terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

FAZER COIMBRA? COMO? ASSIM?




 Organizada pela JEEFEUC, Júnior Empresa de Estudantes da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, decorreu ontem no auditório da Reitoria desta universidade uma pretensa Tertúlia sob o título “Fazer Coimbra”. O painel era constituído por Gonçalo Quadros, fundador da Critical Software, Helena Freitas, vice-reitora da Universidade de Coimbra, Isabel Campante, “participou na Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra”, José Miguel Júdice, presidente da Direcção do Festival de Artes, e Participação de João Luís Campos, Director-adjunto do Diário de Coimbra –estou a citar o cartaz de apresentação do evento. Estava um jovem da Faculdade de Economia na mesa que, sinceramente, não percebi muito bem o que fazia ali. Moderador não era de certeza, porque ali não houve qualquer manifestação de moderação
Antes de continuar, vamos espreitar o que quer dizer a palavra “tertúlia”. No dicionário da Porto Editora, “Reunião familiar; reunião com interesses comuns; reunião habitual de intelectuais para troca de ideias sobre diversos temas”. Na Wikipédia, “A tertúlia é na sua essência uma reunião de amigos, familiares ou simplesmente frequentadores de um local, que se reúnem de forma mais ou menos regular, para discutir vários temas e assuntos.”
Passemos à frente. Naturalmente que a conversa começou nos “intelectuais” do painel, cada um foi expondo o que pensava de Coimbra, mas já aqui se começou a ver as assimetrias de tempo usado por cada um dos palestrais. Uns levaram pouco mais de cinco minutos outros meia-hora. A conversa, numa espécie de círculo de eterno retorno, dava a volta à mesa, percorrendo o painel, e depois voltava ao início, sem descolar dos convidados. Durante quase duas horas e meia, numa seca sem catalogação, um labirinto de ideias “déjà vu”, o que ali se assistiu, sobretudo de Miguel Júdice, foi uma “feira de vaidades” onde a contradição foi rainha –curiosamente este membro do painel, no primeiro tempo, até alcançou prender a atenção com a sua eloquente experiência, mas numa segunda terceira, quarta  e sei lá quantas vezes mais, conseguiu queimar tudo o que até aí tinha capitalizado num auditório a meia lotação e completamente cheio de sono. Mesmo alguns membros da mesa, perante as avançadas de retórica deste advogado, algumas vezes a caírem num discurso panfletário, trocavam olhares entre si indiciadores de um pré-esgotamento nervoso. Ainda assistimos, lá na mesa, a uma troca ideológica verbal, entre o Bloco de Esquerda –Isabel Campante- e o ex-PSD, agora PS –Miguel Júdice- que ia dando em serrabulho, não fora a princesa de todas as pontes da concórdia, Helena Freitas, intervir, e, como o senhor padre Bento faz lá na minha paróquia para santificar e acalmar as almas perdidas, lançou-lhes água-benta para cima e eles quedaram-se porque, para correr ainda pior, só faltava mesmo haver duelo entre a esquerda e a direita assim assim.
Utilizando uma linguagem futebolística, como a bola não descolava dos pés dos jogadores a driblarem no pódio, Norberto Canha, médico e outrora ligado à administração dos HUC, apesar da sua já muita idade, enchendo o peito de ar e cofiando o bigode, atirou-se ao relvado e por momentos, ainda que fugazes, conseguiu prender o esférico mas via-se, estava profundamente irritado, e o público sentado ao seu lado até pensou: “querem ver que o Canha vai puxar da pistola?”. Mas não, ainda atirou um soco verbal ao jovem moderador, que ali nunca foi, mandando-o para a mercearia, mas o estudante não foi. Viu-se, no entanto, que ficou combalido e logo os outros membros e colegas da mesa correram em socorro do jovem e o Canha ficou a pensar nas palavras que ali não pode dizer, mas, aposto vai chapá-las na sua página do Facebook.
Eu, que por acaso estive lá, por engano, está de ver, queria dizer qualquer coisa boa deste ensaio de tertúlia que nunca foi, mas como é que posso? Aquilo foi muito mau. Mau não, péssimo. Sobretudo quando ali tanto se falou da Universidade (sempre bem, ou não estivesse ao lado a vice-reitora) e nestas coisas de discussões não fica bem dizer mal da anfitriã, e, sobretudo, quando a representante da “Alma Mater” é um espectáculo de simpatia e graciosidade –não estou a ser independente, pois não? Pois não mesmo. Gosto dela, que se há-de fazer?
Depois outra graça, de “partir o coco”, o painel falou várias vezes, em apelo, ao “debate” e “cidadania participativa” em Coimbra. Isto quase deu para rir a algumas pessoas da assistência -sobretudo as mais velhas, porque as mais novas nem perceberam o que se estava ali a discutir- quando nunca foi dada a palavra à assistência. Uma meia-hora antes de acabar, atrás de mim, ouvi um silvo e um certo cheiro a fumo –pensei cá para os meus botões, “querem ver que vai haver uma queimada?”- foi então que vi sair o José Dias, engrenado numa primeira velocidade, certamente porque, perante o que ali estava acontecer, estava a ter uma insuficiência respiratória.
Mesmo a terminar, e a como a palavra nunca foi dada a quem estava na plateia, houve um parvo –que por acaso fui eu- que disse aos senhores “intelectuais” que aquilo correu muito mal. O que ali se assistiu, embora o pressuposto fosse a antítese, de certo modo, foi uma caricatura do que acontece em Coimbra: o debate nunca sai do mesmo círculo. São sempre as mesmas pessoas a discutir as mesmas coisas. Curiosamente, apelando sempre à cidadania participativa, mas sem a promover, evitam-na, chegando a serem desagradáveis quando alguém a reivindica.
Quem não gostou muito da brincadeira - isto é, da intervenção do tal parvo, que por acaso sou eu- foi o João Luís Campos, do Diário de Coimbra, que, como virgem ofendida, correu em socorro a defender o indefensável –desculpa lá, ó João, mas ficaste muito mal na fotografia.
Enfim, Coimbra, no seu melhor!




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