sábado, 21 de julho de 2012

O JAZZ NA PRAÇA, VISTO PELA ROSETE "SEMPRE EM CIMA"


 Já há muito tempo que não escrevo uma peça jornalística. Quando andava enrolada com o director do blogue, o Luís Fernandes –não devem conhecer, e ainda bem para vós, que o gajo não interessa nem ao menino Jesus-, havia sempre serviço de exterior. Muitos de vocês não sabem, mas, mal acabei a faculdade, fui estagiar lá para a redacção. Era mais que certo aquilo não ser grande coisa, mas está tudo tão difícil, que não fui de modos e aceitei. Quer dizer, é melhor confessar já, quando vi o gajo, houve qualquer coisa que me tocou, sei lá, senti-me estremecer. Foi uma atracção imediata. Sei lá, foi assim como se eu conhecesse o tipo de outra vida passada. Corei tanto que, agora mesmo, há distância de 5 anos, ainda sinto as minhas faces ruborizadas e as pernas a tremer. Ainda hoje me pergunto o que vi naquele “cinco mil reis de gente”? De meia-idade, uma barriga mais saliente do que devia, baixote e de cabelos brancos. Meu Deus, eu devia estar completamente “passada dos carretos”. Bom, por este passar do tempo, não é bem assim. Por um lado eu era virgem –lá na Faculdade tive vários candidatos a tentarem agriculturar o meu corpo. É certo que até apalpavam a fruta e queriam comê-la, está de ver, mas não me inspiravam confiança. Eram jovens agricultores sem experiência de hortícola. Eu queria alguém com traquejo, que tivesse a alma calejada pelas estrias do tempo. Talvez por isso nunca alinhasse com putos. Bem, tenho que confessar: sempre gostei de homens mais velhos. Dizia o Sigmund, (Freud) lá nas suas teorias psicanalíticas, que esta inclinação é uma projecção fixada no pai. E, conhecendo-me, tenho de confessar que o raio do homem sabia do que escrevia, é verdade sim.
Então, mal entrei lá para o blogue, através dos olhares lascivos do malandro, senti-me um animal selvagem preso numa reserva de caça. Sabia que se pretendesse fugir, que nem era o caso, bastava o captor estender o braço. Escusado será dizer que passado menos de trinta dias já misturávamos os nossos suores num caldinho de emoções. Ai!, e se eu gostava! É certo que me sentia uma marafona, com toda a sua carga de estigma associado, mas eu queria lá saber? Uma miúda com vinte e poucos anos quer é gozar o dia, no “carpe diem”, como sói dizer-se. Epicuro é o seu Sol redentor. Aquele homem, para mim, era um mestre nas artes do amor. Ele lia a minha alma como se eu fosse um livro aberto. Tantas vezes me levou a ver o mar. Dentro do carro, em frente ao imenso oceano azul, agarradinhos um no outro, beijávamo-nos sofregamente como se não houvesse amanhã. Outras vezes, sem que eu contasse, oferecia-me uma rosa vermelha. Ainda hoje me pergunto como é que este “malaqueco” conhecia tão bem a alma feminina! Se calhar, sei lá, em outra vida, teria sido mulher! Só pode mesmo ser assim. Nenhum homem normal tem tamanha sensibilidade. Outras vezes, sem que eu esperasse, compunha-me um poema e, como se espalhasse sementes ao vento, polvilhava-me com aquelas rimas soltas em doçura de amor. E eu, como iceberg sobre intensa canícula, derretia-me toda. Ai, meu Deus! Eu estava apanhadinha. Só tinha olhos para o estafermo. Quantos olhares de homens carecentes de amor me lançavam na rua e eu renegava? Bem, modéstia à parte eu era –e ainda sou- o mais nobre exemplar de beleza criada pela natureza. Não me venham falar em artistas de cinema. Elas, ao pé de mim, são assim apenas uma sombra passageira de um modelo ultrapassado.
Só para ficarem com uma ideia. Tenho 1,70 de altura, cabelos negros caídos pelos ombros, azeviche, em retrato de cigana. Um rosto amendoado, com duas maçãs não muito salientes mas que apetece acariciar com as costas de uma mão. Dois olhos negros, com meio brilho, alternado umas vezes em longos solilóquios introspectivos, outras vezes numa esfusiante alegria. Tenho um nariz aquilino, pequenino, como se fosse obra de um barrista renascentista. Como se fosse pouco, um pequeno sinal negro, como marco vinculativo, divide toda a minha expressão facial. O meu pescoço é longo, tão longo, que parece convidar os homens a torná-lo mais curto em carícias manuais e compridos relampejos linguísticos. O meu tronco é modelado em curvilíneos desfiladeiros suaves. Dois montes, erectos, provocantes ao olhar masculino, saltam à vista –claro que faço por isso nos meus longos decotes generosos. A minha cintura é de 36. O andar inferior –como quem diz, creio ser até superior, porque todos os homens querem descer à terra-, do meu corpo, é um paraíso ambulante, uma libelinha que flutua esvoaçante a cortar o vento. Tenho duas coxas roliças suportadas por duas pernas lindas, nem muito magras, nem muito cheias, que parecem ter saído do pincel de Miguel Ângelo, num intervalo, a decorar a capela Sistina. Sou assim uma espécie de divindade mitológica materializada. No fundo deste monumento afrodisíaco, dois pés pequeninos são a glória de toda esta heroicidade carnal.
Já vêem então como nem foi muito difícil eu assentar praça, em estágio, cá no blogue. Mas se é verdade que os primeiros tempos foram de encantamento, a verdade é que, mutuamente, com o correr dos dias, aquelas linhas fluídicas foram lentamente caindo, não de velhice mas sim de cansaço. É certo que eu também já tinha o estágio feito. A partir de ali, estava pronta para um embate frontal de um qualquer amor estranho e impossível. Tinha a rodagem feita e pronta a lançar-me à estrada. Já não tinha mais nada a aprender. Embora já estivesse farta de comer sempre a mesma fruta, ele parecia continuar a gostar. Gostar… gostar não é bem o termo. Quem conhece os homens, como eu, sabe muito bem que, para eles, uma relação se divide em paixão, amor, saturação e posse. E quando chega a esta fase já é o tudo ou nada para não perder a propriedade. Mas eu não estava nessa. Isso é que era bom! Resultado, aos poucos, como um barquinho de papel que colocamos nas águas de um rio em direcção ao mar, fomo-nos afastando progressivamente.
Por tudo isto estranhei, ontem, o mastronço ter-me ligado para ir fazer a reportagem do “Jazz na Praça”. Palavra de honra, se não fosse este “bichinho” que me corrói as entranhas –gosto de escrever, o jornalismo é a minha paixão- eu queria lá saber daquilo? Até porque, monetariamente, isto não dá dinheiro. A imprensa arrasta-se pelas ruas da lama e amargura. Deixei de exercer esta minha antiga profissão. Agora sou empresária em nome individual. Dedico-me ao “escort”. É uma maravilha. Quando toda a gente se queixa da crise… eu não tenho mãos a medir…e corpo, é claro! E mais, só trabalho para o mercado interno, que está como se sabe?! Mas tenho bons clientes, e fidelizados. Querem é, de facto, um atendimento personalizado. Isso já sei! Quando estou com eles não me posso virar para mais ninguém. Mas sou bem paga. Lá isso sou!
Voltando ao “Jazz na Praça”, porque a conversa é como as cerejas, uma pessoa começa na primeira e nunca mais acaba, aquilo até estava animado. Bem sei que o Carlos Clemente, o presidente da junta de Freguesia de São Bartolomeu, esperava mais pessoas. Na apresentação de “A Sítio de Sons”, com a excepcional voz de Joana Espadinha, estiveram cerca de uma centena de pessoas. O chato daquilo foi na primeira fila estarem cerca de uma dúzia de cadeiras reservadas aos VIP, certamente a vereadora da Cultura, da Câmara Municipal, Maria José Azevedo, e, se calhar, ao director do blogue, Luís Fernandes, e ninguém lá pôs os pés. Bolas, é chato! E também há uma coisa: há mesma hora, a cerca de 80 metros em linha recta, nas Escadas do Quebra Costas, estava também a decorrer um espectáculo de Jazz, promovido sobre o lema “Jazz @Quebra”, que é semanal.
Digam-me lá? Como é que se continua a fazer animação na Baixa sem qualquer planeamento. Admite-se isto? Ora bem, só posso entender pelo facto de a vereadora da Cultura não ter assessores à altura. Pode ser isso. É ou não é? Se fosse esse o caso, juro pela minha mãezinha, para ajudar, e imbuída em espírito de entrega ao serviço público, eu até interrompia o meu trabalho –que também é de assistência aos mais necessitados. É bom não esquecer.

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