segunda-feira, 4 de junho de 2012

O (DES)VALOR DE UM SORRISO

“Porque será que eu sempre desconfiei de gente muito simpática e que se ri muito?”

 Pegando nesta pergunta feita amiúde vezes, como já sou velho e pegando na minha própria experiência de vida, gostaria de explanar alguma reflexão.
Se é certo que a simpatia, projectada no sorriso, sempre foi a arma simples dos vigários –entenda-se vigaristas, porque é o recurso que, sem grandes custos, têm mais à mão e de maior eficiência perante o burlado-, não é menos certo que a maioria –se posso quantificar- emprega esta afeição de proximidade como expediente, como meio fácil de chegar ao receptor. E funciona, poderemos interrogar? Funciona mesmo. De tal modo que, por vezes, um simples sorriso desbloqueia uma situação aparentemente blindada –e aqui não posso deixar de contar um princípio que, desde pequenos, tentei que os meus filhos gravassem a fogo na mente: “a simpatia, paradigmatizada na humildade de um sorriso, é a chave universal do mundo. Abre todas as fechaduras, mesmo aquelas mais impenetráveis e sem ranhura.”
Continuando, poderemos interrogar, mas se assim é, porque não somos todos simpáticos e não distribuímos alegria a quem nos interpela? Porque, contrariamente ao que deveria, o sorriso, por vezes, é mal-entendido e fragiliza, subalternizando, o outro. Depende dos casos, mas pode funcionar perante o opositor como efeito de gás-pimenta. Se for expressado de forma eloquente, convicto e seguro, vulnerabiliza. Quantos de nós já não sentimos essa estranha sensação que nos provoca aquela firmeza indescritível? De tal modo que, perante um sorriso rasgado de alguém que não conhecemos, tantas vezes em apriorismo, leva-nos imediatamente à desconfiança.
Sem qualquer base que me sirva de sustentação, tenho para mim que quem sorri é mais inteligente do que o comum. E não escrevo isto por acaso. Se o sorriso é uma arma de fácil utilização, e com resultados garantidos, só alguns, certamente os que pensam, se apercebem de um instrumento simples, barato, e de eficácia garantida. Por isto mesmo, recorrem ao rasgar o rosto com absoluta facilidade. Mais ainda, tenho para mim que quem sorri mais, não é o paradigma da felicidade, antes pelo contrário. Normalmente, por dentro destas pessoas, lá no fundo da alma, há uma angústia inexplicável. Mas então, poderemos perguntar, se assim é, como é que estes indivíduos conseguem sorrir com tanta facilidade? Por um lado, porque é uma forma, uma máscara, de camuflar a sua própria tristeza; por outro, neste sorrir, está a impregnação materializada de uma certa carência de afecto e, ao mesmo tempo, ao rir, faz incidir sobre si mesmo a atenção e, como bateria descarregada, alimenta-se da sensação de bem-estar que cria à sua volta; por outro lado, ainda, quem sofre torna-se mais sensível. Sabe e sente o valor de uma alegria e, talvez por isto mesmo, quase sem o sentir, torna-se mais simpático do que o comum.
Em resumo, deixo duas perguntas:
-Porque será que os bebés sorriem de forma cristalina com uma facilidade excepcional?
-Já adultas, as pessoas, naturalmente, tornam-se introspectivas e tristes, porquê?

1 comentário:

campotreinoabc disse...

Sempre que sinto nascer em mim um sorriso, sinto-me também encher de bem estar, e em ciclo, esse enchimento fortalece o sorrir, que fortalece o bem estar.
Se o verdadeiro sorriso vem de dentro de nós, acredito que sim, estou certa de que nasce porque algo exterior se reflete no nosso interior. Nesse momento terno, cómico, sedutor, ou nessa simples presença cheia de memórias felizes, um sorriso, nasce de amor!