sexta-feira, 16 de julho de 2010

LIXO?...HÃ...ONDE? AH...POIS...





 São nove e pouco da manhã desta Sexta-feira. A Rua das Padeiras, naquela modorra própria da manhã, ainda com poucos ruídos de fundo, mantém-se pachorrenta. Umas lojas já abriram, outras, através dos donos ou empregados, ensaiam a colocação de peças nos patins que ladeiam os pequenos estabelecimentos para chamar a atenção dos clientes. As “amostras”, como sempre se chamaram a estas peças indiciárias de que no interior da loja haverá muito mais e que funcionam como uma espécie de isco. Já há muito tempo que devido aos furtos são cada vez menores as “amostras” a engalanar estas lojas tradicionais, tão típicas das zonas velhas das cidades, e a fazer lembrar as ruas do Norte de África de génese árabe.
Agora, à frente das sapatarias, apenas se coloca um sapato de cada número. Na retrosaria do Eduardo, não vá o diabo tecê-las, este comerciante pendura as peças um pouco mais alto para que um qualquer “esgalhado” não tenha tentação. De vigia, coloca um grande cartaz com uma rapariga de formas generosas e libidinosas e com um sorriso tentador. Quem sabe o malandro não se distraia a olhar para a garota e se esqueça da “palmada ligeira”, que, mesmo sendo leve, pelo prejuízo, tanta diferença fará ao mercador de linhas, fechos, rendas e galões a metro.
 Só um pormenor salta à vista nesta artéria, outrora tão movimentada de pessoas e plena de artificies, desde picheleiros, azeiteiros, merceeiros, oleiros e toda uma plêiade de profissões que entraram no rol de “desaparecidas em combate”: uns sacos de lixo, com várias folhas espalhadas pelo chão jazem ao abandono na calçada portuguesa.
Interrogo um comerciante:
-Ó pá, já viste o presente que te colocaram à porta? –utilizei a palavra “presente” porque lembrei-me que à porta do Francisco Veiga, há cerca de um ano, quase em provocação, todos os dias lhe deixam sacos com entulho.
-Já, já vi –respondeu.
-E não sabes de quem é? Interroguei. Deve ser pessoa daqui próximo, estão ali envelopes com endereços.
-Não, não sei quem é. Tomara eu saber…
-Mas já ligaste para os serviços? Insisti.
-Não, não liguei, hoje nem trouxe o telefone. Mas, mais logo deverá passar aí o funcionário da ERSUC, aquele que anda com uma vassourita na mão –estás a ver quem é?- e certamente vai limpar isso -enfatizou.
Fui beber o meu café. Enquanto passava os olhos pelas notícias do dia nos jornais, a minha mente, teimosamente, remetia-me para aquele monte de lixo. Normalmente o funcionário da limpeza, que anda por aqui diariamente empurrando um pequeno carro de duas rodas, recusa-se a levar sacos. Ainda há dias o interpelei para que removesse uma série deles que, logo de manhã, se encontravam à frente das Modas Veiga e ele respondeu que as ordens que tinha eram apenas para limpar o lixo ligeiro, não para levar sacos. E o lixo lá ficou.
Enquanto sorvia o café, ia travando um pequeno conflito entre os meus heterónimos. Atirava um: “porque é que te estás a chatear com isso? Deixa lá ficar o lixo…ele nem está à tua porta. E mais: se o comerciante que está ao lado se está a marimbar para o assunto”.
Replicava o outro: “ó meu, desculpa lá, mas isto não está certo…em nome da civilidade, alguém tem de denunciar a porcaria que muitos teimam em fazer e para poucos limparem. Tens de fazer alguma coisa. Qual é a tua? Parece que nem te estou a conhecer…”
Cheguei à loja e, cerca das 10H00, liguei para a Polícia Municipal (PM). O agente que me atendeu, depois de lhe expor o caso, referiu que sabia onde estava o lixo, porque o tinha visto de manhã, quando lá passou, mas isso não era com eles, a remoção de lixo era de outro sector da autarquia. Lá fui argumentando que o que pretendia era que se identificasse, através dos envelopes, o autor material do despejo ilícito a fora de horas. Até porque, há dias tinha recebido uma comunicação da Câmara Municipal a informar-me que este serviço de investigação era do foro da PM. O agente retrucou que não tinha percebido a minha intenção e que, sendo assim, iria enviar alguém.
A seguir dirigi-me ao comerciante, vizinho do espectáculo de lixo, e informei-o de que tinha contactado a PM e que viriam aí para investigar o autor.
-Ai ligaste? Fizeste bem. Acho que agora, que estive a ver os envelopes, já sei de quem é. Acho que é de uma vizinha brasileira, que mora aqui ao lado. Eles pensam que estão no Brasil, ó quê? –Remoeu no assunto.
Confesso que já me falta a paciência para lidar com um certo tipo de pessoas que querem estar bem com Deus e com o Diabo.
-Escuta uma coisa, temos de intervir para defender a nossa rua, não achas? Agora, não se pode é deixar o trabalho sujo (denunciar) para os outros –ruminei um bocado enfastiado.
-Tens razão! É verdade, sim. Todos devemos comparticipar na cidadania…”meu”!...


2 comentários:

Jorge Neves disse...

Aqui deixo a resposta à exposição que fiz à CMC, em relação ao lixo e sujidade das ruas da Baixa.
"Ex.mo Sr.:
A missiva que Vexa dirigiu a este Departamento, mereceu a nossa melhor atenção. Nestes termos, cumpre-nos informar que, a limpeza das ruas da Alta e Baixa da cidade de Coimbra é da responsabilidade da empresa ERSUC, S.A.. Assim, procedeu-se ao reencaminhamento da presente reclamação para essa empresa, solicitando a expedita resolução da situação exposta por Vexa.
Com os melhores cumprimentos.
O Departamento de Ambiente e Qualidade de Vida."

Anónimo disse...

Caros Amigos.
Pode ser que com a vossa ajuda, a Autarquia perceba que a Junta de Freguesia de São Bartolomeu, quando apela aos Serviços a necessária limpeza, não é para incomodar, mas sim alertando para as situações incorrectas que existem na nossa Baixa.
Vejam que na Rua da Gala, junto a uma Tinturaria a qualquer hora, colocam lixo na esquina para a Rua Simão de Évora.Verdade é que nunca tive a sorte de assistir a esta situação, porque se Deus me der essa sorte, garantidamente a coisa muda de figura.
Depois o Presidente da Junta é narcisista e muito mais.
Excelente trabalho do amigo Luis, como sempre atento aos problemas da Baixa. Agradecido pelos contributos.
Um abraço
Carlos Clemente