quinta-feira, 1 de abril de 2010

O "QUESTÕES" ENTREVISTA CARLOS ENCARNAÇÃO



  Já andamos há muito tempo atrás do presidente da Câmara Municipal de Coimbra, salvo seja. Eu sei lá há quantos anos! Fizemos tudo! Que não seja entendido como corrupção, mas oferecemos uma garrafita de bom tinto da região, Reserva de 1973, para dar ao amigo, do amigo, que conhece um amigo que é próximo de Carlos Encarnação (CE). Tenho de confessar também que fui a Fátima, em promessa, pedir a Nossa Senhora que interferisse para que ele, CE, nos desse bola para uma entrevista. Para além disso, não fosse o nosso pedido não ser atendido, pedimos também à Rainha Santa para interceder por nós. Além disso ainda metemos uma cunha ao “Zé Manel” (Durão Barroso) para mandar uma “ligadura” a CE. Andamos nisto há anos.
 Para nossa surpresa, na terça-feira, 30 de Março, a nossa telefonista, a Cremilde –devem conhecer-, recebeu um telefonema de uma senhora da câmara. Queria falar com o redactor. Ainda fiz sinal de negação com o indicador à Cremilde. Sim, porque pensei logo: ó pá, estou lixado! Lá tenho mais uma queixa de uma inquilina que paga 5 euros. É normal pensar assim. Não é? Sei lá, dali, do paço, só pode vir ou ferroada ou canelada…não é verdade? De lá, temos de esperar tudo, é como os espanhóis, “nem bom vento nem bom casamento”. Mas a Cremilde, com aquele decote profundo, que me deixa atarantado, insistia com a mão a tapar o auscultador, para eu atender. Confesso, aproximei-me dela mais por aquela visão de paraíso do que propriamente em saber o que era. E lá atendi. Então, surpresa!, era para me comunicarem que “o senhor presidente sente-se muito honrado em dar uma entrevista ao melhor blogue da cidade, o “Questões Nacionais”. Isto dito assim, numa voz melosa, assim do tipo de gata que me faz cócegas na sola dos pés, confesso ia mesmo caindo de cu. Marcámos então a entrevista no café Santa Cruz. Não foi por acaso, cá o rapaz sabe que é onde o presidente toma café todos os dias com a esposa, a doutora Filomena. Uma pessoa simples e afável, que por acaso gosto muito.
Então, ontem à hora do almoço, tomei posição na mesa do canto. Depois de o deixar tomar o café em paz, e depois da mulher ir à sua vida, lá para o escritório, levantei-me e fui ter com ele.


-Questões Nacionais (QN): Boa tarde, senhor presidente. Muito obrigado por ter acedido ao nosso convite. Estou-lhe muito grato –posso gravar?
-Carlos Encarnação (CE): Ora essa, é um prazer…mas é você que vai fazer a entrevista? Não há lá ninguém mais qualificado?
-QN: Desculpe, senhor presidente, mas isto anda mau. Devido à crise, tive de despedir todo o corpo redactorial e todos os jornalistas. Só resto mesmo eu e a Cremilde…o senhor conhece?!...
-CE: Claro que conheço…ai a Cremilde (num longo suspiro!), então não havia de a conhecer? É a secretária mais competente que conheço. Muita falta me fazia ali na câmara…
-QN: Passando à entrevista, senhor doutor…-tive de interromper a sua meditação, que ele não tirava os olhos do bonito tecto do café Santa Cruz a pensar na Cremilde.
-CE: Sim, diga, vamos a isso, já que tem de ser. Grave lá isso –embora lhe diga que se sabia que era você não teria anuído. Você é uma grande melga. Ainda me lembro quando você andou ali a chatear-me (na autarquia) por causa dos assaltos. Fogo, houve alturas que quase me passava. Você não tem desgosto de ser assim?
-QN: Bom, confesso que se pudesse trocava-me por outro…(lá fui dizendo meio a gaguejar, como se tivesse sido apanhado em falta).
Mas vamos à nossa entrevista, senhor presidente, o que lá vai, lá vai…
-CE: Está bem…se tem que ser…seja…
-QN: Vamos então à primeira pergunta: o senhor não sente uma certa hostilização por parte dos comerciantes da Baixa?
-CE: É verdade que sinto, sim. Mas até os entendo. Ser presidente de uma câmara não é fácil. Uma pessoa tem de decidir a vida de muita gente…sobretudo numa altura de profunda crise económica. Olhe que eu às vezes, ando por aí a dar umas voltas e quando vejo o estado dos edifícios do Centro Histórico, até dou por mim a insurgir-me contra este presidente da autarquia. Palavra de honra! Até fico furioso, dou por mim a gesticular e a reclamar contra este estado da Baixa. Às vezes, em solilóquio, lá vem a interrogação: e se eu me candidatasse à presidência da câmara? Nem que fosse pelo dever de cidadania! Exclamo! Só então me lembro que o presidente sou eu. Está a ver o conflito. É aí que compreendo os comerciantes. E sobretudo “as suas mordeduras que me dá nas canelas” lá no seu blogue. Bom, tenho de admitir que ganhei alguma admiração por si. Prefiro opositores declarados que amigos falsos e oportunistas…
-QN: Obrigado, senhor presidente…
Outra pergunta: é verdade que o senhor, nas últimas eleições, convidou o presidente da ACIC, Paulo Mendes, para a sua lista e que este lhe fez um manguito?
-CE: Ó meu amigo, isso é mais um boato…uma atoarda que anda para aí. O senhor sabe –isto é, deve saber, porque nem sei bem de que lado é que está- que a oposição faz tudo para me derrubar. Estão sempre a mandar farpas…
-QN: Mas o senhor é acusado pelos comerciantes de nunca ir à “baixinha”, ali para as ruas estreitas. Dizem que o senhor, da Baixa, só conhece a Rua das Fangas, Arco de Almedina, ruas da Calçada e a Câmara Municipal, que tem a dizer?
-CE: Olhe, que é mais um disparate. Eu à noite ando por aí a ver as montras acompanhado da minha “Filó”…sozinhos, ouviu bem? E nunca fomos incomodados. Pensa que eu não conheço as lojas todas?
-QN: Mas dizem que o senhor nunca é visto a entrar numa loja da Baixa, para comprar…
-CE: Olhe lá, amigo –e larga uma gargalhada-, isso quer dizer alguma coisa? Quem me compra tudo é a minha Filomena. Ela é que sabe…
-QN: Vamos a outro assunto, o senhor é acusado de ter tantas questões para resolver na Baixa e não resolve nada. Parece que está sempre a adiar. Ou melhor, a delegar. É o licenciamento dos toldos, dos reclames, da venda ambulante e agora esta recente polémica do absurdo aumento das taxas da Licença de Utilização, em que vem dizer que houve um engano nos serviços e logo a seguir vai lá outro comerciante para levantar uma licença e tudo se mantém na mesma.
-CE: Mas quem é que diz isso? Só pode dizer isso quem fala por falar, simplesmente. Olhe, por exemplo, na venda ambulante até fizemos um novo Regulamento. E mais, vá lá falar com os ciganos do “Bota-a-baixo” e verá se não estão contentes…
-QN: Mas ó senhor presidente tenha lá calma. É verdade que fizeram um novo Regulamento mas tudo continua na mesma. Aquilo, junto à Loja do Cidadão é uma vergonha para todos. Para quem passa e sobretudo para quem é obrigado a vender naquelas condições.
-CE: Não diga isso! Aquilo é um postal turístico que é preciso preservar. Sabe que eu sou a favor das tradições e de tudo o que é tradicional…
-QN: É verdade que o senhor já tem a mala feita para partir para um futuro governo do PSD e “ministeriado” por Pedro Passos Coelho?
-CE: Meu amigo…o futuro a Deus pertence…
Tocou o meu telefone, era a Cremilde a comunicar-me que estavam a ligar do Palácio de Belém. Voltavam a ligar dentro de 10 minutos para acertar a entrevista com o Presidente da República, Cavaco Silva. Porra, isto está a ser concorrido. Vou ter de encurtar esta entrevista com Carlos Encarnação.
-QN: Senhor presidente, agradeço-lhe muito a sua disponibilidade. Em conclusão final, quer deixar aqui alguma mensagem de esperança aos comerciantes da Baixa?
-CE: Claro que sim. Gostava de lhes dizer que estou atento à sua situação financeira, difícil, que estão a atravessar. Quero-lhes dizer também que o “El Corte Inglês" foi mesmo o meu último acto de licenciamento de uma grande área comercial para a cidade. Gostaria de lhes dizer que podem sempre contar comigo. Se, eventualmente, num futuro próximo, eu for mesmo para Lisboa, podem contar com o meu vice, o Barbosa de Melo, que é um amor de rapaz. Estou a dar-lhe toda a formação. Ficam em boas mãos. Podem acreditar nele.

1 comentário:

Anónimo disse...

Fabuloso trabalho.
Parabéns pela forma como efectuou a entrevista a um Presidente da Câmara que não quer nada com os Comerciantes da Baixa. O tal que dá o dito por não dito. Melhor...
Quando lhe aparecem jornalistas diz que vai resolver, depois diz que não foi bem assim..
Porra que raio de Presidente é este.
Quanto ás Taxas de Utilização,será tempo da ACIC tomar uma atitude pública, mas sabem amigos para o fazerem têm que ter uma coisa que se compra no Mercado "TOMATES ".
Espero para ver..