domingo, 9 de outubro de 2011

A "TERTÚLIA FAUSTO CORREIA" VISTA PELO "OLHO DE LINCE"




 Estava eu ontem “escanzorrado” no café Santa Cruz, como quem diz numa de não pensar na puta da vida, só mesmo a gozar as vistas nas boas c’mo milho “camones” que se preparavam para ouvir o fado –isto é muito curioso, enquanto eu até dava qualquer coisinha para despachar o meu fado, os estrangeiros pagam para lhes cantarem umas coisas tristes e remelosas. Às vezes penso que isto não é por acaso. Isto, às tantas, é sadismo. Devem olhar para nós como os novos ciganos do “Portugalistão”. Quem me diz a mim que estes gajos, podres de pilim, não vêm para aqui tomar banho nas nossas lágrimas? Não me admiro nada. Estes gajos e gajas só querem mesmo é sentir o nosso sofrimento, é o que é! É que se viessem para aqui fazer turismo de engate, ainda vá que não vá, assim como na Holanda, estão a ver? Mas nada! Só querem mesmo é perfumar-se e tomar odores no “sou triste como andorinha”, e mais nada. Bolas, isto é muito chato para um tipo como eu. Irritam-me, não sei se estou a ser claro. É que uma pessoa senta-se ao pé delas, assim à espera de uma “abébia”, e nada. Até parece que gostam de fazer sofrer uma pobre alma penada como a minha.
Deviam ser para aí umas 20h30, mais coisa menos coisa. Foi então que o Adelino Paixão, veio bater-me no ombro: “senhor “dótor”, senhor “dótor”, o chefe quer falar consigo. Carago!, fiquei lixado, eu seja ceguinho, estava a curtir umas pernas duma ruiva à minha frente que eram mais apetitosas do que o algodão doce do “Xico Feirante”. Caraças, porra de sorte a minha! Nem o facto de o Adelino me chamar “dótor” me aliviou o aborrecimento, é que para este gajo qualquer burro que vista calças é “dótor”.
Se calhar não conhecem, mas o Adelino é o nosso embaixador para as questões culturais da Baixa, e que faz a ponte entre o que as pessoas dizem por entre dentes, o que eu escrevo sarcasticamente e o pelouro da Cultura da Câmara Municipal. Quer dizer, a ponte não, é assim uma espécie de barca que não ata nem desata, assim um mensageiro de coisa nenhuma, já que a vereadora da Cultura não liga a ninguém. Às vezes até dou comigo a pensar: “ai coitada da senhora, se calhar é surda, cega e muda. E é pena porque até tem um ar simpático.
Bom, continuando, estava então a bater uma pancada no sino de Santa Cruz, que remédio, lá fui eu falar com o “emplastro” do Luís Fernandes –não devem conhecer, é um “mastronço” qualquer-, é o director do blogue. É claro que, para além de não interessar a ninguém, é uma criatura que não topo nem à lei da bala. Aliás, se conseguir uma pistola não fosse tão difícil já lhe tinha dado cabo do coirão. É claro que eu até poderia matar o fulano de outra maneira, mas não quero. O gajo tem de sofrer –assim como o nosso fado, não sei se estão acompanhar.
Não sei se sabem a razão deste meu ódio visceral ao animal, é que ele anda embrulhado com a minha Rosete, uma jornalista madre de boa cá do jornaleco, o amor platónico da minha vida. Uma paixão que me há-de acompanhar até à cova. E o grave, sabem o que é? É que, para além de umas “pestanadas” naquela prateleira generosa onde eu arrumava todos os meus cabelos do peito, dali não levo nada. Bom, mas deixemo-nos de confidências e vamos falar de coisas sérias. Vou então ao encontro do “mânfio”.
-Boa tarde, chefe, mandou chamar-me?
-É evidente, não é, “Olho de Lince”? Se mandei o Adelino, certamente é porque tenho uma razão, não?!
Lá está o ferrolho a querer desconversar. Ai, senhor, quanta paciência santa que eu tenho de ter para não lhe mandar um murro!
-Não me diga que vai fazer uma entrega por conta de um ano de atraso de ordenados?
-Olhe lá, ó “Olho de Lince”, que merda de conversa é essa? Você sabe muito bem que estamos a viver uma crise profunda. Sabe ou não sabe? Além de mais, deixe que lhe diga, está para aí com porcarias, você ainda deveria pagar para escrever neste blogue. Percebeu? –e começou a querer crescer para mim. Até lhe senti as fuças quase junto à minha cara. Querem ver que é agora que eu vou liquidar o “aldrabas”?
-Mas, afinal, o senhor quer o quê? Interroguei depois de contar até dez.
-Ah… ah… assim já nos entendemos! Preciso que você vá ao café Trianon, hoje, agora às 21h30. Vai lá haver a segunda "tertúlia Fausto Correia”. Para além do Carlos Cidade, vai lá estar o pessoal todo do Partido Socialista cá da aldeia e, como convidado especial, vai estar o Carlos Zorrinho, aquele tipo que já foi do governo anterior e agora é o líder da bancada parlamentar na Assembleia pelo PS. Vai dissertar sobre a “economia é para as pessoas”.
-Ai sim? E porque é que não vai o chefe?
-Olhe lá, ó “Olho de Lince”, não seja estúpido. Tenha dó! Você não é amigo do Daniel Tibério e do filho Dani, os donos do café? Está de ver porque lhe dou este trabalho, alma de Deus! Que diabo…
-Isso quer você fazer-me parecer. Eu bem sei que você não vai lá porque o PS já não está no Governo, pensa que eu não sei?
-Olhe lá, ó “Olho de Lince”, vá lá ao Trianon e desampare-me a loja!

E COMO É QUE ESTAVA O TRIANON?

 O Café Trianon, para quem não souber, é dos melhores cafés de Coimbra. Cerca das 21h30, preencheu-se a mesa de painel com o Carlos Cidade, Carlos Zorrinho, André Oliveira e o filho do homenageado Fausto Correia. A sala estava repleta e o Dani, o meu amigo Dani, que vi crescer, não tinha mãos a medir para atender a clientela.
Na câmara baixa estavam os jovens promissores do partido, nas bancadas da assistência estavam os mirones e na câmara alta estavam os cotas e as cotas. Quer dizer, entre as cotas havia lá bom material, lá isso havia, tenho de ser verdadeiro.
Eu, nunca contei, mas gosto de mulheres socialistas. São assim umas princesas de mistério, de ideologia rosa e uma alma vermelha. O que quero dizer é que são mulheres sem preconceitos, todas para a frente, sem teias de aranha nas cabecinhas lindas. Não têm nada a ver com as peixeiras de Aveiro, que por causa de um falo gigante quase que incendiavam a ria. E, por muito que nos custe, este é mesmo o nosso modelo de desenvolvimento português. Intelectualmente, somos um povo pacóvio e rústico.
As mulheres socialistas são elucidadas, francas, e quando amam, amam mesmo. Não alinham em preconceitos parolos de um povo atrasado e mesquinho. E se eu, por acaso, tivesse dúvidas, ontem mesmo teria ficado esclarecido, sobretudo quando, sorrateiramente, a dama das madeixas, em cima dos seios da dama de cabelos negros, lhe tira uma grande foto ao interior dos montes de prazer. Foi assim uma coisa rápida. Ninguém se apercebeu, mas eu gostei. Se gostei! É lógico que ainda gostava mais se verificasse o trabalho final, mas estou em crer que a artista não me liga nenhuma. Eu não sou socialista!

E O QUE DISSE ZORRINHO?

 Antes de escrever mais, tenho de dizer que gostei do Zorrinho. A sério, gostei mesmo. Um tipo simples e pacato e com uma facilidade brutal na comunicação. Enquanto o escutava fui pensando que o diminutivo assentava-lhe que nem uma luva. O homem é pequenino e, com uma simplicidade estonteante, fala com doçura. Por acaso foi pena ele ter pertencido ao anterior governo. Lá isso foi, bom, mas adiante. Não se pode ser bom em tudo. Gostei mesmo muito de o ouvir. Vou deixar-vos algumas frases que considerei emblemáticas:

“Sempre nos viabilizámos, mas nunca fomos viáveis”
“Temos de funcionar como “interface” entre outros e liderar nalgumas áreas”
“Somos um país de gente muito criativa, mas, como dizia José Gil, não nos inscrevemos. Há um desafio que tem de ser feito. A pergunta é como é que eu não me inscrevo?
Com esta mentalidade não vamos a lado nenhum. Temos de mudar de mentalidade (…).
Apesar disso, e, por outro lado, é com esta mentalidade que temos de viver. Temos de adaptar esta mentalidade aos problemas que nos surgem.
Como não nos inscrevemos, quando é precisa a solução não ligamos, deixamos andar, depois em cima do joelho, porque temos mesmo de resolver, é com soluções anormais que resolvemos as coisas porque já não temos tempo.”
“Temos de ter auto-confiança em nós próprios.”
“Não é baixando os salários que conseguimos competir. Podemos até ter custos de produção mais baixos do que em Colónia, mas sempre nos sentiremos frustrados.”
“A baixa da TSU é uma falsa solução.”

E NA EUROPA?

 “O exemplo europeu é para nós um desafio. Perdemos completamente a soberania no mundo. Temos de recuperar a soberania europeia. O que é a Europa no Mundo? Temos de ter um projecto para a Europa.

E O QUE VAI SER BOM NO FUTURO?

 “A energia é a chave. Outra área é a (geriatria) de saber lidar com uma população cada vez mais idosa. Deve ser recuperada e não um fardo para a Europa. Em 1950 teremos cerca de 80 por cento de idosos. Como é que estes 20 por cento irão criar riqueza de modo a sustentar os 80?
Temos de aspirar que a economia que estamos a viver e a que virá não seja a dos anos de 1990. É um retrocesso civilizacional.
O PS tem de propor um modelo económico que não seja o da desistência. Estamos a desistir de tudo, do Magalhães, do TGV, do Aeroporto, da educação, do Serviço Nacional de Saúde, etc.

E HOUVE MUITAS INTERVENÇÕES?

 Várias pessoas intervieram. Zorrinho foi respondendo uma a uma. “Somos pessoas que fazemos parte da equação, mas não fazemos parte da solução.
Os movimentos sociais têm de ter o seu espaço. Os partidos não podem invadir este meio de fulgor popular.
Estamos a assistir a um momento que, provavelmente, será de transição. Estamos à procura de um novo paradigma. Tenho a certeza de que vamos lá chegar. Se cada um de nós olhar o momento de modo diferente o paradigma muda.
Não podemos esquecer que a cada direito corresponde um dever.”, respondeu assim Carlos Zorrinho.
O encerramento da “Tertúlia Fausto Correia” coube a António Vilhena, com um bonito e sentido poema de Manuel Alegre.

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