segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

OUTRORA FUI ELEGANTE




Ainda me lembro quando nasci,
ali, na rua larga da calçada,
por volta de 1930 emergi,
todos me queriam aflorada,
mas eu sempre sonhei e senti
ser escrava de quem me amava,
durante muitas décadas servi
com lealdade quem me ameigava,
 com muitos serviçais aprendi,
fui dura para quem abusava,
com outros amadureci,
vieram ventos de “abrilada”,
revolucionários que conheci,
muita esperança embainhada,
em bandeiras multicolores me desiludi,
prometiam tudo, grande cambada,
não acreditei, sem custo nunca vivi,
só  pode crer na asneirada
aqueles, aquele que nunca sorri,
por vezes sinto-me  apatetada
ao constatar que envelheci
trabalhei tanto para nada,
pela clientela, pela cidade sofri,
e nem uma lágrima chorada
de alguém que se lembre de mim,
fui uma história comercial passada
como muitas outras que reli,
agora vou descansar, cansada,
tenho o coração negro… Anoiteci.

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