quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

BAIXA: A SEPARAÇÃO DO ANO




 Não se fala de outra coisa aqui pela Baixa da cidade. A dona Maria, que vende revistas, jornais e outros que tais, enquanto faz o troco ao freguês, lá mete a bucha ao maltês: “o senhor já viu? Mais um grande divórcio na cidade. se fosse em Hollywood dava um filme. Então o homem jura amor eterno a Coimbra e agora divorcia-se dela? Também é verdade que a gaja é uma "puta" fina. Sempre a exigir mais, mais, ao homem. Sempre cada vez mais. Esquecendo-se que ele já tem uma certa idade e já não pode alinhar nestes esforços que até lhe provocam aceleração no coração. Até lhe podia ter dado uma “sulipampa”.
 Enquanto namoraram, talvez embrulhado no enleio de todas as paixões, prometeu-lhe mundos e fundos. Mais do que devia, já se sabe, queria era levá-la para a cama. Depois, no meio de gritinhos de prazer, em vez de lhe assegurar um carrito de marca popular, não senhor, prometeu-lhe um Metro Ligeiro de Superfície. Diga-me lá, com franqueza, não lhe podia ter oferecido umas viagens confortáveis nuns transportes colectivos mais atractivos e menos poluentes, por exemplo? Onde é que isto já se viu? Os homens são mesmo uns totós, o senhor não acha? –Ai, desculpe, até me esqueci que o senhor também pertence à classe!
Mas continuando, em vez de lhe prometer uma assistência normal e regular para os miúdos que aí viessem, não senhor, prometeu um grande Hospital Pediátrico. E é claro, aquilo, a construção, começou a meter água por tudo quanto era sítio, que mais parecia o rebentamento do saco de águas da mulher, e deu no que deu. Ou seja, está como nós estamos todos: à espera.
 Criticou demais o antigo amor da gaja –ai, como é que ele chamava? Deixe ver se me lembro do nome dele…(nestas ocasiões de falta de memória, faço analogia e vou ter sempre ao José Afonso…”não há …machado que corte…”)... isso, é isso mesmo: Manuel Machado. Como ia dizendo, criticava o Machado porque não cativava novos investidores, afinal, tudo continua na mesma. Quando é preciso mostrar alguma coisa lá vem o cliché “Critical Software” e o sucesso do IPN, Instituto Pedro Nunes, como a melhor incubadora de empresas de base tecnológica do mundo, mas esta grande parideira já vem dos anos noventa, do tempo do outro… Machado.
Diga-me lá, senhor, porque é que ele lhe foi oferecer uma ponte pedonal a ligar as duas margens? Está bem, concordo que está bonita toda aquela zona do Parque Verde, mas que diabo, não era muito mais barato, e muito mais romântico, umas viagens de barquito a ligar as duas margens? Ele é que não é nada romântico, metia a gaja no barco, paravam no meio do rio, dava-lhe um grande selo nas bochechas, fazia ali mesmo o aquecimento, não sei se me entende? Então não é isto que uma mulher mais gosta? Mas não, tinha logo que lhe dar uma ponte pedonal? Para quê? Ele já está velhote, meio trôpego, e, agora com os netos, nem tem tempo para andar a passear com ela pela mão. Para que foi aquilo? O senhor entende? Eu não!
Claro que a gaja, como todas as mulheres –eu que o diga, que sou mulher- começou a aperceber-se das fraquezas do seu amante e toca de abusar. Ah pois! Dizem as más-línguas que meteu muitos familiares da gaja na autarquia. Tudo a pedido. Se é verdade ou não, eu não sei. Só estou a contar o que ouço aqui dizer aos meus clientes no quiosque. Por aqui passa tudo, toda a oposição, não sei me entende?!
Ainda há outra coisa que me faz arranhar na cabeça, porque licenciou tantos parques de estacionamento se lhe prometeu um metro ligeiro? E estradas? Ai, senhor? Para quê tantas estradas?! Ainda bem que aqueles gajos da Plataforma do Choupal evitaram, através de uma Acção Popular no tribunal, a construção do atravessamento da Mata Nacional. Se não fosse assim era mais uma. Esses gajos da Plataforma são comunistas, não são? Ai, devem ser, só pode?!
E já agora mais uma coisita –bem sei que já estou a chateá-lo de mais-, porque é que, em vez de a acompanhar nas compras aqui à Baixa, nestas lojas de comércio tradicional, começou a licenciar “shoppings” e mais “shoppings”? Comprar no Centro Histórico é parolo? O senhor acha? Lá que falamos demais, lá isso é verdade, mas também lá nas grandes superfícies só se fala “finesse”. Aquilo é tudo plástico, a começar pelos sorrisos amarelos e importados de Taiwan. Aqui não. Aqui na Baixa é tudo ao natural. Por cá não e fazem implantes -e coloca as duas mãos em concha amparando as mamas. Ora apalpe aqui! Nesta zona não se alinha lá nos conselhos do Papa para enfiar a coisa…não sei se me entende?!
É claro que perante tantas cedências, num grande amor destes, isto tinha mesmo que acabar em divórcio. O senhor não acha? Então se não há dinheiro para nada, se ele faz parte de “uma família nobre com brasão a cair” –parafraseando o presidente da ACIC-, para quê tantas promessas? É lógico que tinha de dar nisto, em divórcio, é evidente. O senhor não acha?!”

4 comentários:

Jorge Neves disse...

Acho, mas tambem vamos continuar a ver mais do mesmo.
Lá vou ficar sem mais um "amigo" virtual no Facebook, aposto que o Barbosa de Melo vais fechar a página ou limitar o acesso.

Jorge Neves disse...

Frase de Maló de Abreu no Facebook:

As notícias sobre a minha morte são manifestamente exageradas. [Mark Twain]

Jorge Neves disse...

Em relação à renuncia do actual Presidente Carlos Encarnação, se for pelos motivos que tive conhecimento e que não os vou divulgar por serem pessoais, compreendo perfeitamente a sua decisão, só não concordo com a actual lei que permite outra pessoa assumir a liderança.
Vou deixar uma pequena frase que li hoje num jornal local que me levou a compreender a decisão do Presidente da Autarquia, "... a ser avô profissional..."

Jorge Neves disse...

E vão três!
Esqueci-me de dizer que o nóvel presidente de Coimbra é um Barbosa de Melo! Isso mesmo, também ele filho do velho Barbosa de Melo, Prof. da UC e ex-deputado do PSD! Conclusão: O PSD virou um partido monárquico, à semelhança de do PC cubano e do PC norte-coreano