sexta-feira, 24 de junho de 2011

UM COPO DE ÁGUA, UM PALITO, O JORNAL DO DIA... E VOU À CASA-DE-BANHO!





 Na última sexta-feira, dia da “Noite Branca” promovida pela APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, em que milhares de visitantes aportaram ao Centro Histórico para participar e aplaudir as marchas populares em honra de Santo António, um café, ali para os lados do Largo da Portagem, cobrou 1,50 euros pelo uso da casa-de-banho a uma senhora, já que, pelos vistos, nada consumiu no estabelecimento. Um escândalo para quem soube deste grande abuso. “Incrível! Como é possível tamanha insensibilidade? Não pode ser! O dono deste café deveria ser açoitado no pelourinho da Praça do Comércio”, ouvi em frases entrecortadas trazidas pelo vento e que atravessou becos e vielas.
Igualmente foi isto mesmo que pensou, não foi?
Então continue a ler. Vamos ver o que pensam os diversos actores intervenientes e que concorrem para o esvaziamento do intestino e da bexiga.

FALA O ETELVINO

O Etelvino é "polidor de esquinas" profissional e normalmente estaciona ali na Praça 8 de Maio. Apanhei-o a sair da retrete do Café Santa cruz, ainda com as mãos húmidas e a cheirar a rosmaninho. Em passada larga de general em parada dirigiu-se para a porta de saída. Vamos lá ver se ele dá uma palavra para esta reportagem.
-Bom dia, Etelvino, estás bom?
-Ói… meu?! … Que é que se passa?
-Ó pá, desculpa lá, mas estou a escrever para o blogue sobre o uso das casas-de-banho dos cafés. Reparei que entraste, não passaste cartão às tropas –refiro o pessoal trabalhador do café-, foste direito ao receptáculo, esvaziaste a tripa, usaste papel higiénico, não te preocupaste em deixar tudo limpo para quem for a seguir, usaste o líquido para as mãos, gastaste água, ligaste o secador, e, no fim, sem consumires nada, saíste sem um obrigado.
-Ó meu… estás gozar comigo… é? –e pareceu querer crescer para mim. Fosca-se! Anda uma pessoa a querer mostrar trabalho sério e ainda arrisca a levar nas bentas. Ó égua! Tratei logo ali de retirar a ofensiva, passo a passo, e fiz-me de mansinho.
-Nem penses, ó Etelvino. Então achas?! Eu só quero escrever sobre este assunto. O que disseres será o que eu escrevo. –tentei acalmar a besta.
-Ah bom! –pareceu ficar mais descansado… e eu também.
-Ó pá, é assim: estes gajos ganham dinheiro que se fartam. Se têm as casas-de-banho são para a gente se servir. É ou não é? Onde é que ia fazer a minha necessidade, se estava apertado? Ia lá para diante, em frente ao Chiado, já que são os únicos “servicios” que existem para toda a Baixa?

E O QUE DIZ O DONO DE UM CAFÉ?

José Cruz é um dos sócios do vetusto e reputado Café Santa Cruz. Perante o meu pedido de comentar o uso indevido dos sanitários da casa, disse o seguinte:
“As pessoas pensam que as instalações sanitárias de um café não custam dinheiro. É água, é papel é detergente líquido, e, como se fosse pouco, ainda são as obrigações legais. Para quem cumprir –e nós cumprimos-, somos obrigados a ter uma desinfecção por semana que nos custa mais de 100 euros por mês.
Quando a frequentam, mesmo sem nada consumir, desde que não estraguem e não deixem tudo que parece uma estrebaria já fico contente. Mas olha que muitas vezes vamos encontrar a sanita que mais parece ter sido frequentada por irracionais.
Nós nunca cobrámos nada, mas às vezes sofro em silêncio –e faz um círculo em volta do estômago. Ainda há poucos dias um indivíduo entrou, foi direito à casa-de-banho, lá tratou do que tinha a tratar, e quando saiu veio aqui direito aos guardanapos de papel, retirou uma série deles, assoou-se à minha frente e nem um até logo disse. Estará certo isto? As pessoas se quiserem ir ao único lavabo público que existe aqui na Baixa têm de pagar. Mas se nós cobrarmos “aqui-d’el-Rei”. Nós, a hotelaria, através de cafés e restaurantes, substituímos as casas de banho públicas e ninguém nos paga para prestarmos esse serviço.”

COMO É QUE ISSO DE RETRETES PÚBLICAS?

No único sanitário público que existe na Baixa é frente ao Museu Municipal do Chiado. Tem um funcionário de serviço. Se for para “verter águas” não se paga nada. Se utilizar a sanita custa 20 cêntimos. O grosso da “clientela” é mesmo só para urinar. Num dia normal a venda de senhas nunca chega à dúzia. Lá poderá haver um dia que chegue aos vinte, mas isso é raro.
Só existem três sanitários públicos na cidade. Estes, para servirem a Baixa, outros nas Escadas de Quebra Costas com banho. À minha pergunta se lá vai muita gente para se banhar, responde que poucos lá vão. A maioria não sabe que também serve de balneário municipal.
O terceiro sanitário público fica situado junto ao Penedo da Saudade.

O QUE DIZ A H.R. CENTRO?

O Dr. Martins, advogado da Associação de Hotelaria do Centro, diz o seguinte: as casas-de-banho de um estabelecimento são para os seus clientes. Um proprietário pode fazer-se pagar pelo seu uso indevido –isto é, quando um utente manifestamente a frequente e nada consumir. No entanto, e esta premissa é fundamental, é preciso que o preço de utilização esteja afixado, para não incorrer em processo de especulação. Esta prestação de serviço é taxada a 23 por cento de IVA e é regulado pela lei geral do comércio.

1 comentário:

táxilivre disse...

Em Paris existem muitos cafés que só cedem a chave das instalações sanitárias mediante pagamento.
Decerto esse "AMIGO" importou essa ideia.