sexta-feira, 15 de julho de 2011

ESTOU (EN)TERTÚLIA(DO)



 

 Como se sabe, presumo, ontem o Gabinete para o Centro Histórico realizou o segundo encontro sobre o lema “À Conversa com o Centro Histórico”.
A primeira edição destas tertúlias sobre esta zona de antanho realizou-se na sede da Junta de Freguesia de Almedina. Nesse encontro, para além do anfitrião Carlos Lopes, esteve presente o presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Barbosa de Melo, o vereador Paulo Leitão e, como moderador, Sidónio Simões, Director do Gabinete para o Centro Histórico.
Nessa primeira iniciativa, como é normal, algumas coisas correram menos bem. Por exemplo o som…que não havia. Os oradores estavam dentro do altar –estas belíssimas instalações são de uma antiga capela- e, sem suporte acústico, não se conseguiram fazer ouvir pelo muito público presente. Para além disso, a meu ver, a hora em que se realizou, 18h00, era um pouco fora de contexto, no sentido em que, para além da proximidade do fecho das lojas, está muito próximo do jantar e, em caso de necessidade, não permitiria ir além do horário previamente estabelecido.
Na altura, no texto que escrevi, apontei alguns erros que conviria não repetir –é evidente que era uma opinião e valeria o que valeria.
Antes de continuar, considero estas iniciativas fundamentais para uma relação de proximidade entre o cidadão que usufrui, e goza, a cidade, trabalhador ou morador. Se estas iniciativas forem bem elaboradas, será uma forma de se ir buscar muitas ideias ao povo anónimo que, normalmente, não tem hipótese de participar na coisa pública –esta palavra tão vulgar hoje, que se chama participar na cidadania, é apenas um cliché. Na realidade poucos terão acesso ao poder. Ser ouvido, por incrível que pareça, é de uma dificuldade atroz nesta democracia em que todos vivemos. Então dizia eu que estes fóruns, se forem conduzidos de forma séria –isto é, não serem apenas fogachos para se dizer ao povo que se faz, mas depois, no seguimento, as deliberações dali saídas morrem sem oxigénio-, serão de uma utilidade extraordinária. E mais, ensinam o cidadão a ser prestável e solidário ao meio público em que está inserido. Por outro lado tornam-no menos crítico e passa a encarar o político como alguém que, afinal, está mesmo interessado em resolver os seus problemas –dele, cidadão.
Então ontem foi o segundo encontro e estava curioso por saber se teria havido melhorias. No meu entendimento, e sem querer ser, nem parecer, “bota-abaixista”, a tertúlia de ontem foi de uma pobreza lamentável.
Começou logo pelas instalações. Quanto a mim, se estamos a discutir ideias para o Centro Histórico –por uma questão de imparcialidade e até de dignidade-, estas questões deveriam ser tratadas no Salão Nobre da Câmara Municipal. O que aconteceu ontem foi, a todos os níveis, ridículo, no mínimo. A associação que cedeu o espaço gratuitamente, presumo, acabou fortemente criticada e vexada pelo público presente. Ali, na sua própria casa, a acusada, certamente para não parecer mal, renegou a sua própria defesa. Ora se fosse na Câmara Municipal, certamente, ninguém se sentiria compungido a arguir contra o que considera mal.
A seguir, por que razão não foram convidados os presidentes das juntas de freguesia envolvidas neste perímetro urbano, nomeadamente a Junta de Freguesia de São Bartolomeu e Santa Cruz? Não quero nem pensar que este não-convite de participar terá a ver com guerras partidárias. Recuso-me a acreditar neste meu pensamento.
Mais ainda, porque razão ontem não estava lá o presidente da Câmara Municipal, Barbosa de Melo, ou, no mínimo, um vereador do executivo?
Com todo o respeito por Sidónio Simões, que não tenho dúvida nenhuma de que é um técnico competente, respeitado pelo seu trabalho, e faz o melhor possível, ao que ontem assisti não gostei nem um bocadinho. A meu ver, este responsável, funcionário, não pode nem deve ir para um debate destes assumindo a posição dupla de moderador e representante político da autarquia. O que aconteceu ontem, exactamente por esta ambiguidade, é que, na intervenção do público, foi uma bagunça completa. Não houve ordem. Faltou ali a mão disciplinar de um moderador que apenas está ali para isso mesmo, ou seja, moderar intervenções e cortar abusos.
Mais ainda, a bem da continuidade destes debates não se pode ir para ali lavar “roupa suja”. O que assisti ali, ontem, foi a falta de compreensão pelo vizinho, o odiozinho mesquinho a revelar-se ali em toda a sua pujança de português medíocre –sem ofensa para ninguém. Era ali que um bom moderador fazia falta precisamente para travar as acusações rasteiras. E aqui, contrariamente ao que parece, por acaso, considero que os moradores até têm razão. Estes conflitos estão a acontecer, concretamente, por falta de autoridade da autarquia. O peso entre residentes e comerciantes terá de ser igual. No Centro Histórico são precisos mais moradores e mais hoteleiros. É preciso harmonizar os interesses das duas partes. No meu entender, nunca, excepto festas académicas por exemplo, um estabelecimento deveria ser autorizado a estar aberto para além da 1h00 da manhã no Centro Histórico. Ainda há pouco o Tribunal Administrativo, por acção intentada por um munícipe, sentenciou um estabelecimento da cidade a encerrar às 02h00. Ora, no meu entender, estamos perante uma escandalosa falta de intervenção da autarquia. Por conseguinte, para ser claro, apesar da razão dos moradores, muitas vezes, como ontem, na forma como se manifestam perante os infractores, não é cordial nem honesta. Há lugares próprios para reclamarem os seus direitos.
 Estes encontros terão de ser tratados mais na generalidade e menos na especialidade –como lembrou Carlos Lopes, presidente da Junta de Freguesia de Almedina, no fim do evento. Ou seja, estes encontros terão de transcender a queixa do residente –para isso há lugares apropriados e para o efeito, a Junta de Freguesia ou o executivo camarário aberto ao público- e entrar na procura de lugares comuns num futuro que todos procuramos. É para isso que estes debates deveriam servir. É uma pena se, especulando, por falta de inteligência de quem os promove –olhando para isto como quintas suas-, estas tertúlias morram na praia. Sinceramente lamento profundamente se assim acontecer.
Pela provável ganância, pela inverosímil ignorância burra, irá perder o Centro Histórico, irá perder a cidade, iremos perder todos. Porque é que as boas ideias -ou nem sequer arrancam ou se têm um início- têm sempre um fim curto e triste?

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