sábado, 5 de dezembro de 2009

POSSO ATÉ SER MESMO BURRO, MAS...




Há muito tempo que escrevo aqui que os exames e o ensino universitário em Portugal raiam o campo do esotérico, e nomeadamente a Universidade de Coimbra, na sua Faculdade de Direito, que é a que conheço melhor. Bem sei, e não me esqueço, que, normalmente, perante um desaire, todos temos de arranjar um bode expiatório para a culpa. O que quer dizer que o facto de eu abandonar, há poucos anos, um curso de direito, com que sempre sonhei, pode ter haver apenas comigo e, quando eu escrevo, ressabiado, contra o sistema de ensino que encontrei, no mínimo, posso estar a arranjar desculpas esfarrapadas. Mas eu sei que não é assim. As pessoas, a humanidade, não se podem dividir apenas em preto e branco. Ou seja, em inteligentes e burros. Entre esta  duas percepções há outras cores, outros estádios, outras emoções, e o luso neurocientista António Damásio veio provar isso mesmo. Quantos alunos, como eu, que foram "obrigados" a deixar os seus cursos a meio por nunca conseguirem entender o que lhes era pedido, lhe estarão gratos.
 Ora, um estudo encomendado pela Comissão Europeia e realizado por quatro investigadores portugueses vêm dizer exactamente o que disse atrás: o nosso ensino universitário anda pelas ruas da amargura.
 O que conheço melhor, pelo menos na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, andará muito próximo da Idade Média. Com graves prejuízos para quem, não se entendendo com o que é ministrado, acaba por sair a meio da viagem. Bem sei que agora com o "Protocolo de Bolonha" as coisas até já estarão melhores, mas, acredito, falta muito para o exelente. Falta muito para a Universidade entender que o que está em causa, o prius, é o supremo interesse dos seus alunos e não o da instituição. No mínimo, terá de haver uma harmonização, mas nunca perdendo de vista o interesse dos alunos.
 Enquanto houverem discendos a desistir dos cursos as instituições deveriam preocupar-se seriamente, nem que fosse um apenas. Mas não! Fechadas no seu casulo, confundindo a exigência com o absurdo, estão-se nas tintas para quem sai. Como o que conta é a entrada, e, vê-se, há sempre muitos a quererem transpôr as portas férreas, esse facto, pouco preocupa quem está à frente destas instituições de ensino.
 Falo por mim, porque entrar lá foi a muito custo -entrei pelo "ad hoc"- e representou um dos maiores sonhos da minha vida. Talvez ninguém saiba -só quem passa por lá e sai pela porta pequena- a dor que fica no coração. Mas eu vi raparigas, rapazes, a chorar desalmadamente. Muitas e muitos desistiram do curso pela dificuldade que era mostrada. Há muito tempo que deveria ser feito um estudo científico às causas de interrupção nos cursos universitários, e, que me pareça, não existe nenhum.
 Pode ser que este trabalho venha abrir mentes. Fica aqui a notícia do Diário de Notícias.

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