sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

SE ESTA RUA FOSSE MINHA (2) - LARGO DA FREIRIA





  O Largo da Freiria é um recanto rectangular a meio da Rua Eduardo Coelho e quase em frente à Rua das Padeiras. Terá de área aproximadamente150 metros quadrados. Fica a cerca de oito dezenas de metros da igreja de Santa Cruz, em Coimbra. Não se sabe muito bem de onde lhe virá tal topónimo. Crê-se, no entanto, que poderá advir de uma Freiria, convento de freiras ou freires nos séculos XVII ou XVIII. O que poderá ser verdade, tendo em conta a proximidade de várias igrejas situadas no Centro Histórico.
Por alturas de 1990, no canto esquerdo estava a sapataria Reis, e ainda hoje se mantém aberta ao público com o Manuel Magalhães à frente do negócio. Continuando do mesmo lado, logo a seguir estava uma loja de fotografias, propriedade do senhor Arlindo. Tinha dois empregados, a Amélia e o José Antunes, já falecido. Hoje está encerrada. Paredes-meias era um armazém de miudezas, o José Augusto Santiago, que vendia botões, fechos, linhas, tiras bordadas e tudo o que dissesse respeito a costura. Tinha uma particularidade: o rés-do-chão do estabelecimento estava a mais de um metro de altura do chão, devido às constantes inundações do “Basófias”, do Mondego, que até à construção da Barragem da Aguieira, em 1980, raro era o inverno que não alagasse a Baixa. Hoje é um estabelecimento de velharias e antiguidades, O Encanto da Freiria.
No final do século XX, continuando do mesmo lado esquerdo, no canto, estava a “Moda Jovem”, uma loja pertencente a José dos Santos Coimbra, das Galerias Coimbra e da Casa São Tiago, junto à Praça do Comércio. Este espaço fora adquirido por este grande comerciante por volta de 1980. Hoje é um estabelecimento vazio e encerrado. No alçado pode ler-se: Boutique Romy.
Até ser adquirido por José Coimbra, durante várias décadas, fora um armazém de fermentos da Sociedade de Padarias, Lª, uma grande firma que, desde a 2ª Guerra Mundial, dominou o fabrico e o comércio de pão em Coimbra. Esta associação comercial teve várias padarias, com fabrico e venda de pão, espalhadas em toda a cidade. Tinha uma também no largo de que falamos: era a Padaria Popular, do doutor Bela. Daí estar ao lado do armazém de fermentos. O seu encerramento ocorreu na década de 1980, por falência da grande sociedade de que eram activos. Hoje, a testemunhar o tempo heróico do pão cozido em forno de lenha, ainda se pode apreciar os belíssimos painéis de azulejo, pintados à mão, da fábrica Aleluia, de Aveiro, e a designação comercial “Padaria Popular” na fachada do edifício mesmo em frente de que passa na Rua Eduardo Coelho. Este belíssimo espaço carregado de história comercial e industrial da Baixa é hoje muito bem ocupado pelo “Snack-bar Padaria Popular, do Sérgio Ferreira.
Ao lado, com uma entrada exclusiva, era o Sporting Nacional, uma agremiação desportiva de grandes sucessos no atletismo, a partir de 1920, nesta parte velha da cidade. Era composto por um grande salão de baile que ia até à Rua Visconde da Luz. Nesta altura de 1990 era já apenas um resquício historial do grande clube. Vinte anos antes, num negócio mal esclarecido que a maioria dos sócios não entendeu, o grande salão de baile foi cedido a um grande banco nacional. O histórico clube ficou apenas reduzido a duas pequenas salas de cerca de vinte metros quadrados cada. Hoje, por incúria, por desrespeito da menos de meia dúzia de sócios existente e ainda vivos –que não restituem a chave para que se salve o espólio-, o património deste grande Sporting Nacional jaz entregue às chuvas de destruição do edifício em decomposição.
Seguindo agora do lado direito em direcção à Rua Eduardo Coelho, encontramos um lindíssimo edifício, já em mau estado de conservação, mas onde é visível o ferro forjado tão identificativo dos grandes mestres do ferro de Coimbra. Numa das bandeiras pode ler-se a data de 1878. No piso térreo foi um grande estabelecimento de mercearias, café moído e vinhos até princípios de 1960. Nessa altura encerrou para nunca mais reabrir. Hoje, como amostragem do desleixo, todo o edifício jaz abandonado à sorte do tempo. Logo a seguir, numa entrada de porta de acesso ao edifício da Topal, estava o senhor Guerra a vender tudo o que era rádios, cassetes pirata, pilhas e outros acessórios ligados a música. Hoje é simplesmente uma entrada de prédio e nada mais.
Dando um passo para a direita era o estabelecimento de pronto-a-vestir Topal. Quem espreitasse através das várias montras de vidro, para além do senhor Paulo, o proprietário, poderia ver-se a atender vários clientes a Lucinda, a Isabel e o Carlos. Este último viria a arrendar o estabelecimento ao patrão e, durante uma década, manteve-se ao leme deste barco comercial. Com os ventos de crise que assolou o comércio tradicional, com o negócio sempre a cair, este homem garboso e habituado às intempéries, com esta viagem, alegadamente, viria a perder tudo, incluindo a sua própria casa e nem sequer teve direito a subsídio de desemprego –aliás, sorte igual a todos os comerciantes que tenham o azar de cair na miséria. Uma injustiça, uma discriminação incompreensível num país que tanto fala em justiça e ajuda aos mais necessitados.
Hoje, a antiga loja Topal é ocupada, e muito bem pela sua contribuição para um comércio de qualidade, pelas modas Veiga.
Em resumo, o Largo da Freiria, em relação a 1990, tem dois estabelecimentos encerrados e um que se extinguiu.

2 comentários:

Anónimo disse...

Bom dia Luis

Mais um artigo daqueles de qualidade que o meu amigo já nos abituou.
Na parte onde falas dos santiagos deixa-me alertarte que foi um armazem de miudesas e dava pelo nome de Jose Augusto Santiago,lá comprei muitos feixos,tiras bordadas,linhas,interiores,etc,paraa retrosaria jorui que pertencia ao Mendes e Cruz,chegou a ter 4 empregados mais o patrão e um deles chegou a fazer a viagem o ultimo foi o Lemos
Obrigado por me teres recordado outros tempos
que saudades
abraço
Edu Carvalho

LUIS FERNANDES disse...

Obrigado Edu, pelo comentário e pela ajuda. Em boa verdade, apesar de ter conhecido tão bem o armazém de José Augusto Santiago, não me conseguia lembrar. Ainda perguntei a duas ou três pessoas aqui na rua, mas ninguém se lembrava.
Obrigado, meu amigo, vou rectificar.
Um grande abraço.