terça-feira, 7 de dezembro de 2010

NÃO DAR PARA O PEDITÓRIO




 A Baixa, nos últimos anos, progressivamente, tem vindo a perder pedintes –escrevo da classe “profissional” que infesta as ruas das cidades. É também verdade que, infelizmente, pelo que estamos a viver, foi ganhando outros, mas isso para o assunto que trago aqui à colação não interessa nada. O que quero dizer é que me fazia alguma espécie a razão desta deserção. Se todos sabemos que por trás de uma consequência estará sempre uma causa, andava há imenso tempo a tentar compreender este fenómeno. À falta de melhor, pensei cá com os meus botões, “bom, havendo menos transeuntes no Centro Histórico, comparativamente há uma dezena de anos, é natural que os solicitadores do óbolo (e)migrassem para outras paragens”. E de certa maneira até descansei o meu constante questionar, embora nunca mais perdi esta ansiedade.
Foi então, desde há uns tempos a esta parte, que um conhecido pedinte lança o caos na rasteira economia da pedincha na urbe: “dê-me um cêntimo por favor!”. Talvez o leitor, porque estará menos atento, não se dê conta de que estamos perante uma medida deflacionária que, se não houver intervenção pública, pode acabar com a concorrência no sector, sobretudo aqui na Baixa. Não sei se está acompanhar o meu raciocínio, mas é assim, este homem está a vender serviços –sim senhor, eles prestam um serviço, mas agora não tenho tempo para explicar- abaixo do preço de custo (dumping).
O que estranhava, mais uma vez, era uma explicação satisfatória que me levasse a compreender para, quase diariamente, este “profissional” pedir apenas um cêntimo, sabendo nós que os custos com alimentação, performance, criação de pregão popular, tudo isso junto, subiram nos últimos anos. E o homem, há mais de três anos, sem entrar em insolvência, cá se mantém a pedir a mais ínfima moeda do Sistema Monetário Europeu.
E eu, não sei se conseguem imaginar, em longas noites de insónia, assim naquela posição do pensador de Rodin, com a mão debaixo do queixo, interrogava-me: “porquê? Porquê? Porquê?”…
Foi então que, finalmente, hoje ao ler o Diário de Coimbra na última página, se me acendeu uma luz fortíssima no cérebro. Até que enfim, tinha descoberto o “vírus” que estava a destruir a classe dos mendicantes. Lá estava: “Reagindo às posições dos vereadores do PS, o presidente da Câmara de Coimbra afirmou que já deu “para este peditório”. Nesta pequena frase está tudo. Está ou não está claro? Claro que está! Carlos Encarnação já deu para todos os peditórios. Não sei se estou a conseguir ser claro, mas essa é a razão fundamental de o mendigo pedir apenas um cêntimo. Isto é tão clarinho como a água que corre num riacho da minha aldeia.
Para conseguir ser ainda um pouco mais translúcido, tenho de esclarecer que esta reacção do presidente surgiu porque o vereador do Partido Socialista Álvaro Maia Seco desafiou o edil de Coimbra a “procurar, sem “partidarice”, congregar vontades de todas as forças partidárias” na defesa do projecto da Metro Mondego”.
Ora, não é difícil de ver que os pedintes da Baixa, e mais propriamente o “reivindicante” do cêntimo, estão muito mais à frente que o vereador Álvaro Seco. Os “profissionais” da moeda já viram há muito que Encarnação não alinha em peditórios para a cidade –e também para o Cidade, que é também o presidente da Concelhia do PS.
Sendo assim o que têm de fazer os vereadores da oposição? Utilizar a mesma táctica do cêntimo. Ou seja, a oposição em vez de pedir o seu material apoio em congregação de esforços na defesa do Metro Mondego, deverá pedir apenas um pensamento ao presidente da Câmara. Mas isto não é evidente? Isto só prova que os antagonistas da Coligação Coimbra com Amor não andam por aqui pelo Centro Histórico.

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