltam as “nozes e as vozes”, de espada em riste e artilharia pesada pronta a sangrar o primeiro que se atravesse, a darem opinião e a clamarem pela sua razão universal.
E comecei a escrever esta crónica, porque, segundo me confidenciaram, na quinta-feira da semana passada, na sede da Junta de Freguesia de Almedina, realizou-se uma reunião entre um observador da UNESCO e várias entidades públicas ligadas ao futuro da Lusa Atenas. Estaria de ver que perante o examinador do património mundial todos deveriam cerrar fileiras em torno da conveniência comum. Ora, ao que parece, até pessoas com responsabilidade representativa eleitoral em vez de se unirem em torno da polis trataram de lavar “roupa suja” de combate político perante o visitante estrangeiro. Perante esta manifestação individualista e tão peculiar, está para se saber o que teria pensado o mensageiro da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura.
Com tão belos exemplos, será de admirar que o cidadão comum assobie para o lado contrário da nomeação planetária?



REFLEXÃO: AS MONTRAS DA DISCÓRDIA

 Como é público, pela APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra e pela Associação Ruas, Recriar a Universidade, Alta e Sofia e a Universidade de Coimbra, e sob o mote “A Universidade vai à Baixa”, em parceria, foi promovido um concurso de montras na Baixa, O primeiro prémio era de 1000 euros para o primeiro classificado e o segundo, a dividir por duas menções honrosas, de 500 euros para cada um. Repito que se tratou de uma iniciativa da Universidade e no sentido claro de reanimar o centro comercial e levantar a autoestima dos comerciantes.
Por um júri composto por cinco elementos, e em que apenas um pertencia à APBC, foi decidido atribuir o 1º prémio à Pastelaria Briosa, no Largo da Portagem, e os segundos à Óptica Fernandes e à Casa dos Enxovais, estas, ambas, na Rua Visconde da Luz. Caiu o Carmo e a Trindade na pacatez bucólica deste bairro comercial. Ou seja, o que se pretendia ser uma brincadeira lúdica, para alguns, veio a transformar-se num “complot” viciado à partida. Para piorar, este jornal, O Despertar da semana passada, ao escrever sobre o concurso, num puro acaso, trazia a fotografia da Briosa. Pronto!, ali estava a prova provada de que os prémios tinham sido cozinhados em “panelinha”. Até o jornal já sabia antecipadamente.


Gostaria de salientar que as manifestações de desacordo são legítimas, colocar em dúvida a isenção do júri é má-fé. Bem sei que andamos todos enervados com o clima de insegurança e suspeição que nos envolve, mas, que diabo!, não podemos perder a compostura. É preciso relativizar. Não podemos passar do essencial para o acessório. Vamos lá todos a apertar as mãos e a apresentar os parabéns aos vencedores, sim?! E, sem esquecer, uma grande salva de palmas para os organizadores e para todos os participantes.



Sem comentários: