segunda-feira, 19 de setembro de 2011

UM PAÍS (EN)FUTRE(CIDO)

(No canto inferior esquerdo do jornal pode ler-se: "Condeixa Paulo Futre fez a festa na inauguração do estádio municipal.")




 A actual notoriedade de Paulo Futre é (deveria ser) um caso de estudo. Como se sabe, Futre foi um dos grandes jogadores de futebol de sempre. Militou no Sporting, Porto e Benfica. Acabou o seu verão, a sua temporada de atleta, e foi para Espanha. Nunca mais se ouviu falar deste futebolista por cá até há uns meses em que, numa conferência de imprensa enquanto director desportivo da lista de Dias Ferreira, candidato à presidência do grande clube lisboeta, disse umas aselhices quaisquer, mostrando que a comunicação não será o seu forte, e que, pelo truculento, levou o país inteiro a rir-se com vontade do outrora símbolo do futebol português.
Então o que aconteceu a seguir? Foi contratado para ser o rosto e a voz do Licor Beirão, e, a partir daí, nunca mais parou. Ele é presença em telenovela, ele é figura de proa em bar que abra em qualquer rua de uma qualquer cidade, ele é a cabeça de cartaz em qualquer vila que inaugure um qualquer campo de futebol.
Ora perante esta fulgurante ascendência ao estrelato com base numas patacoadas proclamadas em público, no mínimo, deve-nos fazer reflectir, porque não é comum. Sabe-se que habitualmente qualquer estrela sobe pelo seu próprio valor profissional, ou pelo talento imanente. Ou seja, normalmente há nestas acções um reconhecimento positivo.
É certo que não é a primeira vez. Provavelmente todos estaremos recordados do “Zé Cabra” quando, há uns anos, apareceu com um disco gravado que, por ser tão bem cantado, em metáfora, acabou com o mercado discográfico no país. É lógico que só “a posteriori”, no ridículo público em que caíram, é que serão iguais. Porque, pelo passado de glória, Futre não tem qualquer semelhança com o aspirante a cantor –claro que ninguém se admire que um dia destes este grande jogador também não grave um CD.
O que quero atingir neste caso de estrela cintilante de Futre, é que há aqui, nesta autenticação de luz brilhante assente em percalço de argumentação –escamoteando o passado, volto a repetir- algo de um sentimento sádico colectivo. Projecta o pior que há dentro de nós. É como se a colagem de “cromo” lhe fosse reimplantada à pressão. Por outras palavras, é como transformar um “Zé Maria” do “Big Brother”, de há uns anos na TVI, em estrela candente. É lógico que, tal como outros casos anteriores, este brilho desaparecerá depressa.

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