quinta-feira, 12 de novembro de 2009

CONFUNDIR O CU COM AS CALÇAS





É normal, na discussão que está prestes a começar sobre o casamento homossexual, chamar à colação a perseguição que sempre existiu às pessoas de diferentes inclinações sexuais. Embora haja outras, focarei apenas duas na generalidade, chamemos-lhe, paneleiros, lésbicas, ou pomposamente de estrangeirismo “gays”. Para o caso, pouco importa, é um nome. E um nome pode ser tão ofensivo chamando de “arroz doce” ou simplesmente “merda”. Nada muda a não ser a hipocrisia.
Os argumentos trazidos à discussão começam sempre pela Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948, o artigo 13º da Constituição da República Portuguesa, ou a intolerância, ao longo dos séculos pela Igreja Católica-Romana, através da colocação do “Índex” de todos os “Librorum Prohibitorum” –que aliás, de uma forma a raiar o patológico, continua. Se calhar a Igreja, em vez de tornar extrínseco o seu pensamento, deveria olhar para dentro de si mesma, para os escândalos que tenta abafar a todo o custo.
Continuando a defender o meu ponto de vista, o que terá a lei a ver com a intolerância das pessoas ou das instituições? Ou por outro modo, será a lei plasmada a ferros que as vai obrigar à aceitação do diferente tornando-o igual aos seus olhos? Jamais. A lei pode, no mínimo, deixar um campo aberto à tolerância, mas nunca à aceitação. Sim, porque “tolerar” não é “aceitar”. “Tolerar” é algo extrínseco que, passivamente em apatia, deixamos correr sem interferir. “Aceitar” é quase o oposto, é intrínseco à nossa condição, é um sentimento que vem de dentro para fora e que não precisamos de fazer nenhum esforço para compreender como semelhante aos nossos actos ou à nossa pessoa.
Convenhamos que o problema, quanto a mim, é que se tem tentado, sobretudo ao longo do último século, impor (tolerar) o diferente, como sendo igual, através da lei. Caindo num igualitarismo feroz de graves consequências a todo o nível social. Quando o que se deveria fazer, antes de tudo, seria apostar na educação a partir da escola básica na aceitação do “diferente”. Ensinando a olhá-lo, não como igual, mas sim respeitando as suas diferenças. Igualdade só mesmo no acesso aos direitos fundamentais –claro que aqui caímos facilmente na discussão do artigo 13º constitucional.
Ora o que acontece é exactamente o oposto. A escola não cumpre o seu papel de dirigir os alunos para a civilidade, permitindo todo o tipo de perseguições, de “bullying”, a tudo o que é diferente, quer seja em questões de sexo, cor, ou religião, etc.
E é exactamente este o pressuposto educativo que a comunidade homossexual deveria acerrimamente reivindicar. Mas, pelo contrário, continua a querer impor pela força da lei o que deveria ser naturalmente aceite pela colectividade social.
Ainda quanto à Igreja Católica, e não desvalorizando o que escrevi em cima, esta implicância homofóbica não faz sentido com o casamento homossexual. É anacrónica e descontextualizada. Se, eventualmente, o governo aprovar mesmo o diploma, quantos enlaces se irão fazer nos templos com véu e grinalda? Quem se sujeitará ao ridículo e à chacota social? O que está em causa, verdadeiramente, é o casamento civil com todas as suas prerrogativas jurídicas, e, neste caso, a hierarquia eclesiástica nada tem a ver com o assunto. Deveria olhar apenas para os seus problemas internos. É um assunto estritamente de ordem política.

1 comentário:

Anónimo disse...

Plenamente de acordo consigo , as opções são de cada um, e não passa de um simples acto civil, nada tem haver com a hierarquia eclesiástica, até porque os padres "gays", continuaram a não poder casar que a Igreja não permite.