quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

OS NOVOS OTÁRIOS

(IMAGEM DA WEB)



 Já várias vezes aqui escrevi sobre o abominável procedimento de muitos ex-comerciantes, agora aposentados, e donos de lojas. Estiveram nos seus negócios, com a loja aberta, até o comércio ser rendível. Quando começou a cair encerraram a actividade e passaram a arrendar os seus espaços comerciais a preços proibitivos a quem vem de novo. Sabem perfeitamente que os seus inquilinos, perante a queda abrupta do comércio, não podem pagar rendas de 1500, 2000, 3000 euros. No entanto, num desprezo total pelo próximo, continuam a praticar estes valores.
Comecei a escrever este texto porque, de repente, dei por mim a pensar numa determinada loja daqui da Baixa, que encerrou há um tempo. Em 2008, com uma renda de 2000 euros, mandou completamente para o charco um comerciante aí estabelecido até essa altura e que já vinha com contrato de uma década. A seguir, e depois da saída deste homem, entrou outro comerciante a pagar 1500 euros até que encerrou. Infelizmente, e mais uma vez com um filme já visionado. Ou seja, também este homem do comércio sai muito mal, e é, por conseguinte, mais uma vítima. Não é difícil de adivinhar que dentro de dias, outro padecente tomará o seu lugar. Escrever que é o mercado a funcionar limpa a nossa alma? Escrever que o preço justo é aquele que alguém está disposto a pagar dá para aliviar a consciência social? É que não podemos esquecer que há uma parte vulnerável neste acordo bilateral: o inquilino. Este, porque não tem trabalho, porque precisa de ganhar a vida, aceita estes contratos impossíveis de cumprir. Será que alguém, e estou a lembrar-me de uma instituição ligada ao comércio, não deveria publicitar estas novas armadilhas?
Tenho de ressalvar que, depois de dezenas ou centenas de textos em que defendi o mercado a funcionar livremente entre a oferta e a procura, nunca esperei tomar uma posição destas. Não tenho dúvida de que é preciso o Governo legislar no sentido de obrigar a agilizar a ocupação dos espaços que estão encerrados há vários anos na cidade, sobretudo no Centro Histórico. Invocar o direito de dispor livremente da propriedade –como eu já o fiz milhentas vezes- é um erro. Alguma coisa terá de ser feita. A bem dos novos comerciantes, a bem da Baixa, a bem da cidade.

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