sexta-feira, 29 de junho de 2012

BAIXA: SANGUE NA MOEDA



 Ontem, cerca das 23h30, na Rua da Moeda, um homem foi assassinado à navalhada. A vítima era muito conhecida e frequentadora da Baixa. José Dias, de alcunha o “garrafão”, tinha 41 anos de idade. Segundo informações dispersas, “era um bom rapaz, não fazia mal a ninguém. Trabalhou na construção civil e ultimamente dedicava-se a fazer pequenas carocas.”
Segundo a única pessoa que consegui que e desse a cara, Dulce da Silva Conceição, moradora na Rua da Moeda, no 2º andar do prédio ao lado onde tudo aconteceu, conta-me: “eram para aí 23h30, mais ou menos, quando ouvi um grande barulho. Vim à janela e então vi dois grupos de pessoas, sei lá, com mais de meia-dúzia de sujeitos, a arremessarem pedras uns aos outros. Um dos grupos estava ao fundo da rua, onde era o antigo Armazém Amizade e outro estava a meio. Cada um deles enviava calhaus e insultavam-se entre si. De repente vi surgir um rapaz em braços e cheio de sangue no peito. Liguei logo para o 112. Ao mesmo tempo apareceu um indivíduo completamente bêbado e quando chegou à minha porta estatelou-se ao comprido. Quando o vi cair, até disse para mim: ai, coitado do homem, se calhar, morreu!
Em relação à morte ocorrida, não sei muito bem o que aconteceu, nem como nem onde foi ele ferido, se na rua, se dentro do café da Cacilda” –um estabelecimento de hotelaria com mulheres a servir à mesa, assim na linha dos cafés dos anos de 1970 que havia na Rua Direita, onde para além das "meninas", marcava presença uma “Juke Box”, com discos vinil sempre a tocar música a troco de uma moeda. É provável que este, vindo dessa época, seja o último existente com as mesmas características em Coimbra.

MAS, AFINAL, O QUE ACONTECEU?

Naturalmente que é muito difícil saber o que aconteceu, de facto, já que os moradores, e falei com vários, todos recusam dar a sua identidade. Vamos ouvir o primeiro: “aquilo foi assim: há três ou quatro dias houve uma cena de pancadaria e foi agredido um sujeito. Os agressores fugiram. Ontem um deles, presumivelmente, estaria dentro do café da Cacilda e foi avistado. Chamaram reforços e veio um grande grupo, entre portugueses e espanhóis, incluindo miúdos de pouco mais de 16 anos, para “arrear” no indivíduo. Estou em crer que se tratou de um ajuste de contas, mas, às tantas, esta morte, se calhar, nem teve nada a ver com o assunto. O que vi é que ele saiu daqui com várias navalhadas no peito. Não sei bem o que aconteceu, mas é possível que a Cacilda, quando se apercebeu que ia haver confusão, os tivesse posto na rua –que lá nisso, esta senhora é muito cumpridora. O estabelecimento fecha à meia-noite, pois a essa hora está tudo cá fora. Às vezes há barulho mas é, sobretudo, de quinta-feira para sexta. Na maioria dos casos é depois dos clientes virem para a rua, porque já vêm bêbados. 
Ultimamente está a haver mais confusão porque, ao lado, está um prédio com muitas mulheres estrangeiras que estão cá para praticarem prostituição e foi a partir de aqui que, para quem aqui reside e trabalha, passou a ser um problema. Porque, é claro, junta ali muitos homens. Às vezes chegam a estar ali 20 e 30. Então ao sábado à tarde é um corrupio. Começo a sentir algum medo de passar aqui e noto o mesmo em pessoas que conheço e tenho falado.”

Outro morador diz o seguinte: “nós nem temos nada contra a dona Cacilda. Ela está aqui há mais de 30 anos, faz o seu negócio e tenta ser o mais discreta possível. Nos últimos tempos é que as coisas têm piorado, essencialmente desde que estão cá as prostitutas. É que são muitas, sabe?! E, a gente olha para elas e não diz que o são… está a perceber? Vestem-se normalmente como nós, assim sem aqueles grandes decotes como a gente está habituada a ver. Está a compreender? O problema é que, algumas vezes, estão à porta a convidar os homens, assim no género: “ó querido, não queres entrar?”. Sabe uma coisa? A prostituição devia ser legalizada. Isto assim como está é uma bagunça. Punham estas mulheres a pagar impostos e controlavam estas casas, com exames clínicos, e pronto! Assim, é tudo um faz de conta.” –declarações de uma moradora de meia-idade que pediu, tal como os outros, o anonimato.


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