sexta-feira, 9 de março de 2012

LIXO: ENSINAR PARA (CON)VIVER MELHOR




 Nesta última noite de quarta para quinta-feira, cerca das 03h30, todo o Largo da Freiria e Rua Eduardo Coelho, durante um tempo indeterminado -5, 10, 15 minutos?- foram surpreendidos por um bater em ferro ininterrupto e um carro a trabalhar.
Como já fui assaltado três vezes, basta-me um pequeno ruído anormal para eu saltar da cama ao mínimo fôlego –já foi assim com o último assalto à perfumaria Balvera. Então, perante o bater em ferro em questão, levantei-me espavorido e fui à janela. E o que era? Dois funcionários da recolha de resíduos da Câmara Municipal estavam a desmantelar um frigorífico, que abusivamente fora deixado no largo cerca da meia-noite. Levantei-me, desci, e interpelei-os directamente: “desculpem lá, bem sei que vocês estão a trabalhar, mas são três e quarenta da manhã, vocês não podem nem devem desmantelar aqui o frigorífico. Se o querem fazer, façam-no longe, e onde não more gente”. Olharam para mim, da mesma forma que se olha para uma cobra, e responderam apenas: “estamos a trabalhar! E nem fizemos muito barulho. Foram só umas pancaditas! –pegaram no frigorífico em peso e… PAN!, para dentro do pequeno carro de recolha. E foram à sua vida, certamente a pensar, “olha para este, filho da mãe –para não dizer filho da puta! Já uma pessoa não pode trabalhar em paz!”
Hoje, 09h30 da manhã, o Largo da Freiria, junto às ex-Modas Veiga, estava enfeitado com vários caixotes grandes de papelão, uns em cima dos outros, e com muitos papéis e outro lixo indiferenciado. Comecei a interrogar os vizinhos se alguém ali viu alguma coisa. Não viram, mas um disse: "ontem, veio para ali –apontando para um edifício- viver um casal e traziam várias caixas. “Às tantas, se calhar, é deles. Mas eu não disse nada. Estás a ouvir? Isso não é nada comigo!”
Fui aos caixotes, e lá dentro estavam várias facturas rasgadas, onde constava a direcção anterior e o nome do cabeça-de-casal. Peguei no papel e fui confrontar o meu vizinho comerciante. Era de facto quem ele pensava. Mas, e conseguir arrancar-lhe o andar onde estava alojados os novos locatários? Aqui é que residia o problema. “Eu não quero chatices! Isso não é nada comigo. Eu quero lá saber?!”
Foi preciso irritar-me e perguntar-lhe se, por acaso, a rua envolvente também não era dele. E ainda interroguei que raio de cidadania estava ele a praticar? Eu só queria resolver o problema e não estava minimamente interessado em chamar a Polícia Municipal, disse-lhe. Lá deveria ter caído em si, e lá me foi indicar a morada. Bati à porta, chamando o senhor pelo nome, e disse-lhe: “olhe, desculpe, parece que vocês colocaram ali no largo muitos caixotes de papelão fora de horas. É preciso removê-los já. Ou o senhor vem comigo e, juntos que eu ajudo, vamos colocá-los no contentor ou, se o senhor não quiser, terei de chamar a Polícia Municipal.”
Era um casal já aposentado, gente simples e educada. Disse o homem: “desculpe, disseram-nos que o lixo era recolhido às 4 da madrugada, e foi nesse pressuposto que o colocámos lá depois das duas horas. Mas, obrigado, nós vamos lá buscá-lo para aqui e colocamos logo à noite. Desculpe, não sabíamos”. Fiz questão de o ajudar a levar os detritos para os contentores do Bota Abaixo, onde já ficou a saber desta possibilidade. A mulher, esposa, chorava a bom chorar. “Desculpe, eu não sabia, fui eu que os coloquei aqui. Agora o meu marido vai ralhar comigo pela multa que vamos apanhar”. Lá a tranquilizei que ficasse descansada. Esse não era, nem nunca foi, o objectivo do contacto. Uns metros à frente, o comerciante que foi “forçado” a colaborar, falava com dois vizinhos. Nem será muito difícil adivinhar sobre o que dizia. Especulando, seria mais ou menos isto: “este gajo tem a mania. Deveria ir para polícia. Gosta de armar em cidadão e em cidadania!”
Resumo destes factos e umas questões que se levantam:
O pelouro da Câmara Municipal responsável pela recolha de resíduos sólidos, a meu ver, deveria reunir o pessoal da higiene e sensibilizá-los para o facto de que é necessário respeitar quem dorme, quer na Baixa, quer em outra parte da cidade.
Por outro lado, porque é que a vereação responsável, para ajudar quem vem de novo para a Baixa –ou até mesmo para a cidade, globalmente- não estabelece um protocolo com os serviços de águas e electricidade e na hora de assinar um novo contrato estes serviços entregavam um folheto com informações gerais sobre tudo o que o novo residente possa necessitar?
A Câmara Municipal, até agora, continua a não apostar nem na informação nem na pedagogia. Se as pessoas não sabem ou não estão sensibilizadas para certos procedimentos como hão-de cumpri-los?

(TEXTO ENVIADO À CÂMARA MUNICIPAL DE COIMBRA)

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