TROCO UM TEMPO MOLHADO POR UM SECO...

  Tenho um tempinho de excepcional qualidade para troca. É óptimo para o nabo e para a couve. Por exemplo, para quem gostar de escrever é uma maravilha. Dizem que os poetas não passam sem umas bátegas de água a tropeçar na vidraça. É óptimo para as neuroses. Com um clima destes pode-se apanhar uma boa depressão para toda a vida sem a chatice de ter que se ler jornais ou ver noticiários na TV.

 É um tempinho de frio e chuva que é uma maravilha! Toda a gente gosta dele. E por que quero trocar por outro? Olhe, não é por mais nada, mas acho que o meu ADN está no Brasil. É só mesmo por isso. Gosto do calor, da luz intensa. Faz-me prurido a nebulosidade, a noite e a bruma intensa da manhã. É só mesmo por isso, palavra de honra.

 Eu até sei que fico prejudicado ao trocar um clima destes, tão generoso para os campos agriculturados, por um calor desértico, que só provoca indolência e “far niente” –mas eu tenho de confessar: não gosto de trabalhar. Nunca gostei! Pronto, bem sei que não deveria confessar, até me fica mal, mas que se há-de fazer? Sempre trabalhei porque fui obrigado. Bem sei que poderia ter enveredado pelo gamanço, mas sempre fui um grande artolas. Até para surripiar uma laranja no quintal do meu vizinho estava sempre com medo que ele visse. Sou um medricas. Então a solução foi sempre trabalhar. Acho que fui sempre violentado pelo sistema. Se não me apetece porque me obrigam? Raios partam isto tudo!

 Depois este tempo húmido, que me dá comichão nas partes baixas, na zona pudibunda, sempre me empurrou para a transpiração. Sim porque inspiração também nunca foi muito comigo. Sou assim uma espécie de mosca morta que nem lá vai nem faz nada. Já vêem porque é que, mesmo ficando muito prejudicado, troco este maravilhoso tempo de chuva e frio por um seco e sem valor económico para agricultura. Eu quero deitar-me ao sol…porra!