quinta-feira, 26 de agosto de 2010

HOJE, FAZ ANOS QUE NASCI...


(IMAGEM DA WEB)













 Todos os dias, quando me levanto por volta das oito e pouco da manhã, a mensagem que me tem sido transmitida até agora  pelo espelho foi sempre igual: “estás a ficar velho, mas, porque mentalmente te julgas novo, o teu amigo, com a tua mesma idade, aos teus olhos, está muito mais!”.
Hoje, de manhã, foi muito diferente. Estava eu ainda a lavar a remela dos olhos, depois de uma longa noite de sonho, em que eu era um príncipe perseguido pelas mais belas mulheres, quando estremunhado, como se fosse picado por uma aranha feiosa e tentacular, levanto um olhar para a minha imagem reflectida e, cá de dentro, dos subterrâneos da minha alma, pareço ouvir: “hoje estás mais velho: fazes 54 anos!”.
Fogo, foi como se tivesse levado uma “trolitada” na cabeça, assim como se fosse acometido de doença súbita -dei comigo a soletrar: “Já?”. Palavra de honra que, mentalmente, dava-me para aí…sei lá?! Talvez metade, na ordem dos 25…27 anos. Por acaso, é verdade, quando passava pelos meus amigos da minha criação, pensava com os meus botões, em lamento sofrido: “ai, coitados, como estão velhotes!”.
Eu que até tinha o meu espelho em boa conta –pensava que era meu aliado-, afinal, logo de manhã, atira-me como uma destas: “estás mais velho: fazes 54 anos!”.
Por acaso, até já tinha desconfiado que se passava qualquer coisa entre a minha idade mental e a real. É que, de vez em quando, sem que eu fizesse nada para isso, começava a dar-me uma pontada nas costas, uma dor de cabeça, uma picada numa perna. Dava comigo a lançar um trejeito de admiração: “olé! O que é isto? Eu nunca fui gajo para andar embrulhado com doenças ou dores invasoras?!”.
Reparei também que me estava a tornar frouxo, assim mole, não sei se estou a ser claro. Sei lá, agora, uma qualquer situação de sofrimento faz-me chorar. Por exemplo, um filme que eu agora veja, se for uma cena de partir um coração, pronto!, lá estou eu de lágrima a balouçar. Ora eu nunca fui de gotejar. É certo que sempre me considerei sensível, mas conseguia dominar as emoções. Agora não! Pareço uma Madalena arrependida a lacrimejar por dá cá aquela palha. Porra!, perante qualquer situação menos boa, estou sempre a fazer uma espécie de balanço existencial. É como se antes de dar um passo perguntasse à outra perna se o devo dar. Que “caraças”, eu nunca fui assim. Será que dentro do meu eu actual não estará outro? O que é que se passaria para ficar uma amostra do que fui noutro tempo?
Modifiquei-me totalmente, até na libido. Esta “rapariga”, que me acompanhava sempre com toda a “cagança” e pujança, parece que me abandonou. Já não olho para um bom “pedaço” de mulher com os mesmos olhares faiscantes de antigamente. É assim um olhar de carneiro mal morto, não sei se consigo ser claro. Ora, a meu ver, o culpado disto tudo foi o espelho, que me andou a enganar mais de vinte anos. Quer dizer, perante uma verdade tão evidente, até chego a pensar que, às tantas, fui conivente nesta trama. Então eu não deveria ter tomado mais atenção aos pormenores que me iam aparecendo no dia-a-dia?
 Eu deveria ter visto logo, quando coloquei de lado aquele sonho de ter um castelo. Ora, se passei a vida toda a imaginar-me dono e senhor de uma fortaleza e agora desembaracei-me dessa fantasia com toda a facilidade? Eu deveria ter visto logo que alguma coisa grave estava a mudar a minha pessoa. E mais ainda: eu sempre imaginei ter uma quinta com cavalos…e até essa quimera eu mandei às urtigas. 
Passei a contentar-me com a …quinta-feira. Agora só quero paz e descanso. Tenho de estar mesmo arrumadinho do cabeçote. Eu deveria ter visto logo, era ou não era? Pois era, mas que querem? Eu sempre pensei que não envelhecia! Lá poderia eu adivinhar que era igual aos outros?


4 comentários:

Jorge Neves disse...

Parabens amigo, nunca mude, continue como até agora e seja feliz junto de quem mais ama.

LUIS FERNANDES disse...

Obrigado, Jorge.
Um grande abraço.

Anónimo disse...

Muitos parabéns,Luís.
Olhe que o envelhecimento que refere no texto(o facto de chorar,etc.),não o é.Aquilo que o meu amigo tem visto nesse espelho chama-se crescimento interior,melhoria do seu ser,humildade e altruismo.
Continue a escrever como tem feito,que outros continuam a ler.A minha prenda?Penso que é uma boa prenda esta:vou continuar a ser seu leitor,e por outro lado,vou-o recomendando-o a outros internautas.
Luís gostava de lhe dizer só mais uma coisa.Estou-me a borrifar se a virgula ou os acentos estão no lugar,desde que as mensagens ou os assuntos me continuem a interessar vou continuar por aqui.E,o meu amigo sabe,que ainda recentemente a «mensagem» era para mim,e para além disso ajudou-me,foi bastante importante para mim.
Parabéns do seu amigo,Marco

P.S.:É claro que a pontuação e o bom português é importante.Foi apenas uma figura de estilo,para afirmar que as ideias que transmite nos seus textos são mais importantes do a forma que os escreve.

João Braga disse...

Então não havia novidades, nenhumas, malandreco. Deixa estar que eu passo aí para a outra semana, que na próxima vou de férias .... mais que merecidas. Um abraço