terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O SEMEADOR DE VENTOS DE INDIGNAÇÃO





Encontrei-o à hora do almoço na Rua Visconde da Luz. Chama-se José Xavier Nunes e tem 55 anos de idade. A primeira coisa que chama a atenção dos meus olhos são os dois cartazes com mensagens que transporta, um nas costas e outro à frente do peito. Num tempo em que a pobreza, apesar de representar um quinto da sociedade portuguesa, é um estigma que todos fogem, fazendo por parecer aquilo que não se é, o que o senhor Xavier está a fazer, para todos os efeitos, é um acto de coragem.
Mas, conte-me, senhor José, porque está aqui na rua a chamar a atenção das pessoas que passam? “É a indignação! Eu ganho 253.80 euros e estou a trabalhar num serviço público, ao abrigo de um Poc com o IEFP, Instituto de Emprego e Formação Profissional, em que recebo mais 20 por cento. Como é que eu posso levar uma vida digna? Eu sempre trabalhei toda a vida. Ultimamente era jardineiro. Agora estou nesta miséria. O que me vale é a “Cozinha Económica”. Graças à boa vontade das irmãs, mesmo quando não tenho dinheiro, deixam-me sempre comer. Pago quando recebo o remanescente do Poc. São pessoas muito boas! O problema é aos Domingos e Feriados, que está encerrada. Por exemplo, hoje, só comi dois pães…mais nada. Outras vezes, nestes dias, como umas bolachas ou um pãozito…olhe é assim esta vida miserável”, enfatiza.
Mas o que pretende com este gesto?, interrogo. “Olhe é a revolta, é a minha indignação. Você ouviu ontem o presidente da Caritas afirmar que são escandalosas as assimetrias que se verificam na nossa sociedade? Pois ele disse todo o meu sentir. Eu sofro na pele o que ele expressou em palavras. Eu quero ter uma vida digna. Quero viver condignamente. Só isso…”

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