quinta-feira, 17 de junho de 2010

UM PEDIDO DE SUBSCRIÇÃO



Cara(o) Concidadã(o) / Contribuinte,

José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Amália Rodrigues, Luiz Goes, Carlos Paredes, Pedro Caldeira Cabral, Manuel Freire, Carlos do Carmo, Fausto Bordalo Dias, Sérgio Godinho, José Mário Branco, Luís Cília, Vitorino, Janita Salomé, Teresa Silva Carvalho, Pedro Barroso, Paco Bandeira, Carlos Mendes, João Lóio, Afonso Dias, Francisco Naia, Quarteto 1111, Banda do Casaco, Trovante, Né Ladeiras, Teresa Salgueiro (no seio dos Madredeus ou com o Lusitânia Ensemble), Amélia Muge, João Afonso, Filipa Pais, Isabel Silvestre, Mísia, Margarida Bessa, Mafalda Arnauth, Mariza, Joana Amendoeira, Cristina Branco, Maria Ana Bobone, Ana Laíns, Carla Pires, Aldina Duarte, Camané, António Zambujo, Ricardo Ribeiro, Rão Kyao, António Pinho Vargas, Júlio Pereira, José Peixoto, Pedro Jóia, Ricardo Parreira, Luísa Amaro, Eduardo Ramos, Francisco Raimundo (Reymundo), Brigada Victor Jara, Ronda dos Quatro Caminhos, Vai de Roda, Maio Moço, José Barros & Navegante, Real Companhia, Quadrilha, Gaiteiros de Lisboa, Frei Fado d'El Rei, Galandum Galundaina, Vá de Viró, Encontros da Eira, Belaurora, Toque de Caixa, Realejo, Danças Ocultas, Mandrágora, Dazkarieh, Roldana Folk, Lúmen, Pé na Terra, Diabo a Sete, Notas & Voltas, Contrabando, Roda Pé, Marenostrum, Moçoilas, Segue-me a Capela, Assobio...
O que têm em comum estes artistas portugueses?
Duas coisas: em primeiro lugar, todos são detentores de uma real e reconhecida valia artística e, nessa medida, com um contributo significativo (em maior grau nuns casos do que noutros, naturalmente) para o património musical/cultural português; em segundo lugar, todos eles, e ainda muitos outros de mérito (a lista completa seria fastidiosa), estão a ser ostensiva e reiteradamente marginalizados pela rádio pública portuguesa. Uns (a maioria), pura e simplesmente, não constam na lista de difusão musical (vulgo 'playlist') da Antena 1; outros (poucos) tem uma presença tão residual e rarefeita que conseguir ouvi-los na emissora estatal torna-se um exercício tão difícil como encontrar uma agulha num palheiro.
Em contrapartida, um determinado lote de nomes da chamada "pop de plástico" recebe tratamento de privilégio, quer em número de temas musicais incluídos na 'playlist', quer na frequência de difusão dos mesmos. Para agravar a desgraça no tocante às escolhas da produção nacional, a música anglo-americana que cai no goto de quem põe e dispõe na 'playlist' da Antena 1 (e também na da Antena 3) é, em termos genéricos, da mais reles e rasteira que é possível encontrar no mercado. Coisa assaz incompreensível, havendo tanta e boa música oriunda de Terras do Tio Sam e do Reino de Sua Majestade (e não só).
Posto isto, uma questão se impõe: é aceitável que a rádio do Estado, suportada com o nosso dinheiro (que nos desembolsam na factura da electricidade: 3.50€ + IVA, a cada bimestre) esteja a proceder deste modo? Uma pessoa medianamente formada – não precisa de ser um intelectual – responderá obviamente que não. A rádio pública, se existe, é para servir os ouvintes, facultando-lhes uma oferta musical diversificada e de qualidade, e não para satisfazer o gosto medíocre dos fazedores de 'playlists' e/ou para prestar favores ao 'lobby' da indústria discográfica.
Por conseguinte, é imperioso que os cidadãos/contribuintes levantem a sua voz contra esta vergonha e indignidade, que está a castigar, e sem razão, uma parte muito significativa dos melhores autores/intérpretes portugueses e, bem assim, os rádio-ouvintes aos quais a sua arte está a ser criminosamente ocultada. Sem prejuízo de outras acções, designadamente o recurso ao Provedor do Ouvinte, uma das formas dos cidadãos manifestarem a sua insatisfação pelo actual estado de coisas é assinando apetição "Por uma ANTENA 1 mais divulgadora da música portuguesa"(http://www.peticaopublica.com/?pi=P2009N490) que o Prof. Emiliano Toste teve a louvável iniciativa de lançar à subscrição pública. Mais divulgadora, entenda-se, da melhor música portuguesa, que a temos em quantidade e com uma assinalável diversidade estilística. Daquela que não nos envergonha em qualquer parte do mundo e que – nacionalismos à parte – é a marca distintiva da nossa identidade cultural.
A propósito, um pequeno exercício. Imagine-se que um cidadão estrangeiro (um japonês ou um americano, por exemplo) que tendo assistido, no respectivo país, a um concerto de Amália Rodrigues, dos Madredeus, da Mísia, da Mariza, da Mafalda Arnauth, da Ana Moura, da Cristina Branco ou da Joana Amendoeira (ou de outro artista português que vem fazendo carreira internacional), e fascinado com a descoberta, resolve visitar Portugal a fim de conhecer mais aprofundadamente a nossa cultura. Desembarcado no aeroporto da Portela (mas também pode ser no de Pedras Rubras ou no de Faro), chama um táxi que o transporte ao hotel que antecipadamente havia reservado para a sua estadia. Comodamente sentado no banco de trás do automóvel e vendo que há auto-rádio, dirige a palavra ao taxista: «Gostaria de ouvir a música do vosso país. Pode ligar o rádio na emissora oficial portuguesa, por favor?» O taxista assim faz, sintonizando o aparelho na Antena 1. O turista vai ouvindo a emissão, não deixando de manifestar, pela expressão facial, a sua surpresa e perplexidade pela oferta musical da estação. Chegado ao hotel, paga a bandeirada, majorada de uma simpática gorjeta, e, com um sorriso amarelo, exclama para o taxista: «Como é possível que vocês mandem artistas tão bons lá para fora e eles não passem cá na vossa rádio?! Inacreditável!» Esta é a opinião de um forasteiro, mas que muitos autóctones certamente partilham.
Estimada(o) concidadã(o): se a música portuguesa mais qualificada e autêntica não lhe é indiferente, peço-lhe que não deixe de exercer os seus direitos de cidadania!
Não se esqueça de que só com a intervenção cívica dos cidadãos/contribuintes as coisas poderão mudar!
Grato pela sua colaboração.
Cordialmente,

Álvaro José Ferreira

 (RECEBIDO POR E-MAIL, COM PEDIDO DE PUBLICAÇÃO)

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