quinta-feira, 28 de junho de 2012

UMA AMABILIDADE DO PAULO MARQUES



O Paulo Marques, repórter coordenador do Diário as Beiras, é um bom amigo. Só por esta ligação afectiva de décadas, pelo exagero, posso entender que me considere "filósofo e cidadão activo". O meu muito obrigado ao Paulo. Passando a vaidade, o meu ego agradece.


O ARTIGO ESCRITO POR PAULO MARQUES, NA EDIÇÃO DE HOJE, NO DIÁRIO AS BEIRAS:

"Morreu um dos últimos “figurões” da cidade. Morreu Adelino Paixão. Figura típica, um dos últimos   “ r e s i s t e n t e s ”   dos “figurões” que marcaram a cidade  nas  décadas  de   setenta e oitenta. Adelino foi ontem, por volta das cinco da manhã, encontrado já cadáver, ali ao pé do Banco de Portugal. Não sobreviveu à decadência física e psíquica que há muito evidenciava.
H o m e m   d e   c o m p a n h i a , Adelino  viveu  largos  anos um   ta n t o   ofuscado   pelo porte agressivo – aristocrático, mesmo –, de um outro figurão, a cujo nome próprio apenas se associam o de Pedro. Morto este, que se dizia herdeiro de um hotel em Lisboa, Adelino viria a encontrar Júlia, com quem se repetiu o desequilíbrio de caráter:  ela altiva, ele submisso e simples. Dava nas vistas, portanto, a parelha Adelino Paixão e Júlia Madeira. Na baixa, um dos olhares mais atentos é o de Luís Quintans, comerciante, filósofo e cidadão ativo, que assim os descreve, no seu blogue, “Questões nacionais”: “Ambos têm um ligeiro desequilíbrio psíquico, embora nele seja mais patente, apesar disso, ambos, têm o seu quê de mistério e de encantamento. Ele, o Adelino, completamente despreocupado com a forma como se apresenta. Desde que lhe caia uma moeda nas mãos, não interessa de quem venha, e mesmo que trate qualquer burro, como eu, por doutor”.
À Júlia – cujo internamento, recente, terá contribuído para o definhamento irreversível da saúde e da vida de Adelino –, Luís Quintans reconhece orgulho e preconceitos: “É uma senhora, está de ver. Ela aceita, mas não é de qualquer um. Só de quem conhece! Não é a primeira vez que, sendo acometida dos “azeites”, se vira para o interlocutor e interroga: “olhe lá, você pensa que está a falar com quem? Eu sou uma funcionária pública de saúde. Está a ouvir?!”.
O Calhabé e a Solum eram outros dos poisos do Adelino. Dantes, muito mais, quando o Pedro ditava regras. Lá andavam,   “ altas   horas   da madrugada, aos gritos, um a fugir do outro, depois o outro a fugir do um”, recorda  Jorge Peliteiro, no seu blogue “Impressões de um boticário de província”.
Morreu o Adelino. Algures, o Pedro – e também o Tatonas e o Taxeira e outros – gostarão de ter mais um para a saudade do nonsense coimbrão."
Paulo Marques
paulo.marques@asbeiras.pt

3 comentários:

Conversas... disse...

Lamento, como outros(as), a morte destas figuras tão conhecidas na "nossa" cidade. Gente igual a nós, que nasceu como nós, que cresceu... e por força do "destino?" teve outro destino de vida, mas na morte voltamos todos a ser iguais. Acredito que noutra dimensão também haverá mais igualdade e justiça, e nesta esperança, desejo luz e paz a estes "Irmãos".

Pedro Santos disse...

Sábias palavras caro comentador do blog, subscrevo-as inteiramente: pelas vicissitudes da vida, destino e também devido à sociedade cada vez mais desigual leva a este tipo de situações.
A pessoa em questão já nao se encontra entre nós; Que descanse em paz é o que peço.
Cumprimentos Pedro Santos

pedro santos disse...

Sábias palavras caro comentador do blog, subscrevo-as inteiramente: pelas vicissitudes da vida, destino e também devido à sociedade cada vez mais desigual leva a este tipo de situações.
Mas a pessoa em questão já nao se encontra entre nós; Que descanse em paz é o que peço.