quinta-feira, 15 de abril de 2010

DE QUEM TEM MEDO A ACIC?





 Ontem, na sede da Associação Comercial e Industrial de Coimbra (ACIC), na Avenida Sá da Bandeira, foi apresentada uma conferência de imprensa, onde foram apresentados 8 pontos reivindicativos e a apresentar na Câmara Municipal de Coimbra e no Governo Civil, para obviar a “crise vivida pelo comércio independente de proximidade”.
Antes de entrar na análise de alguns pontos, vamos começar pelo princípio, passando a redundância.
Há cerca de um mês, quatro comerciantes da “baixinha” –lojistas das ruas estreitas-, vendo o estado aflitivo em que estava a caminhar o comércio de rua, contactaram o presidente da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, para que este marcasse uma reunião conjunta, incluindo a ACIC, para, com urgência, se discutir a possibilidade de encetar uma acção material, ainda que simbólica, no sentido de alertar as entidades locais e nacionais, para a miséria que estava acontecer no comércio de rua.

Foi feita uma reunião conjunta entre os quatros comerciantes, o presidente da APBC, membros da direcção da ACIC. Nessa reunião foi avançada a possibilidade, por um membro da ACIC, de se entregar simbolicamente, ou na autarquia ou no Governo Civil, uma chave de cada loja pelos muitos lojistas da Baixa. Os quatro comerciantes avançaram que essa, entre outras, seria a ideia. Ou seja, elaborar uma acção pragmática, mas que fosse marcante para o país e mostrasse o estado de desespero dos comerciantes. Para além disso, disseram os quatro comerciantes, que deveriam ser apresentadas outras reivindicações, mas curtas e incisivas. Naquela reunião ficou combinado fazer um jantar para debater os problemas com os comerciantes e, ao mesmo tempo, para além de se procurar saber verdadeiramente o que queriam, constatar quantos estariam interessados em lutar pela sua sobrevivência. Depois deste jantar seria elaborado um caderno reivindicativo para pugnar pelas medidas ali discutidas. Ficou combinado também que, pela sua representação institucional, seria a ACIC a liderar este processo.
O jantar foi realizado no restaurante Jardim da Manga no dia 9 de Abril. Compareceram 56 comerciantes. Foram discutidos vários pontos. Cada um, à sua maneira, pugnou por medidas que considerava legítimas para ajudar à sua sobrevivência.
No fim do jantar-debate, pelo presidente da ACIC, foi apresentado no visor do restaurante um caderno reivindicativo elaborado previamente pela ACIC. Como o ecrã da televisão era pequeno, muitos dos pontos não eram visíveis em toda a longa mesa. Foi dito que àqueles pontos seriam acrescentados outros debatidos ali no jantar.
A partir daqui a ACIC não contactou mais os quatro comerciantes. Uma vez que a ideia da reunião tinha partido deles, eticamente, seria aceitável que antes desta associação apresentar publicamente as reivindicações, previamente as discutisse com eles. Até porque, à sua maneira, e pela sua longa experiência de vida, seria importante ouvi-los. Contrariamente ao que seria suposto, a bem do todo, a ACIC não lhes passou mais qualquer importância.
São hoje, como todos os comerciantes, postos ao corrente, através dos jornais diários das medidas a apresentar à autarquia e ao Governo, através do Governo Civil.
Entre as várias medidas reivindicativas, e discutidas no debate, há uma que ressalta no conjunto porque não foi apresentada a discussão no jantar: o encerramento total de todo o comércio ao Domingo. Ou mais especificamente o fecho das grandes superfícies neste dia do Senhor, uma vez que o comércio de rua, salvo excepções, já o faz.
E é aqui que a ACIC escorrega. Por falta de diálogo e, se calhar, algum protagonismo que esta associação continua preocupada em chamar a si, veio a pugnar esta medida, o encerramento total ao Domingo, sem a discutir previamente. Ora bem, aparentemente, pode até dizer-se que nem tem muita importância…é apenas mais uma. Pois! Mas não é “apenas” mais uma, é um tiro no pé. Repare-se que os jornais nacionais como o DN, aqui, fazem título da defesa do encerramento ao Domingo pela ACIC.
Com este cabeçalho as restantes 8 medidas reivindicativas foram esvaziadas e ficaram reduzidas a uma. E mais: com este pugnar não se conquistam os consumidores, antes pelo contrário, ostracizam-se. Nunca se conseguirá revitalizar os centros históricos sem o apoio incondicional dos consumidores. Ora, para isso, é preciso conquistá-los com medidas que vão ao encontro das suas necessidades. E hoje os consumidores precisam ou não de fazer compras ao Domingo? A resposta é óbvia, pela ocupação de todo o seu tempo. Pode até argumentar-se que será apenas um costume e que se estiver tudo encerrado as pessoas mudam os hábitos. Pode dizer-se isto sim. O problema é que pode inverter-se pela força a corrente de um rio, mas, na primeira oportunidade a natureza fará repor o antigo leito. Por outras palavras, está errado pedir a um consumidor moderno, prático, egoísta e que quer fazer o que lhe apetece, que troque o sentido dos seus hábitos porque é preciso salvar uma classe. Que ainda por cima resiste a adaptar-se aos novos tempos com novos horários de acordo com este novo consumidor. Uma coisa é preciso esclarecer, por muito que o governo e as autarquias locais façam para ajudar os comerciantes, o fiel da balança, aquele que decide, será sempre, mas sempre, o consumidor. É bom não esquecer.
Com esta medida de pedir ao governo o encerramento total do comércio ao Domingo o que transparece para o consumidor é que é uma luta entre um comércio moderno e versátil e um comércio antigo, caduco e sem vontade de ir ao encontro das suas necessidades. E tudo acaba por se resumir a uma balança. De um lado, num dos pratos, um comércio decadente, senil e gagá, que anda de bicicleta, e, no outro lado, no outro prato, um comércio avançado, a anos-luz do antigo, que anda de Jaguar.
Embora todas as medidas agora apresentadas pela ACIC em 11 folhas sejam legítimas, o que transparece é que é mais do mesmo –do que tem vindo a ser apresentado nos últimos cinco anos. E de pragmático –daquilo que verdadeiramente se reivindicava na génese do encontro- nada tem.

2 comentários:

Vítor Ramalho disse...

Achei o defendido muito interessante até porque é o que o PNR em defendendo.
Se a ACIC não se apoia e apoia os comércio tradicional então mais uma ez amos ficar em èguas de bacalhau.
Mas se a ACIC não é solução cabe aos comerciantes unirem-se e encontrá-la.
Estamos cá como sempre estiemos para ajudar.

Anónimo disse...

Sem querer me meter onde não tenho o conhecimento suficiente na matéria, mas escutando o que os comerciantes vão dizendo, leva-me a concluir que ACIC, é mais do mesmo, não sei se será por falta de ideias ou por obediência a cor partidária da CMC.