sábado, 2 de junho de 2012

ROSTOS NOSSOS (DES)CONHECIDOS



ROSTOS NOSSOS (DES)CONHECIDOS

“A DIVA”


 Já passámos ao seu lado milhentas vezes nestas ruas estreitas e empedradas, calcorreadas por poetas, escritores, artistas e simples anónimos como nós. Normalmente faz-se acompanhar com dois cães. Escrevo sobre a senhora Odete Pinto. A sua idade é um mistério perdido nos labirintos da vida. “Setenta e tal”, sem me dizer ao certo, porque, afinal, é uma falta de respeito querer saber a idade de uma dama. Nasceu ali para os lados dos campos arados de Arazede, onde, por lá, fazendo um pouco de tudo na agricultura, transpirou a estopinhas.
Migrou para a cidade onde, por cá, já fez de tudo um pouco. Há cerca 30 anos –“quando ainda era boa como milho”, diz-me- encontrou o amor da sua vida e seu actual marido, que é 25 anos mais novo. “Ficou caidinho por mim e quis casar logo. Nem me deu tempo para pensar”, enfatiza. “Hoje sou feliz mais ou menos. O problema é quando ele se mete nos copos. Arruma carros lá em cima junto ao IPO. Com um “grão na asa” trata-me menos bem. Às vezes até lhe digo: ó Fernando, “carago”, se não cuidas de mim, ao menos pensa nos nossos dois cães!”, confidencia. Recebe de reforma 369 euros. Vivem todos numa casa velhinha, ali para os lados da Conchada, onde paga de renda 13,50 euros, mas a senhoria é uma boa pessoa. “Vai para o céu”, tem a certeza.

Sem comentários: