sexta-feira, 2 de setembro de 2011

EDITORIAL: NOITES BRANCAS, AFINAL COMO É?





 Como se sabe, hoje, desde as 10 da manhã e até às 24h00, a Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra (APBC), sob o mote de “noite branca”, levou a efeito uma série de iniciativas alegóricas que pretendem chamar a atenção e trazer novos públicos ao Centro Histórico.
Se o dia esteve cinzento, já a noite esteve amena e com boa disposição, isto é, sem chover. Ora, no mínimo, seria de supor que os comerciantes, em solidariedade com a APBC, maioritariamente estivessem abertos. Até porque cerca de 267 lojas e restaurantes comprometeram-se, com assinatura, em estarem de portas abertas até à meia-noite. E então, estiveram ou não muitos abertos?
Confesso que ao escrever este texto tenho de me conter. Vários sentimentos de indignação me atravessam a mente e, se seguisse o meu instinto, “passava-me”, mas vou tentar dizer o mesmo sem levantar o “tom de voz”.
Dos cerca de 250 comerciantes com estabelecimento comercial que prometeram estar abertos –através de assinatura de compromisso, volto a repetir- só menos de quatro dezenas se dignaram colaborar com quem se esforça para revitalizar a Baixa.
As Ruas Visconde da Luz e Ferreira Borges tiveram 14 lojas abertas; a Rua da Sofia 3; a Praça 8 de Maio nem uma –considerando que a “Coisas e Sabores” está na Rua da Louça; na Rua do Corvo estiveram 3 abertas por simpatia, uma vez que têm entrada por duas ruas; na Rua da Louça 5; na Rua das Padeiras 5; na Rua Eduardo Coelho e Largo da Freiria estiveram abertos 5 estabelecimentos; na Rua Adelino Veiga só uma loja esteve aberta; na Praça do Comércio estiveram 3 estabelecimentos; na Rua de Sargento-Mor esteve apenas uma loja aberta.
Então aqui, respirando fundo, podemos perguntar: a quem se destina este extraordinário esforço físico, psíquico e financeiro da APBC? Trata-se apenas de uma festa para o público em geral –assim tipo festa anual de romaria na aldeia- ou, com estas iniciativas, pretende-se essencialmente a colaboração de todos os profissionais do comércio para revitalizar, no seu próprio interesse, o tecido comercial?
Se calhar, as duas coisas, responderemos, mas o que subjaz é a tentativa de recuperação de uma  actividade profissional em estado vegetativo. Mas, a ser assim, não faz sentido os segundos, os comerciantes, que serão os mais interessados, alheando-se completamente do que se pretende ao trazer os visitantes à Baixa, num descaramento impressionante, cerrarem portas e apagarem todas as luzes, incluindo as das montras. Até porque, quem faz o favor de responder à chamada, vindo ao Centro Histórico, acaba por ficar defraudado e acaba a culpar a APBC por publicidade enganosa –quando esta instituição não terá qualquer culpa neste cartório de irresponsabilidade colectiva.
Este regabofe não pode continuar. Quem são aqui os camelos? Quem são os inteligentes? Os que teimam em abrir e colaborar com a ABPC ou os que, marimbando-se para todos, continuam a encerrar, à hora do almoço, ao sábado à tarde, nas “noites brancas” e, numa completa provocação, sem ligarem nenhuma ao que se passa à sua volta, procedem como se estivessem no melhor dos mundos económicos?
Vamos por partes, porque o caso é sério. Num tempo de vacas magras como o que estamos a atravessar não se pode continuar a fazer alegorias se os mais interessados não colaboram. Nestas iniciativas está muito dinheiro público, pago por todos nós –através do QREN, Quadro de Referência Estratégico Nacional-, em jogo. É preciso de uma vez por todas mandar um murro na mesa. A APBC tem obrigação de pedir contas aos comerciantes. Estes, de uma vez por todas, que mostrem o jogo e digam o que querem. Em metáfora, não se pode continuar a dar pérolas a porcos. Não estamos em tempo disso. Dá impressão que a maioria, neste caso quase todos, considerando que falamos de um universo de seis centenas de estabelecimentos, parece que goza com quem se esforça para realizar e os poucos que insistem em colaborar. E esta situação tem vindo a repetir-se vezes de mais. Mais ainda, este minar da esperança acaba por fazer desistir os poucos que teimam em acreditar que a Baixa comercialmente tem futuro.
É preciso voltar a lembrar que esta “noite branca” esteve planeada para ser no sábado e, por falta de adesões, a APBC teve de a adiantar para sexta-feira. Ou seja, no sábado não dava, mas, pelos vistos, não dá em qualquer outro dia da semana. Claro que pode ser invocada a chuva durante o dia, que, como desculpa, para a maioria deu um jeitão. Mas à noite nem pingou e centenas de pessoas vieram à Baixa correspondendo ao apelo.
Então? Como é que é? Continuamos a enterrar a cabeça na areia e fingimos que está tudo bem?


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4 comentários:

Pedro Paiva disse...

Viva Luís,
*1 - Acredito que este tipo de iniciativas só tem sucesso quando é o próprio comércio a ter a iniciativa (os parabéns devisdos ao esforço da organização). Nós por cá, temos pouca propensão para o associativismo. Assim, acredito que ou há outros motivos para ir à baixa, ou as lojas vão continuar a fechar. E pelo que descreve, provavelmente são os próprios a não fazer um esforço para sobreviver. Nesta tema, sou muito critico relativamente aos comerciantes. Mas será tema para desenvolver!

*2 - Muito obrigado pelo destaque. Sou um leitor atento das suas questões!
Muitas são ponto de partida para reflexões!
Espero que continue a dar o seu exemplo e não se canse de pôr dedos nas feridas, como tantas vezes e tão bem o faz.
Abraço

Edseco disse...

Boa noite Luis

Por manifesta falta de tempo, apenas hoje li no teu blog sobre a noite branca.
Perfilho da falta de adesão, em especial daqueles que se comprometeram a estar abertos e não cumpriram.
Permito-me tão só fazer uma correcção, na Rua Sargento Mór, não foi apenas uma loja que esteve aberta,mas sim duas.
Com uma abraço de amizade
Eduardo Costa

LUIS FERNANDES disse...

Obrigado, PP, por ter comentado. Só agora faço aqui referência, mas, na altura em que recebi o seu comentário coloquei-o em "caixa-alta", em primeira página. Obrigado, e, não preciso de o dizer, os seus escritos são sempre bem-vindos.

LUIS FERNANDES disse...

Obrigado, Eduardo, por teres comentado. Em relação á tua correcção, que agradeço, penso que estarás a juntar a restauração. No texto escrevo apenas sobre as lojas comerciais. Também não quer dizer que não esteja enganado. No entanto, salvaguardo que às 21h30, quando andei a dar uma volta pela Baixa, naquela rua apenas estava aberta a sapataria “Low Cost.
Abraço.