terça-feira, 3 de maio de 2011

É PRECISO EXPORTAR TRISTEZA

(FOTO DE LEONARDO BRAGA PINHEIRO)



 Hoje estou naqueles dias que nem lá vou nem faço nada. Para onde quer que me vire só vejo futilidades. Comecei logo de manhã. Olhei o espelho e fiquei parvo com a imagem reflectida. Quem era o velho que estava à minha frente? Pelos traços, parecia-me alguém chegado. Dei voltas, voltas à cabeça e por mais esforço mental que fizesse não via a luz. Seria o meu pai? Não, o meu pai não poderia ser porque, além de ter falecido há mais de uma dezena de anos, tinha poucos cabelos brancos e a figura que estava ao alcance de um olhar tinha a cãs completamente prateada. Mas quem seria esta cara? Eu não era de certeza! Se eu me sentia como se tivesse 30 anos, é evidente que não tinha nada a ver com a fronha que me aparecia à frente com as sobrancelhas completamente brancas e a crescerem desmesuradamente e com uns pêlos a querem saltar do nariz. E com tanta ruga na fronte e na zona lateral ocular? Às tantas seria o meu avô Crispim. Ele também já morreu, mas, sei lá?!
Vim para o trabalho, sem grande vontade, é óbvio, que isto agora já não dá gozo nenhum. Vendendo-se pouco perde-se o fio condutor. É como se fossemos combatentes, habituados à liça, e, de repente, toca o clarim: acabou a guerra. Olhamos à volta, miramos a espada, tornamos a olhar, viramo-la ao contrário e interrogamos para que serve aquilo agora? É como se nos transformássemos numa bússola que perdeu o magnetismo e a agulha roda sem destino à procura do Norte. É o mesmo que um católico ter perdido a fé. Então vai à igreja só porque está habituado e não tem mais nada para fazer. Enquanto está sentado no longo banco de madeira vai pensando na vida e enquanto o padre vai pregando o sermão, a sua mente, em viagem transcendental, está a milhares de quilómetros.
Vou tomar o café da manhã –por este andar, é um pequeno prazer que tal, como a “guerra”, vai desaparecer. No pequeno estabelecimento onde, como barco à deriva, me ancoro em porto de abrigo, noto que as mesas, diariamente, estão cada vez mais vazias e entregues a fantasmas. Nas poucas ocupadas, algumas empregadas de comércio têm um semblante triste. Lá no canto, duas senhoras, estabelecidas há poucos anos, com uma loja, não conseguem disfarçar a preocupação que lhes vai na alma.
O dono do café, que adquiriu o negócio há cerca de quatro anos e num tempo em que dava para perspectivar um futuro sem grandes nuvens, raramente ri. Tal como todo o comércio tradicional, como se fosse uma correia de transmissão, foi diminuindo de dois funcionários, nessa altura, e até hoje que está sozinho, e com cada vez menos clientes.
Ao longo destes anos, entre nós, foi-se estabelecendo uma amizade relacional e normal entre dono do café e cliente. Todos os dias o cumprimento da mesma forma: “bom dia! Como é que estamos hoje?”. Como sempre e habitual, vai responder-me: “bem… bem lixados!”
Abro os jornais da manhã –outro vício que começa a ser questionado- e, como odores de chá, aspiro o desequilíbrio em que vive a nossa sociedade. No Jornal de Notícias (JN), a um quarto de página a fotografia de Bin Laden, morto recentemente pelos americanos. Em desenvolvimento no interior do periódico leio as declarações de vários líderes políticos. É evidente a hipocrisia perante o grande império americano. As afirmações destes chefes de grande responsabilidade na Europa vão desde, “é o resultado do esforço persistente dos EUA (…) e dos que acreditam num mundo assente no diálogo e na tolerância entre povos e culturas”. Tive que ler duas vezes para perceber estas afirmações do nosso Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva. Já as declarações de Durão Barroso é que eu não percebi mesmo patavina –ou seja, perante o calculismo, recuso-me a entender. Reparem no discurso: “A EU mantém o apoio aos EUA, aos parceiros internacionais e aos amigos do mundo muçulmano para combater o flagelo do extremismo global”.
Vou só mostrar mais uma de David Cameron, primeiro-ministro inglês: “Bi Laden foi responsável pelas maiores atrocidades terroristas no mundo. É um grande sucesso acabar a sua campanha mundial de terror”.
Com franqueza, sou completamente contra e não tenho a mínima simpatia pela causa do terror imposto ao Ocidente pela al-Qaeda. Sem dúvida que é preciso lutar contra o flagelo do terrorismo, mas há um pormenor muito importante que não podemos esquecer: esta caça ao homem será a melhor forma de lutar contra o fanatismo muçulmano? Com sinceridade alguém acredita que, sabendo que os mortos se transformam em mártires, esta maneira de vingança irá refrear o ódio de uma franja deste povo contra o mundo moderno? Será que não é lançar gasolina num pequeno incêndio? Com a morte deste líder o mundo irá ficar mais seguro? Com a execução de Sadam Hussein, e depois do óbito exposto de forma torpe e indigna perante um planeta que se diz desenvolvido e civilizado, o Iraque tornou-se mais pacífico?
É lógico que as questões do terrorismo são complexas, mas, se calhar, ao responder com mais violência ao extermínio, mais não se está do que ampliar essa mesma impetuosidade. Não sei se esta morte de um homem –porque é de um ser humano que se trata- foi ou não planeada por Obama tendo em conta a sua reeleição. Se o foi, é simplesmente aterrador. Mesmo não sendo com esse objectivo continua a ser. O mundo ocidental, na actualidade, perante os árabes, continua a comportar-se da mesma forma desrespeitosa e selvagem que as Cruzadas na Idade Média. Apesar de terem passado mais de sete séculos, aparentemente, continua a ser uma batalha dividida entre o bem e o mal. Só que o bem para uns pode não ser exactamente visto da mesma forma por outro.
Continuando na leitura do JN, vejo a foto de José Castelo Branco na sua pose ridícula e no seu aproveitamento pela TVI, num programa mais que ridículo gravado na Namíbia. Não admira que a sociedade esteja cada vez mais bronca e bata palmas à morte de um homem –mesmo sendo ele um líder sanguinário e exposto ao mundo como um troféu de caça-, quando as televisões gastam dinheiro em malformações do espírito como este programa –e no caso da SIC a mesma coisa, com aquele horrível “peso desgraçado”.
Dou uma volta ao Correio da Manhã e, para fugir à morte, vou directamente para alegria dos meus olhos, e que é uma foto de uma mulher nua –bem sei que você está a pensar o mesmo que eu: que, logo de manhã, sendo a imagem do espelho a minha, por isso, estando assim “velhadas”, não deveria continuar a gostar de carne tenrinha. É isso que estava apensar, não era? Que quer? Tenha lá paciência comigo!
Então, perante a imagem desta boa rapariga –“Boa” com letra grande-, luso-francesa, que se chama Marie Brethenoux, fiquei a saber que é muito safada na intimidade. Quem haveria de dizer?
Continuo a ler, e fico a saber mais. Que esta inocente rapariga tem o melhor rabo de Portugal. Em reflexo mental, numa altura em que tanto se fala em bens transaccionáveis, passíveis de serem vendidos nos mercados internacionais, pensei o quanto somos um país rico e não aproveitamos bem as nossas riquezas naturais. De certeza que cus como este devemos ter aí aos milhares e ao virar da esquina. Porque é não se exportam para abater a nossa dívida? Quando penso nesta questão, imediatamente dou razão ao PCP, quando diz que não temos necessidade da intervenção do FMI, basta tão só vender os nossos activos.
Bom, se calhar, o melhor é mesmo é ir ver se faço alguma coisa. Que pena estar velhote. Ai se eu fosse novo e mulher…


1 comentário:

Sónia da Veiga disse...

Luís, um conselho; deixe de ler os jornais, que vai ver que fica logo mais bem-disposto, ou, no mínimo, menos mal-disposto. E se a isso juntar deixar de ver noticiários e canais de notícias, então aí até vai acordar a sorrir!
E não é como se fosse perder alguma coisa de importante, porque isso sabe-se sempre tudo, seja por ouvir falar, seja por ler na blogosfera!

E deixe lá os activos em paz e sossego! Olhe que um avô tem que ter juízo!!! ;-P