sábado, 11 de dezembro de 2010

EDITORIAL: ESTA SOCIEDADE QUE NOS RODEIA




 Depois de constatar hoje a destruição de uma mensagem na figura alegórica ao Pai Natal a entrar numa chaminé com um saco de prendas, na Praça 8 de Maio, inevitavelmente temos de reflectir.
Se tomarmos em conta, nos anos anteriores, a destruição das peças alusivas ao presépio de Cabral Antunes, que durante muitos anos esteve sempre presente junto à Câmara Municipal e agora, este ano, está no seu interior, e o furto do Menino Jesus há dois anos, somos levados a pensar que não há volta a dar a esta nova sociedade emergente.
Antes de continuar, para melhor me consubstanciar, vou só mostrar aqui uma notícia do jornal Correio da Manhã, cujo teor nos conta que um casal, sem qualquer inibição, foi apanhado a fazer sexo no Metro de Viena. Veja o vídeo, clicando em cima deste sublinhado.
Então se já o visionou o que mais o impressionou? Foram as imagens? Foi o à vontade do par? Ou teria sido a (não) reacção dos utentes do metro, preocupados apenas em obter o melhor plano para fotografarem e filmarem através do telemóvel?
O que se verifica ali é uma completa omissão por parte do público em repudiar o acto explícito. Pelo contrário, pode ver-se que, como se estivessem num qualquer palco, ainda incentivavam à prestação. Felizmente, por cá ainda não é assim, mas depressa lá chegaremos. Ainda há dias, no Porto, na Rua de Santa Catarina, houve um caso idêntico, mas o casalinho levou que contar.
Sinceramente, não tenho uma moral demasiado rígida e prefigurada no passado. Sou flexível e tento aceitar quem pensa de modo diferente. Tenho para mim que a ética e a moral, enquanto valores, são dinâmicos e se vão transformando –para uns, para pior, para outros, para melhor. Essa discussão sempre existirá, mas a verdade é que mesmo que os mais velhos sejam menos permissivos à mudança ela ocorrerá naturalmente. Já os princípios que nos devem reger serão menos propensos à mudança –a maioria das pessoas tende a confundir valores com princípios, mas não serão a mesma coisa. Só para exemplificar melhor, em metáfora, digamos que os “princípios” serão as veias centrais do corpo humano que transportam o sangue ao coração. Os valores serão os pequenos vasos de ramificações que o distribuem pelo físico. Ainda para tentar ser mais claro, o homicídio, enquanto princípio, continua a estar plasmado na Bíblia da religião Católica Romana –“não assassinarás”- e nas diversas Constituições do mundo inteiro, enquanto "Alma Mater" de todos os direitos e obrigações. No entanto, sendo de certo modo um pouco incompreensível, nalgumas nações existe mesmo a pena de morte e noutras, como a nossa, permite o aborto medicamente assistido. Cada vez mais constatamos o singelo da vida perante penas de absolvição por uma morte provocada por acidente/incidente de automóvel ou trabalho. Então, parecendo opostos, o que acontece? Simplesmente isto, não sem uma grande hipocrisia à mistura, continua-se a respeitar o PRINCÍPIO de salvaguarda “maxime” da não provocação do acto que leve à morte da espécie, mas, por outro lado, esvaziando completamente o seu teor, flexibilizou-se, desvalorizando, o VALOR vida. Acredito que, depois de tentar perceber a minha explicação, ainda ficou mais confuso, mas é assim mesmo…uma grande confusão.
Voltando ao tema que me levou a escrever, ou seja, a forma como a sociedade se comporta perante um atentado a um bem cultural ou um acto atentatório ao pudor, dá a parecer que a colectividade, progressivamente, embalada em ventos de liberdade e modernismo, ou pós-modernidade, quer é espectáculo, nem que seja destrutivo do ponto de vista material ou moral. Isto é, a sociedade, enquanto reserva moral e ética, foi perdendo a capacidade de se indignar e repudiar em acção directa certos acontecimentos que ferem os seus princípios.
Por outro lado, pegando no exemplo do presépio de Cabral Antunes que durante décadas esteve exposto na rua e agora, por questões de segurança, foi colocado no átrio da autarquia, o que aludimos? Pura e simplesmente que o Estado, enquanto garante dos tais princípios e da segurança jurídica de pessoas e bens, renega a sua condição e foge à sua responsabilidade. Ora, perante isto, que leituras farão alguns? Provavelmente mais ou menos isto, se o Estado não reprime –e pela omissão incentiva-, certamente, é porque o que se está a fazer é o correcto, ou, pelo menos, dá prazer e ninguém repreende ou pune. Logo, por silogismo, pensam alguns, "por um lado, não havendo penalização, poderemos continuar a destruir património. Por outro, não havendo policiamento que estimule e, pela coercitividade, garanta os bons costumes, vamos fazer o que nos dá na real gana…porque está certo. Vamos lá gozar o dia e destruir, que para a frente é o caminho".

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