terça-feira, 22 de novembro de 2011

EDITORIAL: APETECE-ME ALGO DIFERENTE, BARBOSA

(IMAGEM DA WEB)



 Está a fazer um ano que Carlos Encarnação se demitiu para dar lugar ao seu até aí vice-presidente, João Paulo Barbosa de Melo, e este assumir o seu lugar na presidência da Câmara Municipal de Coimbra.
Com franqueza, nunca me cativou muito a forma de governar a cidade do ex-presidente Encarnação. Retirando outros apontamentos e focando apenas o trato pessoal, talvez pelo seu passado político, cavaquista e conservador, a meu ver, enquanto se manteve no activo na autarquia, foi sempre uma pessoa distante do cidadão. Mesmo até no confronto cara-a-cara era uma pessoa irascível, mal disposta, e onde imperava uma certa sobranceria –é certo que, salvo as devidas excepções, este ar de superioridade é normal nos licenciados em direito. O conhecimento da lei sobe-lhes à cabeça e, ao mirar o espelho todos os dias, faz deles uns seres acima do comum dos mortais. Não refiro o lado carrancudo de Encarnação por acaso. Várias vezes, e ao longo dos últimos 9 anos -2001-2010-, enquanto durou o seu mandato e até abdicar, senti isso. Algumas vezes fui à Assembleia Municipal e ao Executivo e, com aquele ar meio-ensonado, a fazer lembrar o Cruz Abecassis, na autarquia de Lisboa, sempre que o questionava acerca de um ou outro assunto, as suas respostas, em jeito de reacção, eram sempre no ataque velado e com palavras carregadas de azedume. Se eu ou outro qualquer munícipe que ali fosse reivindicar uma qualquer necessidade, através do trato duro, era como se ele, sem o declarar, implicitamente dissesse: “ o que é que este vem para aqui fazer? Não tem trabalho, é? Vem para aqui armar-se e chatear quem cá está. Se fosse mas é dar uma volta ao bilhar grande é que campava?!”. Escusado será dizer que poucas vezes se empenhou em resolver pequenos problemas que criavam mossa no munícipe, como por exemplo –e refiro este em modelo- o ruído na cidade.
Quando em Dezembro do ano passado Barbosa de Melo ocupou o seu lugar, pelas razões apontadas, fiquei contente. Além de mais, prometia uma equipa fresca com pessoas, aparentemente, desvinculadas da política partidária. Falei com o actual presidente da Câmara de Coimbra três ou quatro vezes e fiquei sempre com uma boa impressão. Há cerca de um mês estive no executivo e, enquanto estive presente a debater o assunto que me lá levou, estive a fazer a comparação entre ele e Encarnação. Não tem nada a ver com o seu antecessor. É uma pessoa aparentemente simples e que gera empatia no interlocutor. Ao falar com ele, e fazendo analogia com o seu predecessor, induzi que não gerava anti-corpos de rejeição.
E comecei a enaltecer as qualidades de comunicador de Barbosa de Melo –o que também se entende sendo ele professor de economia-, mas é óbvio que para qualquer cidadão que ama e se interessa pela sua cidade o ser simpático não chega. Sempre que um novo político ocupa a cadeira do poder local, e transversalmente a toda a política nacional, o cidadão comum fica expectante e sempre na esperança de que este novo inquilino sirva melhor os eleitores que o anterior. Ou seja, que no seu pragmatismo este “novo homem”, para além de escutar o cidadão, lhe venha resolver pequenos ou grandes problemas que o atrofiam.
E chegados aqui, já podemos interrogar, passado um ano, para além do trato pessoal de Barbosa de Melo, o que é que mudou na cidade? Quanto a mim, e admitindo que possa estar a ser injusto, pouco ou nada mudou.

O CENTRO HISTÓRICO ESTÁ DIFERENTE?

 A Baixa, com o seu edificado em ruínas, continua cada vez a cair mais – é certo que um presidente de câmara, perante uma aleivosia chamada Novo Regime de Arrendamento Urbano, pouco pode fazer, mas tem de conseguir ser inovador, procurando conjuntamente com o seu vereador do pelouro da habitação, e furar o “status quo”. Ora o que se assiste no Centro Histórico, Alta e Baixa, é uma falta atroz de planeamento, onde, ao invés de haver formas de cativar casais para morarem na zona, a única medida que se assiste é a vinda de estudantes –saliento que também são importantes, mas terão de ser complementados com moradores a tempo inteiro. Continua-se a assistir a uma falta de pulso e um murro na mesa no encurtar de horários em estabelecimentos de diversão nocturna em zonas residenciais.
Na falta de cumprimento do Metro Ligeiro de Superfície por parte do Governo, não se houve um berro forte saído da Praça 8 de Maio. Até parece que ainda lá continua Carlos Encarnação.
No tocante ao comércio a mesma apatia. Perante o encerramento de lojas em massa não deveria o presidente da Câmara chamar a si o problema e, através de discriminação positiva de taxas e outras medidas, tentar evitar o maior dano possível para a cidade? Tendo em conta o que se está a verificar seria de bom senso que os licenciamentos de novos estabelecimentos fossem céleres. Pois o que se verifica é que tudo anda a passo de caracol. Só para ilustrar dois casos, a Brasileira, na Rua Ferreira Borges, e a Casa do Leitão, na Rua da Gala, estão prontas há largos meses –a primeira há cerca de dois anos- e, por questões relacionadas com a tramitação de licenças, continuam à espera que alguém se lembre que estamos numa profunda crise e é necessário ultrapassar pequenos nadas para criar emprego e desenvolver a cidade.

E OS SERVIÇOS CAMARÁRIOS?

  No tocante aos serviços da autarquia e da recente alteração orgânica, o que dá parecer é que andam sem rei nem roque. Como disse em cima, há cerca de um mês, acompanhado de uma vintena de comerciantes, estive no executivo por causa de um internamento compulsivo para um sem-abrigo que há cerca de dois anos vagueava pela Baixa. Pois a semana passada, felizmente para ele, o homem foi finalmente internado no Sobral Cid. Ora, sejamos honestos, não era obrigação do director da Divisão de Acção Social e Família comunicar aos comerciantes que o homem foi internado? Pois até hoje, numa omissão que parece provocação, numa completa falta de tacto, não passou qualquer explicação a quem foi à autarquia. Os comerciantes souberam pelo Diário as Beiras que tinham sido bem sucedidos na sua acção de sensibilização camarária.
Está hoje plasmado no Diário de Coimbra que, “devido a ausência de resposta por parte da Câmara de Coimbra, André Sardet desiste de concerto em Coimbra e critica autarquia”.
Já escrevi várias vezes sobre este assunto, a cidade, expressando o modelo na edilidade, despreza os seus artistas. E Sardet é apenas um deles. Nesta “falta de comunicação”, quem fica mal é a câmara não é o artista.

E AS ORNAMENTAÇÕES?

 Também hoje mesmo escreve o Diário de Coimbra que as iluminações de Natal, a cargo da Empresa Municipal de Coimbra (TC), “vão limitar-se a colorir o Largo da Portagem, as ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz e Praça 8 de Maio”.
Continuando a citar o jornal, “Hoje à tarde, o presidente da TC, também vereador da Câmara Municipal de Coimbra com o pelouro do Turismo, reúne com a Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra (APBC), com o objectivo de ser estudada a possibilidade de alargar as iluminações a outras artérias da Baixa. “Desde que haja vontade e capacidade para suportar esses custos por parte dos comerciantes, revelou Luís Providência.”
Ora, no meu entender, por parte do vereador Providência, estamos perante um desrespeito completo pela APBC e uma falta de consideração, na equidade, pelos comerciantes da “baixinha”.
Não podemos esquecer que estamos a um mês do Natal. Não é em cima do joelho que se estabelecem planos de ordenamento para a cidade. A TC tem obrigação política e institucional de, atempadamente, comunicar com a APBC –até porque, para cúmulo, a autarquia faz parte da direcção desta agência. Vir a escassos dias reunir com esta associação é no mínimo questionável a todos os títulos.
Há uma notória falta de equidade para com os comerciantes das ruas estreitas pelo seguinte: a TC manda ornamentar as ruas centrais gratuitamente. E então as ruas estreitas têm de ser comparticipadas pelos comerciantes destas artérias? Ou seja, os de cima, das Ruas Visconde da Luz e Ferreira Borges, são filhos de Deus e os de baixo, da baixinha, são filhos de quem?
Mais ainda, como é que a uns dias da comemoração do nascimento do menino se vai fazer esta recolha de fundos? Primeiro, porque com a situação financeira dos comerciantes é impossível. Segundo, para fazer essa recolha, não há tempo.
Talvez o presidente João Paulo Barbosa de Melo, se calhar, ainda não se apercebeu que estamos a um ano das eleições autárquicas de 2013 e com esta prestação não vai lá. Não sei se, especulando, serão os seus próprios colaboradores que, implicitamente, estarão a sabotar o seu plano estratégico de recandidatura.
Seja lá o que for que se esteja a passar este tipo de prestação de serviço público não serve a cidade.

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