sábado, 24 de julho de 2010

BOM DIA PESSOAL...


(IMAGEM DA WEB)







 Como é que estão? Estão bem? Espero, sinceramente que sim. Se não estão completamente felizes, deixem lá. A felicidade, se repararmos bem, afinal, não passa de um estado de alma. Vai e vem. É curioso, mas poderemos perfeitamente ver um indivíduo que tudo tem para enfrentar a vida e, no entanto, está completamente infeliz, sem ânimo, para dar um passo até à rua e ser banhado pelos raios solares que tão bem fazem  à força anímica. Pelo contrário, e constato isso tantas vezes, uma pessoa pobre, cheia de problemas financeiros, estranhamente, é uma pessoa feliz. Estou a lembrar-me de alguém próximo de mim, mais concretamente uma mulher de trinta e poucos anos. Tem três filhos ainda pequenos. O marido ganha pouco e ela idem aspas. Pois impressiona-me a sua boa disposição. Outra curiosidade: é uma pessoa muito ignorante. Noto que é uma ignorância substantiva/adjectiva. Isto é, por um lado, substantivamente, porque não é muito inteligente, no sentido de a classificar como “esperta”, como se dizia antigamente –felizmente que os conceitos de inteligência foram alterados. Por outro lado, adjectivamente, porque mesmo sendo um pouco limitada, não deveria ter tido possibilidades de adquirir conhecimentos, e por ali ficou, provavelmente, com o 4º ano de escolaridade. O que a seguir o meu raciocínio, se calhar, quanto mais alheados vivermos da realidade, é possível que sejamos muito mais despreocupados e até mais felizes. Quem é indiferente a tudo o que se passa à sua volta será muito mais descontraído. Quer queiramos, quer não –noto por mim- esta quase obsessão por estar a par de tudo, nas notícias, acaba por deprimir e gerar um sentimento maior de insegurança.
É certo que a idade transforma-nos completamente. Há medida que entramos na andropausa –se é que existe-, quanto a mim, dá-se um fenómeno muito curioso. Tornamo-nos menos materialistas e mais espirituais. É como se crescêssemos em direcção ao Universo. Deixamos de ser jogadores onde, pela necessidade de se ganhar, se aposta tudo. Até a alma, se necessário for para garantir a jogada. Fazemos continuamente “bluf”, na mesa de jogo da vida, chegamos a ir à parada com três duques. Com a idade, passando o meio século, creio, passamos a ser mais recatados e cuidadosos. Já não apostamos de qualquer maneira. Tornamo-nos mais humanos. No pano verde da existência passamos a olhar para os rostos dos adversários. Atentamos mais no brilho dos seus olhos, nas rugas que emolduram a testa, o contrair dos lábios, o sorriso falsete.
Passamos a olhar mais à nossa volta. Concertamos as nossas relações de afecto com as pessoas mais chegadas. Acarinhamos mais os filhos. Choramos ao abraçar o primeiro neto. Reparamos no homem que arruma os carros e até lhe dizemos “bom dia”. Passamos a pedir desculpa com mais facilidade. Às vezes, no reiterar da explicação, até nos tornamos chatos. Contrariamente a outros tempos, passamos a ir ter com aquele amigo que já não víamos desde a escola secundária, e até lhe damos um abraço. Como velhos sentados à lareira, desfolhamos o nosso livro existencial…” e lembras-te disto? E daquilo? E do professor tal, que usava chapéu?”. E, em momentos de saudade, andamos para ali a rebuscar retalhos de memória que há muito estavam arrumados no baú das recordações e que não contávamos em mexer-lhes mais.
Tornamo-nos mais racionais. Passamos de sonhadores a tempo inteiro a sonhar de vez em quando. Até o dormir encurta e passa a ser diferente. Em balanço da vida, escolhemos os mais importantes –os que serviram de bandeira à nossa passagem terrena-, aqueles em que tanto apostámos, de realização pessoal, e, por um motivo ou por outro, vimo-los desvanecerem-se à nossa frente, como flocos de neve que o calor do Sol impiedosamente derreteu. Nestes, continuamos a ter esperança de um dia os podermos realizar. Os outros, que tinham a ver com a ambição material –ter uma quinta com cavalos, um castelo-, paulatinamente, como a escolher as melhores cartas para trunfo, colocamo-los no caixote dos “perdidos em combate”.
Em resumo, creio, transformamo-nos para melhor. É evidente que estas alterações psicológicas não acontecerão com todos. Só sucederão a quem tiver tempo para se aperceber delas…

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2 comentários:

Paula Raposo disse...

Exactamente. Concordo contigo. Beijos.

LUIS FERNANDES disse...

Obrigada por teres comentado.
Um beijo.