segunda-feira, 15 de novembro de 2010

COIMBRA: ERA BOM ERA...






 Conta aqui o jornal PÚBLICO que a Universidade de Coimbra (UC) entrega hoje à Comissão Nacional da Unesco o “dossier da sua candidatura a Património da Humanidade”.
Diz também, continuando a citar o jornal, que “Esta candidatura não se limita ao núcleo histórico e central da UC. Também contempla, fora da Alta universitária, a “Rua da Sofia, na Baixa da cidade, considerada a justo título”, com os seus colégios, “o primeiro ou pelo menos um dos primeiros campus universitários na Europa e, portanto, no mundo”.
Era bom que a cidade fosse contemplada no vasto mapa cultural da Unesco e viesse a fazer parte integrante do roteiro cultural do mundo. Mas olhando apenas para a Baixa, e até pode começar na Rua da Sofia, alguém acredita nesta proclamação?
Basta dar uma volta pelo Centro Histórico da Baixa, que está muito pior do que a Alta para ver que tal processo será infrutífero. Antes fosse. Era bom para toda a economia da cidade, mas não tenhamos ilusões. Esta parte baixa da urbe cai aos bocados.
Para além de edifícios completamente aos ratos, sem utilidade, e a caírem todos os dias mais um pouco, há prédios abandonados há vários anos, com início de obras, como é o caso de um no Largo da Maracha e outro no Largo da Freiria.
E não se pense que a culpa recai toda nos proprietários. Antes pelo contrário. Não tenho dúvida nenhuma em afirmar que os donos dos prédios são umas vítimas perdidas no meio da burocracia. Concretamente na reconstrução do Largo da Freiria, acompanhei de perto e sei do que digo. Reconstruir de raiz na cidade, na Baixa, é entrar num labirinto e nunca mais conseguir sair. As exigências são tantas, tão absurdas, que o futuro deste edifício e o do Largo da Maracha, provavelmente, será a autarquia ter de retomá-los através de posse administrativa e concluir as obras.
No tocante aos restauros de edifícios ainda recuperáveis, enquanto não se mexer, por um lado, no Regime de Arrendamento Urbano, tornando-o equitativo, através da retribuição de uma renda justa -acabando com rendas miseráveis de meia-dúzia de euros-, e, por outro, o Estado, através do governo, não mostrar vontade de revitalizar as partes velhas das cidades, emprestando dinheiro a taxa zero aos proprietários, contratualizando o seu uso futuro para arrendamento a custos controlados, tudo continuará na mesma. Esta omissão, esta falta de vontade em criar instrumentos que permitam a recuperação das cidades é criminoso. Uma parte deste desleixo, ao abandonar o arrendamento nas últimas décadas em detrimento da compra, já estamos a pagar caro. Esta crise, estes milhões gastos nos últimos anos em bens não-transaccionáveis (bens não susceptíveis de serem transaccionados nos mercados internacionais, isto é, não sujeitos à exportação, e portanto praticamente adstritos ao mercado interno), no caso em construção nova, levou a um endividamento externo por parte da banca que hoje, todos, estamos a pagar com língua de palmo.
Para além disso, basta lembrarmo-nos da desertificação dos centros históricos e verificarmos o vazio económico criado com a nova construção nas últimas duas décadas.
Enquanto não se pegar neste assunto como um imperativo nacional, bem pode a Universidade de Coimbra, bem podemos todos sonhar com milhares de novos visitantes na cidade.

2 comentários:

Jorge Neves disse...

Mais um prédio a cair na baixinha na zona do Romal, pode conferiri aqui:
http://independentepelafregueia.blogspot.com/2010/11/mais-um-predio-em-ruinas-na-baixa-da.html

A.R. disse...

Certeiro,como sempre.Obrigado pelo serviço cívico que vem prestando com coragem e persistência.
Albino Rodrigues