sexta-feira, 2 de abril de 2010

BICOS CONTRA A INDOLÊNCIA







 Estas imagens são de uma loja onde, até há cerca de poucos meses, funcionou a “Agência Abreu". Fica situada no Largo das Ameias, ali próximo da Estação-Nova –esta estação, apelidada de nova, dentro de poucos meses, como vai desaparecer, nem sequer passará a velha, morrerá simplesmente. É mais um pouco de nós que se vai.
Continuando, então no assunto que me trouxe à liça, acontece que presentemente está lá um escritório. E o que fizeram eles? Ora veja lá, indigne-se, então não é que eles colocaram bocadinhos de pedra afiada para evitar que as pessoas se sentem no rebate? Faça coro comigo: então isto não é um escândalo? Onde vamos nós parar? Quando não nos facultam o passeio da fama, até nos querem retirar o lancil da indolência? Admite-se isto? Responda…(disse o quê?)…que não se admite?
Desculpe lá mas você é mesmo bacoco. Você só vê o que está à frente dos seus olhos. A sua sorte é ser cliente deste “consultório”, que, apesar de não receitar nada, ensina a ver as coisas de detrás para a frente. Isto é, como se se estivesse atrás do espelho.
E se eu lhe disser que, segundo se consta, a anterior arrendatária, a Agência Abreu, saiu dali por causa de ter companhias pouco desejáveis por perto e que, para cúmulo, estavam sempre sentados ao longo do parapeito da loja? Isto já o faz pensar de outro modo, ou não? Aliás, se reparar na foto de cima, verá que está lá uma pessoa sentada. Só não estarão mais pessoas devido aos incómodos bicos pontiagudos.
É correcto um magote de pessoas que nada faz, vivendo do Rendimento Social de Inserção, estar a perturbar quem trabalha?
Bem sei que até chegar a esta conclusão não é fácil. Isso acontece igualmente comigo. O meu amigo que chamou a atenção para este facto, aparentemente anómalo, estava fixado no óbvio. Naquele momento, também só vi o óbvio. Mas, acho eu, quem escreve para um público leitor, seja grande ou pequeno, tem uma responsabilidade acrescida: não pode embarcar naquilo que, aparentemente, está à frente dos olhos. Em exercício mental, rejeitando o óbvio reflexivo, passando para o outro lado do espelho, tomando em conta que por detrás de uma atitude estará sempre uma causa, tenta chegar à verdade justa, que, mesmo sendo legitima, tantas vezes para lá chegar implica tomadas de força contra o arreigado costume.
É o que tento fazer aqui. Nem sempre o consigo. É normal. Porque, na maioria dos casos, é preciso alguma serenidade e, nem sempre ela está presente, por causa de múltiplas preocupações. Quanto mais se conseguir atingir esse estado de serenidade –a que os budistas apelidam de estado “Zen”-, mais facilmente conseguimos nos transcender acima do comum e apreender o que não é visível.
É óbvio que todos somos comuns, porém, todos diferentes. Inevitavelmente, na metodologia de pensamento, poderemos dividir a sociedade em várias classes ou grupos. Tantos quantos quisermos. Aqui, neste caso, dividirei apenas entre maioria e minoria. Nenhum deles é subalterno. Estarão ambos em paridade no mesmo plano do todo. Umas vezes as maiorias têm razão, outras vezes serão as minorias. Embora tenha a certeza que o “pensar diferente” germina sempre na minoria. Na maioria grassa o pensamento único, o lógico, aquilo que se vislumbra sem pensar muito. Na minoria, procura-se ver para além da nuvem. Com isto não estou a dizer que sou melhor que qualquer um. Umas vezes estarei na maioria, outra vezes na minoria.
Voltando à colocação dos bicos contra a indolência, tenho a certeza de que é um legítimo direito que assiste aos novos locatários daquele espaço.

2 comentários:

Anónimo disse...

Ate concordo com o conteudo do que levou a colocar os bicos em pedra, só não concordo com a forma.Ainda na quarta-feira vi um grupo de seis meninas estrangeiras com as mochilas ás costas sentadas por de baixo dos bicos de pedras, ou seja no chão, que e espaço publico.Existem outras formas mais dignificantes para não deixar sentar por lá as pessoas durante o dia, aqueles bicos em pedra são um atentado ao urbanismo e não só.Segundo sei,alteração das cantarias e proibido por lei.

Anónimo disse...

Não podia estar mais de acordo consigo Luís.Já comentei a algum tempo atrás a vergonha e a miséria que acontece diariamente neste largo.E ainda me revolta mais a minha contribuição para que dezenas de individuos passem o dia naquele local(o RSI é pago por todos nós).Um local com todas as condições para ser aprazivél é inundado por prostitutas e clientes diariamente,Imaginem o que é trabalhar e assistir a negócios deprimentes a toda a hora.Não dou muito tempo até este escritório tomar a mesma decisão da antiga Agência Abreu.Como compreendo o desespero da colocação dos bicos, é que possivelmente estará em jogo a sobrevivência de alguns postos de trabalho.E como sempre haverá quem critique este acto desesperado e venha defender os coitados que não têm trabalho, desfavorecidos que SÓ tÊm cerca de 190 euros do RSI(geralmente gastos em 2 ou 3 dias em copos e mulheres).
Bom trabalho Luís,por vezes é preciso mostrar outras perspectivas das situações.
Abraço Marco