terça-feira, 13 de julho de 2010

CARTA AO ÁLVARO...





 Meu caro Álvaro Seco espero que esta carta te vá encontrar de boa saúde, a ti, à tua senhora e aos meninos. Não sei se te lembras de mim –quase aposto que não. Sou um tipo chato como ó “caraças” que te azucrinou o juízo num debate sobre o Choupal, na Oficina Municipal de Teatro, ali no Vale das Flores, aquando da campanha eleitoral.
Talvez te lembres, sabes porquê? Porque, normalmente gravamos na nossa memória quem nos confronta directamente olhos-nos-olhos. Habitualmente, sendo tu um técnico credenciado em transportes, professor, e agora político, sabes bem, as pessoas raramente te olham nos olhos. O que quer dizer que, não o fazendo, só te dizem o que tu queres ouvir. Não sei se estou a ser claro, se calhar não. Embora com muita dificuldade em explicar-me, tento dizer-te, que quando alguém nos confronta directamente, temos tendência em não nos esquecermos mais da sua cara. Podemos até nem nos recordarmos de onde, mas, perante aquele rosto, numa busca de mnemónica obsessiva, começamos a pensar: “eu conheço aquele gajo. Ai, de onde é que é…? E o tipo já me criou chatices…isso eu sei! Ai, mas de onde é…?”.
 Bom, mas deixando-me de filosofias porque isso não interessa nada, vou continuar na minha carta. Gostava de te dizer, Álvaro, que nunca fui à bola com a tua cara. Desculpa lá, sei que é chato dizer-te isto, mas é verdade. Tens um rosto duro…parece de pugilista. Desculpa lá outra vez, ó Álvaro, mas é assim: a gente olha para a tua cara e começa logo a fazer gestos de defesa, como se estivesse a lutar num ringue de box…não sei se estou a ser claro! Ó Álvaro, porra, desculpa lá outra vez, mas quando tu surgiste como candidato do Partido Socialista à Câmara Municipal de Coimbra, em metáfora, veio-me à ideia aquela imagem do “canalizador polaco”, que passou em França, estás a ver? Para mim, eras um invasor estrangeiro numa cidade nossa…não sei se estou a ser limpinho como a água?! Como escrevi aqui, achei que foste um erro de “casting” na escolha do teu partido.
Pois hoje, ó Álvaro, através desta carta, desta missiva simples, como se fosse Egas Moniz envolto no baraço, venho pedir-te desculpa pelo meu apriorismo bacoco. Desculpa lá ter pensado tão mal de ti. Bem sei que estás curioso em saber qual o motivo que me levou a mudar de ideias a teu respeito. Estás não estás? Calma, que eu já te explico tudo tintim-por-tintim.
É assim: ontem quando li no jornal Público e hoje no Diário de Coimbra que, perante a eminente paralisação e suspensão das obras do Metro Ligeiro de Superfície, decretada pelo governo do teu partido, tu, sendo o presidente da empresa, estavas na disposição de te demitires, confesso, perante uma posição de tão elevada dignidade, ó Álvaro, fiquei contente. Não é todos os dias que uma pessoa muda de opinião acerca de um político. Bem sei que, sem dúvida, afinal eu nem te conheço pessoalmente. E mais ainda: “quem vê caras não vê corações”, lá diz o povo na sua eterna sabedoria. Mas que queres? Às vezes sou um bocado “p’ro burgesso” e esqueço-me disso tudo. Tu sabes bem do que falo…porque também és um bocado emotivo. Tens o coração ao pé da boca. E as consequências, às vezes, são um desastre para nós. Mas isso, para aqui, não interessa nada. O que importa, ó Álvaro, é que estou contente por me ter enganado a teu respeito. Ainda bem. Estou muito contente. Assim os teus colegas políticos seguissem o teu exemplo –que se calhar até terão mais responsabilidade no cartório do que tu, porque andaram a vender “metro” ao centímetro a toda a gente e desde que votassem neles.
Portanto, e em suma, toma lá um abraço ó Álvaro! Espero que aceites…agora não te faças caro! E desculpa lá ter pensado mal de ti. Ainda bem que me enganei…

2 comentários:

Anónimo disse...

A atitude de Álvaro Seco é digna, é a resposta mais correcta ao 1º ministro Socrates, há poucos políticos assim.

Ainda há pouco, foi nomeado para a administração da Metro, um bacoco, oriundo da vereação anterior da CMC, para ele o tacho, saíu furado mas, não pediu a demissão.

L. Pereira

Anónimo disse...

ANTÓNIO LUÍS FERNANDES QUINTANS no seu melhor . Hoje acordou realmente inspirado