segunda-feira, 13 de junho de 2011

AS FOGUEIRAS DO ROMAL VISTAS PELA ROSETE "SEMPRE EM CIMA"





 Há dias de sorte, dizem. Não sei se há ou não. O que sei é que no sábado à tarde estava sem programa. Já ando um bocado farta de homens! São amigos, são amigos, mas no fundo, bem no fundo querem é fruta. Não sei se me entendem?! E é claro uma mulher como eu, mesmo boa “c’mo milho”, também se chateia. Estes “galos da Índia” não vêm mais nada à frente. Dêem-lhes umas mamas e um vale de pecado para mergulhar e não querem mais nada. A sua vida começa e acaba ali.
Por acaso no sábado estava “numa” de ir curtir uma de som. Já tinha todos os meus planos engendrados. Acendia umas quantas velas de odores, acompanhadas de intenso cheiro a incenso. Abria aquele “tintolas” de estalo, reserva de 1998, e guardado para ocasião especial, colocava o Tony Carreira a cantar só para mim e iria passar uma noite intimista sozinha mas muito bem acompanhada.
Foi então que recebi uma mensagem no telemóvel, fria e sem adoçante, do director do blogue, do Luís Fernandes -o meu antigo amor, amante, ó lá o raio que o parta, que eu já estou curada dessa ressaca- que rezava assim: “faça o favor de ir cobrir as fogueiras do Romal. Começam às 22 horas. Agradeço que não falte. Obrigada.”
Eu seja ceguinha se não mandei o estropício para o outro lado várias vezes. Então isto agora é assim? Envia-se uma mensagem e está de andar? E se por acaso eu tivesse uma saída projectada? Filho da mãe! Quando eu era o seu papel branco onde ele deixava a sua tinta, era amorzinho para aqui, pastelinho para acolá. Agora que, certamente já andará a fazer versos a outra, já nem se preocupa em falar comigo pessoalmente. Ai que irritada que eu fiquei! Bom, mas, como é meu hábito, contei até dez, respirei fundo, pesei os prós e contras, e, como magia transformadora, vi logo que estava perante uma grande oportunidade. Nos outros anos tenho por costume dar lá uma passadinha de dança e aquilo até nem é mau de todo. Vê-se lá de tudo.  Uma amostra de toda a colectividade. O professor universitário, a profissional do prazer horizontal, o “coça-esquinas”, e até aquele “engatatão” das dúzias, estilo “Zézé Camarinha”, com o cabelo cheio de brilhantina e os sovacos a cheirar a cavalo. Gosto daquele ambiente promíscuo, pronto!
Enfiei aquele vestido vermelho, que tem um decote até ao umbigo e que mal me cobre as protuberâncias traseiras, e que comprei há tempos nas modas Veiga –enquanto viver nunca me hei-de esquecer da cara do senhor Francisco, o dono da loja, quando me viu com ele na sala de prova. Ai “Jasus”, Nosso Senhor, que este experiente balconista até ficou sem ar!- e lá me pus ao caminho por entre estas ruelas estreitas e em direcção ao Largo do Romal.
Eram então cerca de 22 horas. Ainda estava lusco-fusco. Apesar de ainda ser cedo o terreiro já estava bem composto. O cheiro a sardinha assada era intenso e envolvente. Tão envolvente como o olhar lânguido, libidinoso, de carneiro mal morto, que o homem que estava a roer umas barriguinhas na mesa ao lado me lançou quando eu me sentei e, deliberadamente, deixei subir a saia até cá cima quase até ao cinto de ligas.
Ataquei então numas sardinhas, que por acaso me pareceram espanholas. Ainda as revirei para um lado e para o outro a ver se tinham código de barras mas já não vislumbrei a sua proveniência. Vinham acompanhadas com uns pimentos de gritos. Ainda hesitei uns segundos se os deveria comer ou não. Mirei, mirei –tal-qualmente como o mastronso continuava a olhar para as minhas pernas- e não me pareceu que estivessem contaminados com a bactéria mais famosa do momento, a E. coli. Virei a cântara para o meu copo várias vezes e comecei a sentir-me bem. Não há tristeza que resista a um bom carrascão.
No palco, o conjunto “Mar e Samba” começou a abrir e o povo, em toda a sua simplicidade e glória tristonha de mistura de tinto, branco e outras cores, começou a fazer-se à pista calcetada de calçada portuguesa.
Como é hábito e logo a abrir, o Carlos Clemente, o presidente da junta de São Bartolomeu, vai sacralizar o seu discurso, mais ou menos igual em todos os anos. “meus amigos, a Baixa está viva e recomenda-se. Mais uma vez a junta de freguesia, fazendo tudo pela tradição das fogueiras do Romal, está aqui a contribuir para a revitalização desta zona velha. Não posso fazer mais!!”
E estava aberto oficialmente o baile do Romal. O “Zé Malaqueco”, encostado com a perna a fazer um quatro na velha pedra carcomida pelo tempo e engelhada como a pele da menina Ernestina, como raio de luz saído de farol, lança um olhar perscrutador em todo o material feminino ao longo da velha praça.
O Pedro, da Sé Velha ensaia uma mini e verifica se o som está afinado. O Júlio “salatina”, para mostrar que dança melhor que qualquer um outro par, executa um passo doble. O “Zé da Anita”, de chapéu à Michael Jackson, ensaia uns virtuosos passos desequilibrados.
O Jorge e a Andreia, como se executassem a dança da laranja, com as frontes encostadas uma à outra, mostram como se dança bem na velha Baixa. E, quem sabe, talvez a querem dizer a todos que seguem atentamente a sua arte de encantar que o Centro Histórico precisa urgentemente de recuperar alguns dos seus velhos clubes, para se dançar como antigamente, o Rancho de Coimbra, o Sporting Conimbricense, as Patelas, na Conchada, por exemplo.
Foi então que vi a Dalila, uma minha amiga daqui da "baixinha", a dançar com as pernas mais lindas que vi até hoje. Elas punham as minhas a um canto. As “legs” de Tina Turner ao pé destas eram uns pregos de aço vendidos ao quilo na loja de ferragens do Franklim. Não é por nada, mas senti cá uma inveja! E então não é que a miúda era ainda uma adolescente? Ai quando crescer vai lavrar fogo por estas bandas.
Tudo dançava com grande empenho. Até a Celeste Correia, uma minha amiga daqui ao lado, atirava-se à música sem preconceito de escolha e sem querer saber se era pimba ou “roça-roça”.
Foi então que, perante a admiração geral, entra o presidente da Câmara Municipal, Barbosa de Melo, acompanhado da sua esposa. Ficou tudo a olhar. É que há quase uma década que, nestas festas populares, aquele encantador larguinho não conhecia o número do calçado de nenhum presidente da edilidade. Até o “Tozé!”, o “bombeiro de serviço do Bloco”, ficou admirado e veio ter comigo a interrogar: “olha lá, ó Rosete, aquele não é o Barbosa? Estarei a ver mal?!”
E o Clemente, por acaso de camisola laranja, que não dá vaga para a oposição, e não perde uma oportunidade para brilhar, mais uma vez lá foi ao palco: “meus senhores, eu bem dizia que a Baixa está viva e recomenda-se. Até temos entre nós o senhor presidente da Câmara Municipal de Coimbra!”. E o povo bateu palmas. Para fazer jus e mostrar que há um corte com o passado, o sucessor de Encarnação, foi puxado para a roda por uma residente e não se fez rogado.

1 comentário:

Jorge Neves disse...

Tive muita pena de não estar presente nas Fogueiras do Largo do Romal e de não ter ajudado o Executivo da Junta, mas tenho sempre presente em primeiro lugar os valores da familia e foi por questões familiares que não estive presente.