sexta-feira, 9 de março de 2012

LEIA O DESPERTAR


LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA
 

Para além  da coluna "Memória: Uma Palmeira ameaçada", deixo também um texto de "Reflexão" e "O Urbano engraxador" 


REFLEXÃO: PALMADINHAS NAS COSTAS DA BAIXA

 São 22h15 no relógio de Santa Cruz, nesta última segunda-feira. O tempo está ameno e convida a passear à noite. Desde a Praça 8 de Maio, inclusive, até ao Largo da Portagem, e atravessando as ruas do canal, apenas um estabelecimento está aberto: A (nova) Brasileira.
Damos uma volta e verificamos que apenas os restaurantes Giuseppe & Joaquim, o Salão Brasil e o Paço do Conde resistem a este apagamento comercial colectivo. Curiosamente, qualquer um dos que estão de portas abertas tem clientes lá dentro.
Como foi amplamente noticiado, e também aqui no Despertar, abriu “A Brasileira”, na última quinta-feira. Quem lá esteve ou leu os jornais apercebeu-se de um extenso exército de “amigos” do Lúcio Borges a querer dar-lhe umas palmadinhas nas costas. Até o executivo, em dia de Assembleia Municipal, deixou a bancada vazia e os deputados a falarem sozinhos no plenário e rumaram à Rua Ferreira Borges.
A Baixa está deserta a partir das 19 horas. Todos sabemos e o diagnóstico está mais que levantado. Porém acontece que ninguém move uma palha para contrariar e fazer seja o que for. Em metáfora, esta zona velha está sitiada. Sempre que partem mensageiros a pedir auxílio -entenda-se estes novos e recentes investimentos-, o povo vem para a rua cantando-lhes loas, numa espécie de despedida de mártir, e, esperando a salvação divina que há-de vir um dia. Nada mais faz. E o que é preciso fazer? A começar pela autarquia, deve ensaiar novas formas de trazer gente. Porque não, em experiência, fazer passar novamente os transportes públicos pelas ruas do canal? A seguir o Teatro da Cerca, em vez de continuar a teimar em peças para eruditos, porque não apostar em teatro popular de revista? –a última peça no Teatro Gil Vicente esteve esgotada. Por sua vez os comerciantes, tendo em conta que estamos com um pé na Primavera, porque não abrem às 11 e encerram às 21h00? Por sua vez a hotelaria, na generalidade, se continuar a fechar cedo não estará a cavar a sua própria tumba? Será que ninguém vê que o pequeno esforço individual é a ponte para a salvação do colectivo? É urgente todos, mas mesmo todos, descruzarmos os braços e darmos as mãos. Temos de ajudar quem, apesar desta crise profunda, ousa desafiar a sorte. Façamos o mínimo, mas actuemos! 



O URBANO ENGAXADOR

Senhor Urbano é polidor,
escova sapatos com uma mão,
chamam-lhe engraxador,
mas ele não é só isso não!
Puxa o brilho a uma vida
que foi sempre apagada,
mesmo assim foi combatida
com sua vontade de espada;
O Urbano está descontente
com este rumo da Nação,
nada é como antigamente,
político não tem perdão;
Trabalhou a vida inteira
para reforma de miséria,
prefere uma bebedeira
a este tempo de galdéria;
Às vezes põe-se a sonhar,
julga-se outra vez criança,
no tempo em que o abraçar
era o caminho da esperança;
A troco de uma moeda,
transforma velho em novo,
como broa que leveda
esperando o forno do povo;
Mas Urbano vai vivendo,
neste urbano mundo louco,
em que uns vão corrompendo
e outros ganham tão pouco;
É sina, talvez um destino,
de quem nasceu na pobreza,
por muito que tenha tino,
de pouco lhe vale a esperteza;
Quem o quiser conhecer,
basta ir ao Café Santa Cruz
dê os sapatos para ele benzer,
e deles fará candeeiro de luz;
Mas vá lá enquanto dura
este último engraxador,
virão tempos de amargura,
sem um único polidor;
Então você irá ao museu
ver a foto do senhor Urbano,
relembrará que ele feneceu,
sendo discriminado como cigano.





1 comentário:

Carlos disse...

Apesar dos tempos difíceis, se calhar esta é a melhor altura para mudar as mentalidades. Os comerciantes não podem ficar agarrados ao passado, têm que se adaptar à nova realidade.
É fundamental alterarem os horários de funcionamento dos estabelecimentos. A maior parte das pessoas saem do emprego depois das 18h, por isso não têm tempo para fazerem compras na Baixa, porque as lojas fecham às 19h. Estas são as pessoas que passaram a comprar nos centro comerciais, onde podem andar a fazer compras com calma e nos horários que têm mais disponibilidade (depois das 19h e aos fins-de-semana).
Ainda no outro dia andei na Baixa, a um Sábado à tarde. É triste ver que apenas uma dúzia de lojas estavam abertas, a maioria eram lojas dos chineses (porque será? têm olho para o negócio). Apesar disso, havia pessoas a passear, a Brasileira estava cheia, assim com as esplanadas da Portagem.
Era bom que fosse possível, depois das 19h, fazer compras na Baixa e depois ir jantar a um dos belos restaurante, ou vice versa.
E podiam aproveitar os eventos que ocorrem na cidade. Por exemplo, no fim-de-semana do concerto da Madonna, no Estádio de Coimbra, a cidade vai estar cheia de turistas. É uma boa oportunidade de negócio, e seria um dia excelente para realizaram a campanha “O Comércio vem para a Rua”, uma feira de artesanato ou até uma noite branca no dia antes do concerto, etc.