sábado, 20 de fevereiro de 2010

O FANGAS, MERCEARIA & BAR






  Quem não conhecer e passar na Rua Fernandes Tomás não adivinha que a meio desta artéria está um “miminho” hoteleiro a enriquecer toda a zona histórica e, sobretudo, esta antiga rua das Fangas. Só para se entender melhor, “fanga” era uma antiga medida de cereais equivalente a quatro alqueires. Ou, também, lugar onde se vendiam cereais por estiva, isto é, no sentido de directamente do campo, do lavrador. Já agora, vamos também definir “alqueire”, medida popular hoje caída em desuso: unidade de medida, normalmente utilizada nos cereais, de capacidade que variava entre os 13 e os 22 litros.
Até há pouco tempo, naquele espaço, funcionou, durante décadas, a mercearia do senhor Henrique. Agora, desde Outubro, é um bar, com cafetaria e Snacks. Mas é muito mais do que um pequeno café. É um encanto para os nossos olhos, ou melhor, um recanto, um remanso para as nossas almas. A sensação que se tem é que entramos numa casa de bonecas, tal é o primor na decoração e na ambiência simples e popular. É como, de repente, tivéssemos penetrado na história, nas nossas memórias de infância, de um tempo que passou. Tudo muito bem arrumadinho nos móveis, réplicas de mercearia antiga, com as conservas portuguesas, os licores nacionais, os doces e as compotas, os biscoitos da nossa avó. A dar um toque retro, aqui e ali, um pequeno candeeiro de três bicos a azeite e, mesmo ao lado, um outro de petróleo. As pequenas mesas quadradas, a lembrar as tabernas antigas, estão revestidas com toalhas de cor sóbria. Em fundo, um fado marceneiro, vadio, transporta-nos para um revivalismo ainda não tão distante assim.
Mas, antes de continuar, vamos conhecer a mentora deste inovador projecto. É a Luísa Lucas. Tem 33 anos de idade. É natural de Coimbra, nasceu nos arrabaldes da cidade. Tudo começou quando concluiu o curso de Turismo, em 2004, no Instituto Superior de Ciências Educativas de Odivelas. “Estava desempregada. Como já estava com alguma idade, e também, vendo como as coisas estão a correr, em termos de emprego, foi a vontade de ter um negócio próprio que me lançou nesta empreitada", diz-me de sorriso nos lábios.
“Estou muito contente”, enfatiza. Está tudo a correr muito bem. Sinto-me muito cansada. Esta vida de hotelaria é esgotante, mas eu corro com gosto. Quero ver se lá mais adiante, provavelmente lá para o verão -porque haverá muitos turistas por aqui- dou emprego a mais uma pessoa. Quero ver se consigo ter licença para, além dos snacks, das conservas, dos enchidos, dos queijos –tudo nacional, sublinha- das sandes, das tostas de queijo da Serra com presunto, poder servir também uns petiscos. Uma casa de hotelaria, hoje, não consegue aguentar-se só à custa de cafés e bebidas. É muito difícil sobreviver sem esse complemento”, conta-me, com grande simpatia, ao mesmo tempo que vai mexendo as mãos como se quisesse agarrar o futuro ali mesmo.
A Luísa, para concretizar este sonho, contou com o IEFP, Instituto de emprego e Formação Profissional, através do PEOE, Programa de Estímulo de Oferta de Emprego, dentro do âmbito do Apoio a iniciativas Locais de Emprego e desenvolvidas por aquele centro de apoio a desempregados.
“A ajuda que recebi, cerca de 60 por cento do total do investimento, foi fundamental. Para além disso, devo também enaltecer a orientação do Gabinete para o Centro Histórico. A sua assistência foi muito importante para que tudo andasse com celeridade. Foram muito sensíveis. senti-me muito apoiada, explana com ênfase.
Quando lhe pergunto se, a seu ver, a zona histórica, Alta e Baixa, tem futuro, responde: tem sim, e muito! Havendo investimento privado, com o apoio incondicional da autarquia, o nascer do sol que se avizinha será risonho. Acredito muito nesta zona, nas suas potencialidades. É preciso que abram mais casas deste género. Tenho a certeza que este será o futuro e é nele que caminho”, complementa com um grande sorriso a Luísa Lucas.

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