sábado, 30 de abril de 2011

PERANTE O ALHEAMENTO GERAL, 3 MÚSICOS TEIMAM...



 É um sábado, à hora do almoço, igual a tantos outros na Baixa. A tarde está cinzenta. Parece ameaçar chuva. As lojas comerciais estão quase todas encerradas. Contam-se pelos dedos das mãos..., e dos pés, os logistas que estão abertos e teimam em fazer o contrário dos seus colegas. Sim, porque isto é mesmo teimosia. Se a maioria encerra, certamente, estará de ver que a razão pende para o seu lado. Mas estes poucos que remam contra a maré, se calhar, lá terão as suas razões. Serão talvez, em metáfora, uns cruzados em terra de serracenos, sei lá! Pode ser que um dia consigam converter os infiéis.
Na Praça 8 de Maio, em frente à Câmara Municipal, está uma exposição de carros da década de 1960. Poucas pessoas estão interessadas nas máquinas que marcam a história do automobilismo mundial. 
Andando um pouco mais para  a frente, junto à Igreja de Santa Cruz, um grupo de músicos espanhóis tenta por todos os meios, incluindo a sonoridade dos seus instrumentos, chamar a atenção dos poucos transeuntes que passam. Afinal serão estes passantes a razão de eles também teimarem em mostrar as suas composições. De vez em quando, raramente, lá cai uma moeda. Mesmo assim continuam a pisar as cordas sem falta de ânimo.
Mais à frente está o Luigi a tocar viola. É italiano e chegou hoje à Lusatenas. Não conhece nada da cidade dos estudantes. Interroga-me se todos os comerciantes da Baixa serão como uma senhora que vende flores mais acima. É que, segundo as palavras de Luigi, praticamente ela enxutou-o à "má fila". Como se ele fosse uma coisa qualquer. Lá o tento tranquilizar que a grande maioria de comerciantes não são assim. Pelo contrário acarinham os músicos de rua, pois sabem que estes artistas desenvolvem um profundo trabalho social. Luigi pareceu ficar mais descansado. Não sabe quanto tempo vai ficar em Coimbra. "São caras as casas para arrendamento, aqui na cidade? E podemos estar a tocar aqui na rua, sem a Polícia Municipal (PM) vir aborrecer?". Lá lhe vou dizendo que é preciso tirar uma licença na autarquia. Mas, adianto, que nos últimos anos a PM passou a ser muito mais sensível com quem mostra a sua arte na rua -afinal, se as pessoas estão na rua é mesmo por não poderem pagar um espaço físico. Não é lógico? Se bem que a autarquia de Coimbra ainda terá muito que melhorar a sua relação com quem, a troco de uma moeda, se esforça por alegrar as artérias da cidade. 
Segundo sei, para se tocar nas ruas da calçada, a mensalidade de segunda a sexta-feira é de 15 euros. Se incluir os fins-de-semana passa a ser de 50 euros. Sei também que o preço para as ruelas da Baixinha já é muito mais acessível: custa cerca de 35 euros para todo o mês e incluindo o fim-de-semana. Sei também que os músicos desempregados, desde que apresentem comprovativo, e depois de requerem isenção, ficam libertos do pagamento.
Mais à frente, junto ao Largo da Portagem, o Luís Bartolessi com o seu saxofone alegra quem passa e, com os seus sons melodiosos, tenta assediar São Pedro para que não decida mandar chover tão cedo.
Ao longo das ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz -talvez solidários com os comerciantes encerrados- não se vislumbra nenhum músico nacional e que habitualmente se vê durante a semana. Hoje, sábado, dia 30 de Abril, estas ruas estão por conta da internacionalização. Mas isso será de admirar? Não será a música o vento de sons que não conhece fronteiras e chega a todo o lado, incluindo a Coreia do Norte?

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