segunda-feira, 28 de setembro de 2009

E COMO É QUE EU VI O RESULTADO DAS ELEIÇÕES?

(FOTO RETIRADA, COM A DEVIDA VÉNIA, AO BLOGUE "DENÚNCIA COIMBRÃ)





Já se sabe que após o jogo todos adivinhamos os resultados. Como bom português que se preza também eu tenho explicações para tudo. Ou não fosse eu um “expert” na matéria, pelo menos é o que diz a minha filha lá em casa.
Então, nem que seja só para ela ler, vamos lá então discorrer sobre a matéria. Vou começar pelos que venceram nestas eleições.

Naturalmente começo por José Sócrates, que, contra todas as previsões, mesmo perdendo a maioria absoluta, ganhou com folga relativa ao segundo maior partido da oposição, o PSD.
Embora os maiores analistas conceituados afirmem que os debates televisivos, hoje, não têm qualquer influência, tenho para mim, que José Sócrates ganhou estas eleições pela excelente performance nos debates televisivos. De todos, foi o melhor. Teve uma ajuda inesperada, a de Cavaco Silva, pelo mau serviço ao país que o Presidente da República prestou. Apesar de tudo, estou convencido, que, mesmo sem a “tragicomédia de Belém”, José Sócrates teria ganho na mesma as eleições, embora sem os sete pontos percentuais. Face ao descalabro desempenho televisivo de Manuela Ferreira Leite (MFL), os portugueses, maioritariamente, os que votaram no PS, pensaram: “bom, apesar deste tipo ser um bocado arrogante, a fazer-me lembrar o Salazar, pela forma de actuação, pela segurança, pela postura, gosto dele. Tem um ar porreiro, desempenado. O país precisa de um “gajo” como ele. Se assim não for, quem é consegue governar esta gente? Ora, em face do que conhecemos dele, do que sabemos de MFL, da péssima imagem televisiva que esta transmitiu nos debates, mal por mal, prefiro este. Pelo menos, com ele, sei com o que contar”.

Outro dos grandes ganhadores foi Paulo Portas. Para mim, a seguir a José Sócrates, nos debates televisivos, foi o que esteve quase sempre bem. Exceptuando o debate com o primeiro-ministro, esteve sempre à altura. Mostrou sempre saber do que falava com grande segurança, desde a agricultura, passando pelas PME’s, pela segurança interna do País, até à economia em geral, passando pelas Finanças do Estado. Foi o único candidato a levar à discussão a “segurança”, um tema que os outros candidatos dispensaram, mas que os cidadãos, no dia-a-dia, sentem na pele.
Apesar do seu bom desempenho televisivo, estou convencido que apenas ultrapassou os dois dígitos por mero acaso. Ou seja, foi o descontentamento, em forma de cartão vermelho dado ao PS, a decepção de MFL e a arrogância de Francisco Louçã, que lhe deram uma margem considerável. Certamente os eleitores pensaram: “bom, apesar deste tipo ser um demagogo popular, um vendedor de banha da cobra, prefiro dar-lhe o voto. Sempre nos poderá fazer menos-mal que o intelectual-radicalismo de Louçã", que, quer se queira ,quer não, para o povo, o Bloco, traz agarrado a si: o estigma do comunismo. Mesmo apesar de já terem passado mais de três décadas, para os portugueses, os comunistas continuam a comer criancinhas ao pequeno-almoço.
Mas que Paulo Portas não embandeire em arco. Este resultado eleitoral é apenas uma convergência de acasos felizes. Por muito que custe aos eleitores do CDS/PP a base eleitoral que este partido poderá sempre contar será os 8 por cento. Curiosamente, a “direita”, no país, sofre da mesma síndrome repulsiva do comunismo. Daí, penso, mesmo no futuro, só em quadros excepcionais estas pequenas formações políticas descolarão da sua base eleitoral.

Um pequeno ganhador, quanto a mim merecidamente, foi Garcia Pereira, o eterno cabeça-de-lista do PCTP/MRPP. No único debate que se viu entre pequenos partidos, no “Prós e Contras”, este advogado de Lisboa, apesar de estar num partido comunista, soube defender as suas teses sem entrar em chavões recalcados e martelados na mente dos portugueses. Gostei de o ouvir. Pela sua prestação ou não, a verdade é que foi compensado com mais de 52 mil votos. E, assim, tendo ultrapassado a fasquia dos 50 mil, passará receber um a subvenção do Estado que lhe permitirá alcançar e realizar outras ambições político-partidárias.

E QUEM FORAM OS PERDEDORES?

Começo pelo mais inábil: Aníbal Cavaco Silva. Nestas eleições, com a destituição de Fernando Lima em plena campanha eleitoral, perdeu o pouco capital político acumulado que ganhou nestes três anos da sua presidência. Pode começar a arrumar a trouxa para sair de Belém em 2011. Com esta sua acção que ninguém entendeu, perdeu a sua base eleitoral do PSD e do PS. Jamais lhe perdoarão. Com este acto, para alguns portugueses, transformou-se na segunda “persone non grata”. Curiosamente ambos ligados ao PSD. O primeiro foi Durão Barroso e o segundo é Cavaco Silva.

Um dos maiores perdedores foi o PSD. Por culpa flagrante de Manuela Ferreira Leite (MFL). Se Sócrates e Portas ganharam as eleições nos debates televisivos, MFL perdeu-as ali sem apelo nem agravo. Todas as suas prestações foram medíocres. Quem seguiu os frente-a-frente viu bem que, para além de desconhecer as pastas ministeriais, nunca mostrou empolgamento. Não tinha fogo nem convicção. Foi perceptível para o telespectador que aqueles debates para a outrora apelidada dama de ferro portuguesa eram um frete constante. Só lá faltou o seu grito: “TIREM-ME DAQUI!”.
Era bom que, a bem da Nação –para possibilitar um governo PS/PSD-, logo após as autárquicas, MFL se demitisse do maior partido de oposição e fosse de vez cuidar dos netos. Deu bem para ver que está cansada. Dê o seu lugar a Pedro Passos Coelho, Rangel, ou outro que não me ocorra. O país, neste momento em que tanto precisa de um governo de base sustentável para quatro anos, muito lhe agradecerá.

Outro dos grandes perdedores foi Francisco Louçã. Tal como MFL e o PSD, “Francisquinho”, perante o sucesso das eleições Europeias, começou a sonhar acordado. Esqueceu-se que é também um dos partidos de 8 por cento. Quanto a mim, tal como o CDS/PP só descolará deste dígito aquando de convergências ocasionais. Em minha opinião, teve sucessivamente uma má prestação televisiva. Além disso, sendo economista, teimou em defender propostas que sabia serem contra-natura, não exequíveis, tais como as nacionalizações, um ordenado mínimo de 600 euros para 2010, ou mesmo o imposto sobre as grandes fortunas. Esta não passa de uma bandeira “panfleto-demagógica”. Só possível de apresentar por um partido que nunca auspicia ser governo.
Sabe-se que o eleitorado do Bloco de Esquerda é sobretudo urbano e jovem. Se os primeiros sabem o que querem, têm um problema: são intelectuais cheios de utopias, que, em grande maioria, não terão um cabal conhecimento da vida pura e dura. Já os segundos, os jovens, pela idade sem experiência, embarcam no “navio” através de promessas cor-de-rosa. Fruto da sua imaturidade e desconhecimento político, ao subirem para a "embarcação", não questionam as medidas apresentadas. Mas isso é temporário. Esse é o problema do Bloco. É que o seu eleitorado jovem é flutuante, assim que abre os olhos, transfere-se para partidos do centro. Isto é, quanto a mim, para estes jovens, este partido de Louçã, será sempre uma carruagem que se apanhou para chegar a outro destino. Este, verdadeiramente, será o problema do Bloco de Esquerda. E, então, das duas uma, ou o partido se torna mais pragmático, perdendo a sua “intelecto-científico”, baseando as suas propostas numa “anarco-utopia”, assente na filosofia de Trotsky, que ninguém sabe o que é, e, nesse caso poderá pensar em aumentar a sua base de apoio. Ou então nunca passará de um partido fracturante, sempre a bailar entre o PS e o PCP, em que é giro militar, é “bacano, uma “nice”, mas nunca passará disso.

Outros grandes perdedores foram os pequenos partidos. Ao que parece, para além dos cinco maiores, nenhum conseguiu eleger um só deputado. Como já aqui escrevi anteriormente, também por culpa da imprensa escrita e falada que não lhes dá hipótese de mostrarem os seus programas eleitorais, fazendo com que os portugueses tenham o mesmo sentimento que se tem quando vamos ao “Portugal dos pequenitos”. Olha-se com admiração e ternura. Lembra-nos sempre qualquer coisa, mas não passa disso.

E QUEM NEM PERDEU NEM GANHOU?

Apesar de uma razoável prestação televisiva de Jerónimo de Sousa, considero o PCP como o partido da base certa e inamovível dos tais 8 por cento garantidos numa base eleitoral de oitenta anos de história, em que, por incrível que pareça, Álvaro Cunhal –tal como Salazar para a direita, restritivo na autonomia- representa a bandeira da entrega na luta pela liberdade. É uma espécie de fantasma que não queremos na nossa casa, mas, quando pensamos em alguém valente, um lutador de causas perdidas, pensamos nele. Estou convencido que os portugueses, em relação ao PCP, dividem-se, na dicotomia, entre a admiração e o estigma do inconsciente.

(Tenho de pedir desculpa pelo comprimento do texto. Mas como sei que ninguém chegou até aqui, fico mais aliviado)

1 comentário:

Jorge Neves disse...

Na minha opinião,o grande perdedor foi Socrates, todos outros partidos subiram, e na minha opinião mais radical, os anti-socrates do PS votaram no Paulinho Portas( sem duvida o melhor politico- artista do nosso Portugal),pois consideravam o voto inutil e estavam cheios de medo de uma possivel coligação com o bloco de esquerda