sábado, 22 de maio de 2010

COMÉRCIO: O ALHO E O REVIRALHO

(FOTO DE LEONARDO BRAGA PINHEIRO)



 Ontem, como era Sexta-feira, portanto fim-de-semana, eu estava contente. Sim, porque eu nunca gostei muito de trabalhar, pronto!, mas isso também não interessa nada para aqui. Como diz uma amiga minha: o trabalho deve ser um direito e não uma obrigação. Eu penso exactamente igual. Por que é que sou obrigado a trabalhar? Então não é uma violência? Claro! Estava eu nestes profundos pensamentos psicanalíticos quando, no café do senhor Jorge me preparava para, calmamente e sem pressas, tomar o meu cafezinho da manhã, abri o Diário de Coimbra (DC) e, na página 11, vejo o título: “Sem Liberdade não há missão!”. Só pelo título, ai mãezinha!, fiquei logo numa ansiedade mental. Sem liberdade não há missão? Ai que grande aldrabice! A ser assim nunca teríamos o “Vintismo”, a “Implantação da República”, o “25 de Abril”, a revolta lá em minha casa, quando a minha mulher assumiu o poder e eu, em vez de chefe de família, passei a secretário de estado… sem secretaria. Ela sem liberdade nenhuma levou a missão à frente. Não sei se estou a ser claro.
 Continuando, então com a notícia do jornal cá da terra, foi então que vi a fotografia do “opinador”: Horácio Pina Prata (HPP). E falando cá comigo mesmo disse: “ó “Toino” tens de ler tudo até ao fim. Um título destes, tão filosófico, merece o sacrifício. E é claro, eu que já estava com a chávena assim a meio caminho entre a mesa e a minha boca, palavra, dei uma ordem mental a mim mesmo e disse: “alto e pára o baile”! A partir de agora, “Toino”, estás de prevenção à notícia, Não há borgas para ninguém, e muito menos café. E, como se fosse um general que cá sei, debrucei-me, em missão, com liberdade, sobre a notícia do DC.
 Fui lendo, fui lendo, assim aqueles intróitos que se colocam no início dos grandes temas filosóficos, como quem diz, fui deslizando pelo grande texto, até que li: “A associação Comercial e Industrial de Coimbra ao não compreender que nasceu e se desenvolveu num determinado contexto, mas que tem de continuar a sobreviver num mundo de outro nível de exigências, embarca no tom de modorra e marasmo, impróprio de uma organização, que, nesta altura, deveria estar de forma realista, sim, mas sem deixar de mobilizar as entidades oficiais locais, regionais e nacionais, para a necessidade de defender os empresários e os empregos”.
Ai, minha avozinha querida, que este parágrafo é enorme e profundo. Pronto!, tenho mesmo de levar isto até ao fim, pensei cá para o rapaz. Isto é muito giro. O ex-presidente da ACIC a dar pancada na direcção, que, praticamente, ainda resiste e quase toda fez parte da equipa do grande Horácio.
Ó “Toino”, isto promete, disse cá com os meus botões.
Vocês não sabem –nem tem que saber, homessa!- mas eu também fiz parte desta direcção da ACIC. Estive lá desde 1998 até 2003.
 Em 2002, ainda no tempo do outro senhor governador do paço, da Praça 8 de Maio, Manuel Machado. Depois, entrei em rota de colisão com Prata e larguei aquilo. Havia lá um “quid pro quo”, como quem diz em latim, tomar uma coisa por outra. Ou seja, havia lá uma confusão que eu não estava a gostar e dei à sola. Todos sabiam do que se tratava. Esse assunto foi por mim colocado em cima da mesa.
Em 2002, deu-se uma revolução cá no concelho, isto é, com liberdade houve missão. Cai o Manuel Machado e entra o meu amigo –que não é por agora, mas qualquer dia será- Carlos Encarnação a toda a força para a câmara. Os meus colegas de direcção vieram ter comigo e disseram: “ó pá, tens de continuar na direcção connosco, o que lá vai, lá vai, e esse problema entre ti e o Prata já nem tem razão de existir. Vocês enterram isso. Até porque, ele vai fazer parte da equipa do Encarnação. Vai largar a ACIC, e portanto, agora, vais ver, com ele na autarquia, passamos a ter sempre uma porta aberta. Vais ver que é agora que vamos ter possibilidades de fazer um bom trabalho em defesa do comércio. E eu, que sou um bocado para o parvo, lá fui.
 Lá na grande mesa rectangular da associação, eu e Prata, estendemos as mãos. Um pouco contrafeito, ele, assim como quem olha para um gajo de revés, que não é flor que se cheire –que sou eu-, lá deveria ter pensado: “cada um de nós tem uma cruz, a minha aqui é aturar este gajo!”.
 E, toda a direcção, entusiasmada, a pensar que agora é que era, finalmente a associação iria ser um parceiro considerado e respeitado. Iríamos todos fazer um trabalho que ficaria escrito nas pedras da calçada do Centro Histórico.
 O executivo de Carlos Encarnação toma posse, nos primeiros meses de 2002, e quem ficou como vice-presidente foi então HPP. Até aqui, tudo bem. O problema começou a surgir quando o agora (na altura) vice-presidente da autarquia não se demarcava da ACIC. Ou seja, não se demitiu de presidente associativo e ficou com os dois cargos. Não é preciso ser muito esperto para ver que estes cargos são antagónicos entre si.
Temos de entender que é neste mandato que se iniciava, que, exceptuando o Continente e a Makro, todas as grandes superfícies viriam a ser licenciadas. Como se deve calcular, os comerciantes do Centro Histórico andavam em polvorosa, porque anteviam o desastre que se aproximava. Naturalmente que a ACIC, pelo seu papel histórico, estava contra estes grandes projectos megalómanos e atentatórios à pequena loja de bairro.
E então acontece uma coisa giríssima. HPP, enquanto presidente da ACIC, nas nossas reuniões de direcção, era contra a autarquia. Quando estava no papel de vice-presidente da câmara, elogiava o grande dinamismo empresarial de Coimbra –isto aconteceu na inauguração do Retail-Park de Eiras. Na prática HPP era uma espécie de Olívia-patroa e Olívia-empregada. Tudo na mesma pessoa, e dois em um.
 Ao mesmo tempo, dentro da associação surgiam rumores de que esta não estava a ser bem conduzida. Ou seja, estavam a ser feitos negócios pouco favoráveis para a ACIC. É provável que fosse pelo abandono do presidente e por ocupar um outro cargo ao mesmo tempo. Não sei, digo eu. Levantei esta questão em reunião de direcção. Como não me foram dadas explicações convincentes. Larguei a embarcação para não mais voltar.
 A situação de ambiguidade, ou seja de HPP ter um pé na ACIC e outro na autarquia, manteve-se até, salvo erro, 2006. Ano em que rebenta a bronca do IParque e Carlos Encarnação demitiu HPP de seu vice, que vem a ficar na autarquia como vereador independente. Entretanto, muito pela contestação dos comerciantes, que não viam este papel dual com bons olhos, na ACIC, HPP dá lugar a outro presidente, um seu braço-direito, Paulo Canha.
 A situação financeira da ACIC estava, pelos vistos, pior que a minha actualmente. Ou seja, estava em falência técnica. Tinha bens reais, mas não tinha liquidez. As dívidas eram mais que muitas. A falência da ACIC chegou a ser capa de um jornal que nasceu e logo a seguir, passado um número de edição, morreu.
Entretanto todos os amigos do peito de HPP, por esta altura, todos diziam cobras e lagartos do seu ex-amigo. Apesar de, pelo que se constava, na sua grande maioria, todos se colocaram muito bem. Uns nas “Águas de Coimbra”, outros aqui, outros ali, sempre sob o manto protector de HPP. Por que teria rebentado uma amizade daquelas, em que se constava até que houveram ameaças de agressões verbais e físicas? Só os interventores o saberão.
 Por esta altura, para sair do vermelho da vergonha da insolvência, a ACIC pede um empréstimo à Caixa Geral de Depósitos, com hipoteca de bens reais, de meio milhão de euros.
Em surdina, alguns membros da direcção da ACIC –que fez parte, a liderar, Prata- espalhavam as culpas, nos negócios pouco favoráveis à associação, e responsabilizavam HPP, mas só no "diz-que-disse". Sempre com medo de darem a cara.
 No princípio de 2007, alguém, certamente que queria ver este caso esclarecido, pede uma investigação ao Ministério Público. Durante meses, foram chamados à Judiciária todos os membros da direcção, incluindo eu.
 Provavelmente por falta de colaboração da maioria dos membros da direcção e outros, veio este processo a ser arquivado. Pode ler-se na nota de arquivamento do Ministério Público: “(...)…é da opinião da actual direcção que o trabalho realizado pela direcção presidida pelo Engº Pina Prata (2 mandatos), nomeadamente quanto a alguns contratos de fornecimento de equipamentos prestados à ACIC, não foram muito favoráveis à associação (alguns vieram mesmo a ser resolvidos com recurso a acções judiciais). No entanto, e na sequência dos dados apurados pelos elementos da actual direcção, estes contratos apenas foram mal negociados, não existiu qualquer intenção de benefício ilegítimo em detrimento da associação”. “Assim, o mais que se apurou foi a existência de contratos que poderão ter acarretado prejuízos para a ACIC, nada tendo resultado, em termos indiciários (...) por parte do arguido Horácio Pina Prata ou por alguém a ele ligado”, nota de arquivamento do Ministério Público de 8/10/2007.
 Para terminar, porque já e noite e esta explanação já vai longa, interrogo:

-Pode, perante o que se apresenta, vir HPP acusar esta centenária associação de “desalinho e desleixo”? –são palavras escritas no DC pelo punho do ex-presidente da ACIC.

-A actual direcção da ACIC vai manter-se calada, como sempre fez, ou vai responder ao repto do seu antigo presidente?

Só uma nota final: para que não se pense que estou a fazer isto em “ressabiamento” contra HPP ou contra a ACIC, declaro que nada tenho contra o primeiro ou contra ou a favor da segunda. Já há muito que deixei de ser associado desta agremiação comercial.
 Entendo que este assunto, em nome de uma verdade histórica –e até para que não se continuem a fazerem acusações sem fundamento contra Horácio Pina Prata, ou à ACIC, quando aquele acusa esta instituição de desleixo e de ter salários em atraso. 
Por detrás de uma consequência estará sempre uma causa





3 comentários:

Anónimo disse...

Grande texto do Luis Quintans.
Horácio Pina Prata, no que diz respeito á nossa ACIC, não é exemplo para ninguém. Ele não se esqueça os boys que colocou na Associação. E na Formação Profissional? Verdade seja dita que o actual Presidente foi seu Tesoureiro. E os arranjinhos.
Agora como inteligente que é, lava as mãos como pilatos, sendo certo que o artigo tem toda a razão de ser.
Espero uma resposta da actual direcção o que duvido, porque ele ainda lá deixou ualgumas raízes. Luis sabemos bem do que escrevemos.
Tristeza a minha/nossa ACIC estar mergulhada em guerras e guerrilhas que não nos conduzem a nada.Prejudicam tudo e todos. Aquela casa está a ficar sem lider.
Quem manda e dás os bons dias são alguns funcionários e bem pagos.
Onde pára a direcção e o seu Presidente?
Alguém organizou um jantar para discutir questões da Baixa e o resultado está á vista. Sei bem quem pedalou para juntar os 60 e muitos comerciantes. Juro que não foi ACIC, nem a APBC.É bom que se diga a verdade.
Sinceramente, vou esperar para ver, mas cheira-me que isto vai ser um lavar de roupa suja. Pina Prata para a direcção da ACIC "JÁ MÉ"

Anónimo disse...

Obrigado Luís,pelas informações que retirei do texto.Ajudou-me a formar opinião sobre o assunto,e a alterar outra que tinha formado sobre algumas pessoas.
Marco

Anónimo disse...

Bom dia
Como este Pais pode caminhar por carreiros seguros com pessoas de dupla personalidade,está evidente os interesses instalados,"na prisão só os pobres" onde é que já ouvi esto Lol.
Luis e as conclusões das reuniões da ACIC com as entidades competentes sobre as reivindicaçoões do jantar de comerciantes!será que alguma vez vamos ter?
abraço