segunda-feira, 31 de outubro de 2011

EDITORIAL: O QUE QUEREM FAZER DA ZONA HISTÓRICA?

(IMAGEM DA WEB)


 Hoje, no Diário de Coimbra, acerca de um encerramento de um estabelecimento com meio-século, a Auto Luz, no Terreiro da Erva, a determinado ponto do texto, e a finalizar, diz que “o futuro do imóvel, segundo o actual proprietário, passa pela reabilitação e provavelmente por integrar um projecto de revitalização da Baixa de Coimbra associado ao arrendamento a estudantes Erasmus.”
À hora do almoço, sentei-me na mesa de um amigo meu que está a restaurar o seu edifício aqui numa destas ruelas estreitas. À minha interrogação acerca do destino que vai dar aos pisos superiores, respondeu: “vou arrendar a estudantes Erasmus.”
Como ressalva de valores, começo por dizer que conheço as pessoas que estão por detrás deste projecto de arrendamento a estudantes Erasmus. Digo também, com franqueza, que nada me move de pessoal contra estas pessoas que estão arriscar num negócio de grande envergadura. Aliás, ainda digo mais, sem dúvida que é positivo por servir de motor à revitalização de alguns prédios que estavam vazios e abandonados há vários anos.
Então o que me leva a escrever sobre este tema –que, esclarecendo, não é a primeira vez que o abordo? Perguntará o leitor.
É assim, e começo pela primeira das premissas: o seguidismo das pessoas. Dá impressão que se descobriu a árvore das patacas. Parece que, de repente, alguns proprietários, apenas com a mira no brilho do ouro, já dá para restaurar o que até agora não era possível.
 A segunda, começo por questionar se o futuro da Baixa da cidade passará apenas a servir de dormitório a estudantes estrangeiros e que se vão revezando de seis em seis meses?! Volto a repetir que a vinda de estudantes para o Centro Histórico é positivo, o que me parece intolerável é esta falta de planeamento da cidade. Esta ocupação de pessoas deveria ser intermediado por famílias, casais a viverem aqui. E porquê? Porque as famílias, para além de uma necessária agregação, constituem um suporte económico das várias actividades que por aqui existem e, se este planeamento fosse pensado, estava-se a sustentar várias pequenas empresas familiares, como por exemplo, a pequena mercearia, a pequena loja de fruta, a sapataria, a loja de pronto-a-vestir.
E os estudantes não serão um suporte também? Interrogará o leitor? Não, não são. Os estudantes, o que consomem é nas cantinas universitárias e em restaurantes com acordo prévio de refeições. Estes estudantes percorrem as lojas da Baixa como bandos de pardais à solta. Entram, mexem aqui, mexem acolá, mas não compram nada, e os estabelecimentos precisam de vender e cada vez mais a quem por aqui reside ou trabalha.
Então o que fazer? Volta o leitor a interrogar. Pouco há a fazer quando o Governo continua a não querer mexer no Regime de Arrendamento Urbano. Porque, é evidente, estes proprietários, legitimamente, estão a enveredar por este tipo de locação convencionada exactamente porque o arrendamento não funciona. Não é rentável com a actual lei e envolve demasiados riscos, uma vez que não assegura o cumprimento das obrigações por parte dos inquilinos.
Além de mais, se levarmos em conta os resultados dos últimos censos, em que embora o distrito de Coimbra perdesse habitantes, sabe-se que, e transversalmente ao país, há uma deslocalização do interior desertificado para as cidades. Então, seguindo este raciocínio, não havendo casas para arrendar, para onde irão morar estas pessoas em trânsito no futuro que é já amanhã? Para debaixo da ponte?
Por outro lado, ainda, assiste-se a um completo descontrolo, omissão e apatia, por parte da Câmara Municipal de Coimbra perante o regulamento de ruído e que, lesando quem cá mora, se assiste continuamente todas as noites no Centro Histórico, Alta e Baixa. Ou seja, dá impressão que a própria autarquia, ao alhear-se destes problemas, e por outro lado ao licenciar estabelecimentos até às 4 da manhã em zonas residenciais e festas de estudantes até às tantas da matina, quer mesmo expulsar os poucos residentes destas zonas de antanho. Será que não dá para ver que sem planeamento urgente de cidade iremos assistir à morte da parte comercial e, provavelmente, ter apenas hotelaria? Não é que não seja saudável uma nova viragem na oferta de serviços, o que me parece é que para a sua própria sustentabilidade será necessária uma harmonização entre o entretenimento e os serviços.
Será que o que se procura é ter simplesmente manchas de habitação falsamente ocupadas com uma população não sedentarizada e que não cria raízes? É isto que se quer para o futuro da Baixa de Coimbra?




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2 comentários:

Sónia da Veiga disse...

Farto-me de batalhar no mesmo Luís: porque é que esta cidade não se vira para os habitantes em vez de para os estudantes?!?
É positivo, sim, mas fica a dúvida: será que quem de direito acredita que esta cidade não passa de dormitório (e vomitório e afins) de estudantes, e quem cá mora não tem valor?!?
Eu acredito que há mais, MUITO mais, para além dos estudantes nesta cidade e que, mal a autarquia perceba isso, isto melhora. Bastava apenas um parque infantil numa das praças da Baixa e a coisa dinamizava logo, acredite.
Mas quando não se quer que as coisas avancem...

Haja mais quem tenha esperança, que a minha já se cansa!

Beijinhos e uma boa semana.

LUIS FERNANDES disse...

Obrigada, Princesa, por ter comentado. Concordo consigo... naturalmente.
Um beijo.