sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

EDUARDO, OLHOS DE ESPERANÇA





Na terça-feira passada, dia 8, contei aqui a História triste do Eduardo Sequeira Costa que estava a dormir numa casa abandonada. No dia seguinte, na quarta-feira, enviei uma exposição aos serviços de emergência da Segurança Social. No dia seguinte, na quinta-feira, de manhã, o Eduardo Costa estava a ser sinalizado e encaminhado para uma vida digna a que legitimamente tem direito.
Hoje, sexta-feira, o meu amigo Eduardo está a dormir num quarto de uma pensão da Baixa, recuperou o sorriso (compare as fotos) e está a caminho de reconquistar a auto-estima perdida por entre golos de álcool e lágrimas de angústias solitárias.
Porque conto eu isto? Perguntará o leitor. Para mostrar que sou mesmo bonzinho e que, garantidamente, terei um lugar no céu? Nada disso! Não nego, estou muito contente, mas eu fui apenas o fósforo que mostrou o que se passava na escuridão. Depois do pequeno reflexo alguém pegou na centelha e a transformou em chama de luz. Refiro-me obviamente aos serviços da Segurança Social. Aos seus bons técnicos, à sua sensibilidade, à maneira especial como sabem lidar tão profissional e responsavelmente com estas situações. E estou à vontade para o dizer, porque já o escrevi aqui há cerca de um ano, quando fui tratar de um assunto idêntico.
Quantas vezes somos injustos com serviços públicos, porque, generalizadamente, embarcamos no facilitismo de que todos os funcionários públicos são iguais na mediocridade –esquecendo que em todas as profissões há diferenças-, sendo apenas umas peças de mobiliário da repartição e que estão ali apenas para tornar a vida difícil ao utente. Há muita gente “anónima” que se entrega de alma e coração ao que fazem. Na função pública, felizmente, há muitos bons profissionais como o Mário, como a Inês, como a Margarida, como a Filipa, como a Rita (nomes aleatórios), que se envolvem muito, transpiram, sofrem e choram perante a incapacidade de poderem resolver um assunto que os toca no coração, e nos fazem acreditar num mundo mais equitativo, equilibrado e melhor.
Voltando ao Eduardo Costa, poderia ser perfeitamente o início de um conto de Natal. Bolas! Há mesmo gente boa! E não caiamos na prodigalidade de criticar estes apoios de extrema e derradeira solidariedade. Qualquer um de nós, por muito bem que esteja na vida, a qualquer momento, pode resvalar pelo cano abaixo. A nossa existência pode ser comparável ao fio da navalha. A qualquer momento poderemos cair.
Neste momento, creio, o Eduardo está a retomar o ciclo de normalidade que deve assistir a um qualquer de nós. Assim ele tenha forças para continuar em frente e sair das teias da solidão. Para este conto de natal ter um epílogo feliz só falta mesmo ele vir a ser visitado pelo filho ou pelos irmãos. Bem sei que não é fácil. Nestes casos, há muitas feridas abertas, cheias de dores lancinantes, mas, a você que lê este texto, se conhecer algum familiar do Eduardo, transmita-lhe a mensagem de fraternidade e paz. Era tão bom que o Eduardo, neste Natal, fosse abraçado pelo seu filho.
Perdoar, quem nos fez mal, é talvez o mais nobre sentimento que o ser humano pode transmitir ao próximo.
Uma grande salva de palmas para a Segurança Social que, através do apoio material, tornou possível os olhos do Eduardo voltarem a brilhar.

2 comentários:

Anónimo disse...

O elo mais importante nesta história real e com um final feliz foi o amigo Luis, com todo o seu humanismo e solidariedade.

LUIS FERNANDES disse...

Não. Alguém a merecer relevo, são, de facto, os serviços da Segurança Social. Devem constituir um orgulho para todos nós. Diga-se lá o que se disser, sobretudo descontentamento contra este estado Providência, a verdade é que funcionam bem, e, isso, para nós, que não sabemos o futuro, deve-nos dar algum conforto. Escrevo isto com toda a sinceridade.
Obrigado pelo comentário, Jorge.