terça-feira, 27 de março de 2012

A MALDIÇÃO DA COLIGAÇÃO



 Segundo o Campeão das províncias, “João Orvalho permanece na vereação da Câmara Municipal de Coimbra, mas sem pelouros atribuídos.”
Se o tempo andasse para trás, neste episódio triste, a meu ver e extremamente lesivo sobretudo para as justas aspirações dos operadores do Mercado Municipal D. Pedro V, voltaríamos a 2006 quando Carlos Encarnação entra em rota de colisão com Horácio Pina Prata (HPP) e, tal como hoje, o primeiro, à data presidente da autarquia e o segundo vice, o destituiu, retirou-lhe os pelouros e o quis obrigar a demitir-se. HPP negou assinar a renúncia e manteve-se como vereador independente até 2009, ano de sufrágio.
Agora veja-se as similitudes, nas eleições de 2009, João Orvalho começou por ser anunciado como vice-presidente –igual a HPP-, era o vereador com tutela sobre o Mercado Municipal –igual a HPP-, perante o eleitorado apresentou-se como o grande trunfo na Coligação –igual a HPP- e agora, tudo indica, num remake de “déjà vu”, foi convidado a demitir-se e declinou o convite –tal como HPP. E para ser ainda mais igual, vai ser uma “carraça” para Barbosa de Melo –tal como HPP foi para Encarnação.
Perante todas estas coincidências, só apetece-se dizer um palavrão: fosca-se! Vade retro, Satanás! Se isto não é um acaso de bruxaria eu vou ali ao café da esquina e volto já. Nitidamente, estamos perante uma maldição no executivo ou, no mínimo, mau-olhado. A questão que se coloca nem é tanto sobre a constatação do facto, mas antes tentar saber de onde sairia a praga, isto é, quem a lançaria. Numa primeira impressão, assim a frio e sem pensar, até poderemos pôr o ónus em cima de HPP –até porque o seu braço direito na altura, Ricardo Rodrigues, continua lá –ainda hoje me chateou. Assessorou Encarnação e agora Barbosa de Melo-, mas, não, não pode ser. É demasiado evidente. Até porque um praguejamento, para o ser com certa legitimidade, tem de ter acoplado uma certa onda de mistério, assim no género dos enredos policiais de Raymond Chandler ou, sei lá, talvez nos segredos só desvendados no fim da trama de Agatha Christie. Ora, portanto, está de ver, apesar de não lhe faltar vontade, que os pozinhos de perlimpimpim de HPP nem pensar. Assim sendo vamos riscar este possível candidato à bruxaria do número dos suspeitos.
Mas quem será então, carago? –Estou a apoiar o meu queixo na minha mão em concha, assim na posição do “Pensador”, de Rodin.
E se fosse Carlos Encarnação (CE)? Sei lá! Que, às tantas, é menino para isso e muito mais, lá isso é. Mas o que ganhava ele com esta acção? Além disso, sendo ele agora o braço executor da feitiçaria, logo seremos obrigados a acreditar que ele, em 2006, também esteve por detrás do cumprimento de bruxedo contra a sua própria pessoa. Ajudem-me lá, caraças, faz algum sentido isto? Porque faria ele isso?
Ora bem, em 2006, para além de ter à perna HPP, como um chato na zona púbica, tinha também um metro que não andava um centímetro e um projecto megalómano chamado Iparque e que, pelos vistos, HPP queria tomar conta daquilo tudo. Ora… vamos com calma! Aqui já encontramos um interesse profundo do agora suspeito, CE. Com a macumba ele afastava HPP da vice-presidência e ao mesmo tempo do Iparque, e ainda saía como vítima do seu ex-correligionário… faz sentido não faz? Estou a ir muito bem, não estou? Digam-me, mas com franqueza, com estas deduções sublimes, não pareço mesmo o Inspector Martelada?
Mas… e agora? O que ganha CE em mandar o candomblé para as costas de Barbosa de Melo, sobretudo, depois de, num grande desempenho teatral de desapego do poder, ter cedido o seu trono ao primeiro? Porquê?... Porquê? –Isto sou eu a interrogar-me alto e bom som e obstinadamente.
Vamos devagar. Em Dezembro de 2010 CE resignou a favor de Barbosa de Melo com o argumento de ir cuidar das netas –não sei se estão lembrados. Suponhamos que depois de um ano e meio já está farto de passear os putos, contar-lhes sempre a mesma história: “no meu tempo, quando eu fui secretário de Estado…” E é claro, é de adivinhar que os miúdos já sabem tudo de trás para a frente, já nem o deixam continuar e replicam: “ó avô, caraças, é sempre o mesmo, não tens mais nada?” –Ora aqui já podemos adivinhar CE a arrancar os últimos cabelos, que, diga-se a propósito, quando saiu da edilidade, em 2010, já tinha muito poucos.
Continuando, vejam se estão acompanhar o meu raciocínio, perante a ofensiva das crianças, é mais que certo que CE, em vez de as aturar, prefere levar com a equipa toda da Câmara Municipal. Faz sentido, não faz? Eu sou muito inteligente, não sou? Porra!, porque é que não fui para as brigadas de investigação da PSP?... Ai o raio do Encarnação! Grande bruxo!


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